Olá!

Primeiro, feliz 2018! Agora, retomando o blog e continuando minha saga de ler em espanhol, claro que sempre que eu puder, lerei Isabel Allende. Mi País Inventado é sua segunda obra que leio na língua nativa e nunca imaginei que riria tanto durante uma leitura. O título em português é "Meu País Inventado", foi publicado aqui pela Bertrand Brasil, e infelizmente está fora de catálogo.
SKOOB - Meu País Inventado é o livro da Isabel que vai falar do Chile enquanto nação e dela enquanto chilena. Lembrando que, depois do golpe militar de 1972, ela se exilou na Venezuela, depois Líbano e assim por diante, até se estabelecer em São Francisco, onde mora até hoje. O fato de que seu padrasto era diplomata ajudou é muito nessas mudanças. O pai era um embuste (além de ser primo do Salvador; eu achava que era irmão) que um belo dia saiu pra compra cigarro e até hoje... DESCUBRA.

Isabel já era feminista muito antes do termo existir e desde sempre quis ser independente, e o fato dos Allende serem machistas a alavancou em seus desejos. Assim como sua família, a autora conta que as famílias chilenas são grandes, uns cuidando dos outros e ninguém de fora cuidando deles.

Com muito bom humor, ela vai relembrar sua juventude, com boas histórias (algumas aumentadas), e vários segredos sendo revelados também, como por exemplo, o que a levou a escrever seu primeiro livro e porque ela sempre começa a escrever seus livros em oito de janeiro - hoje!
Minha pequena coleção dedicada à Isabel Allende.
Essa edição é argentina e faz parte de meu projeto de ler mais em espanhol, para aprimorar meu vocabulário neste idioma. E sinto que estou melhorando, pois consigo entender o contexto sem a necessidade de entender palavra a palavra – só falta melhorar a pronúncia de alguns termos.

O livro foi escrito em 2003 e, muita coisa mudou de lá pra cá, muita coisa que eu nem sequer sabia, como o fato de que Michelle Bachelet, antes de ser presidente duas vezes, foi ministra da Justiça ou que a lei do divórcio só foi promulgada em 2004. Acho que seria bacana se ela pudesse revisitar esse livro e atualizá-lo, para opinar sobre Bachelet, a Lei do Divórcio, seu novo namorado, entre outros temas que abordam o Chile, que é um país um tanto pessimista, segundo a autora.

Inclusive, se um chileno te aborda perguntando se está tudo bem, diga que está “mais ou menos”. Dizer que está tudo bem é uma afronta a autoestima de quem pergunta, confesso que ri. O livro também serve como guia de como proceder quando se está em território chileno. E o conservadorismo do país é tão engraçado... Tipo, ela está contando uma coisa super seria e, do nada, ela joga uma informação engraçada.

Meu país inventado é mais um de seus livros de memórias (junto com Paula e A Soma dos Dias), cheio de verdades e cheio de coisas engraçadas também, como quando conheceu Wiilie, seu segundo marido. A sinceridade dela é um ponto forte na história, porque ela não tem papas na língua na hora de contar sua história. Então, espero que neste oito de janeiro ela se inspire e volte a folhear essa história. Vai que ela deseja atualizar...

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Olá!

Adoro personagens originais e, quando a Ani, do EC&M, me disse que eu poderia pedir um livro referente à parceria dela com a Rocco, me encantei de cara com a sinopse. Por que será que Eleanor Oliphant insiste em dizer que está tudo bem? Resenha originalmente postada no Entre Chocolates e Músicas.

Ah, o blog encerra seus trabalhos de 2017 hoje, voltando apenas em oito de janeiro. Desde já, desejo uma excelente passagem de ano.
SKOOB - Eleanor Oliphant é diferente de tudo que alguém já tenha visto na literatura. Ela tem 30 anos, mora em Glasgow (Escócia), trabalha em um escritório e sempre diz que está tudo bem. Não sente falta de amigos, pois não dá pra sentir falta do que nunca teve. Com respostas para tudo na ponta da língua, ela vai se surpreender quando encontrar o amor de sua vida. Na verdade, ela bate o olho em um certo cantor e decide que ele é sua cara metade.

Porém, ela não contava que, junto com Raymond Gibbons, o novo funcionário da TI, socorreria um idoso que enfartou no meio da rua. Para Eleanor, esse contato é demais, ela está acostumada a estar sozinha. Sua única conversa é com sua mãe, que está presa, sempre às quartas. Conversas essas que nunca acabavam bem. Em seu local de trabalho, era motivo de chacota, seja por suas roupas, seja por suas ações.

Eleanor, então, decide criar todo um projeto cujo objetivo era se aproximar do cantor. Passou a segui-lo nas redes sociais e até encontrou o endereço de sua casa. Mas também se dividia entre seu trabalho e visitar Sammy, o idoso enfartado. Sua vida sempre foi um livro aberto: desde que ganhou a cicatriz no rosto, ela viveu em lares adotivos e orfanatos. Aos 17, foi para a universidade, e aos 21 entrou na empresa na qual trabalha até hoje. Não há lugar para necessidades emocionais.

Quando ela se vê envolvida com Sammy e a sra. Gibbons, mãe de Raymond, Eleanor nota que há algo mais que suas obrigações enquanto funcionária. Havia vida, havia algo que era inalcançável para ela, uma coisa que ela merecia ter, mas se recusava a tentar, pois não se sentia merecedora de nada.

Sua infância foi triste, cheia de dor, medo e tristeza. Ela era só uma criança, mas ficou tão traumatizada que procurava respostas em todos os lugares, mesmo apregoando que estava bem. Mas é claro que nada estava bem. Ter perto de si pessoas como Sammy e Raymond era algo novo, pessoas que se importavam com ela e a agradeciam apenas por estar ali. Era como se ela simplesmente não aceitasse que isso de ter amigos era uma coisa bacana.
Conhecer Gail Honeyman e sua Eleanor Oliphant me foi uma grata surpresa. O livro aborda um tema que, infelizmente, ainda hoje é um tabu pra muita gente: a depressão. É uma doença silenciosa e que nos destrói pouco a pouco. No caso de nossa protagonista então, foi uma experiência cruel: depois de uma infância traumática, quis procurar no cantor aquilo que ninguém nunca lhe deu, depois do agravante de ter se envolvido com um namorado que lhe agredia sistematicamente. E essa busca incessante só fez mal a ela.

Com uma escrita envolvente e um tanto engraçada, Gail mostra como é importante estarmos cerca de quem nos quer bem e também eliminar o que nos é nocivo. E que não há nada de errado em pedir ajuda. Mesmo com algumas ações que achei um pouco idiotas por parte de Eleanor (como assim você não quer levar a bandeja depois de comer no McDonalds?), é uma pessoa maravilhosa, que te faz rir e, quando você descobre o que aconteceu com ela, sua vontade é de entrar no livro e lhe dar um grande abraço – mesmo que ela não saiba como reagir numa situação dessas.

A principio, os fósforos queimados na capa do livro não querem dizer muita coisa, mas quanto mais entramos no passado de Eleanor, mais entendemos a mensagem que a capa nos transmite. Ela é sistemática até para tomar vodca, mas isso também é um indicativo de que algo está errado. Rotina de mais faz mal e álcool não é válvula de escape para nada.

Agradeço, como sempre, à Ana, que conseguiu pra mim um exemplar desse livro lindo, que com muito bom humor e sinceridade, nos mostra como é importante ter alguém para chamar de amigo e que depressão é doença sim – e que não há nada de errado em procurar ajuda médica. A história se passa em Glasgow e gosto quando os livros saem da rota EUA-Londres-Paris. Eleanor Oliphant Está Muito Bem é o livro que todo mundo precisa ler, pois todo mundo terá algo para se identificar com ela.

p.s.: a mãe da Eleanor é uma escrota.

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Olá!

Depois de ler a sequência da série Millennium (!), era hora de entender de onde veio o talento de David Lagercrantz para a literatura policial e porque os herdeiros de Stieg Larsson o escolheram para continuar a única série possível. A Cia. das Letras não perdeu tempo e publicou um dos primeiros livros do autor.
SKOOB - A Morte e a Vida de Alan Turing vai começar relatando a morte (o suposto suicídio) do famoso matemático inglês, cuja participação foi essencial na vitória da Inglaterra sobre a Alemanha nazista, nos anos 50. Ele morava em Wilimslow, próximo de Manchester, Inglaterra. E no dia seguinte à morte de Turing, o detetive Leonard Corell é designado a ir até a casa da vítima para buscar informações do caso. 

Alan era homossexual e, na época, era muito mal visto. Mesmo sendo genial em seu trabalho, o fato de ser gay o fazia ser mal visto perante a sociedade – inclusive era crime naquele tempo. Quando o detetive vê o que Turing deixou – uma maçã banhada em veneno – ele colocou em xeque a versão oficial – a de suicídio. Aliás, junto da maçã, alguns objetos que, à primeira vista, não diziam muita coisa.

Leonard Corell era um sujeito singular. Cheio de monstros perturbando sua mente, teve uma infância complicada, sendo obrigado a estudar numa escola que não queria e ter que suportar uma mãe que ficou distante após a ausência do pai. Acha seu trabalho de policial algo indigno dele e de seu sobrenome, se achando superior a tudo e todos, mas ao mesmo tempo sofrendo com uma tremenda timidez, que o faz agir de maneira impulsiva às vezes. As coisas que Leonard encontra na cena da morte fazem com que ele repense sua vida, seus conceitos, até mesmo sua auto-estima. E acaba por iniciar uma investigação profunda sobre o caso, fazendo-o mergulhar na morte e na vida de um dos mais importantes matemáticos de nosso tempo. 

Foi uma boa leitura, pude conhecer melhor a escrita de David, aliás, pude conhecer a escrita dele em algo original. Deu pra entender melhor de onde ele tirou tantos conhecimentos matemáticos e físicos para escrever a sequência da série Millennium. Cheio de detalhes, o livro permeia não só a vida de Turing, mas também a sociedade daquela época, preconceituosa e preocupada com o avanço do nazismo no pais. 
A máquina de Turing – precursora dos computadores que conhecemos hoje – foi um aparelho vital para a vitória dos britânicos. Com muitos fios e conexões, foi possível decodificar as mensagens dos alemães, é assim salvar muitas vidas. O livro também conta como ele era um sujeito tão singular quanto Corell. Sabia de seus “defeitos”, mas não fazia nada para “melhorar”. Pelo contrário, vivia um dia de cada vez, sempre pensando logicamente. Para ele, tudo era lógico, literal. Ou era ou não era, e isso foi seu diferencial – e sua perdição. 

O legal deste livro foi a forma como o autor transitou entre o real e o imaginário. Sendo o protagonista alguém tão importante, claro que a história deve ser contada com o máximo de precisão, sem nem mentir nas informações verídicas nem fantasiar demais a ponto de virar algo irreal. E é nisso que David acerta, ao inserir pitadas de ficção numa trama real – ou seria o contrário? 

Logicamente que estava com altas expectativas em relação a esta leitura, claro, o autor foi escolhido só para dar sequência à minha série favorita. E muito do que vi nos livros que ele escreveu (os da série), tem como base – nem que seja base física e matemática – este livro e todas as pesquisas que foram necessárias para a construção dessa trama. A única coisa negativa é que, dado meu baixo – pífio – conhecimento em matemática e física, infelizmente não pude visualizar todas as estratégias e processos com perfeição, mas pude ver as partes mais humanas, onde tanto Corell quanto Turing mostram quem realmente são.

P.S.: ainda não me esqueci que David deve uma visita aos leitores brasileiros, rs.

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Olá!

Cumprindo o último tópico do Desafio 12 Meses Literários, cujos tópicos estão na imagem disponível na sidebar, eu deveria ler uma adaptação literária. Não costumo ler os livros depois de ter visto os filmes, salvo raras exceções. E no fim do ano passado, comprei Spotlight, mas, por ocasião do meu TCC, posterguei a leitura. Até hoje.
SKOOB - Spotlight - Segredos Revelados é mais que um livro, é um documentário que mostra o quão passiva e acobertadora foi a Igreja Católica ao longo dos anos, quando optou por esconder os muitos padres abusadores sexuais de menores. Isso mesmo, a Igreja escondeu por décadas muitos sacerdotes que, com a certeza da impunidade e, usando roupas e hábitos religiosos, violentaram muitas crianças, meninos, em sua imensa maioria.

A história teve sua origem na Arquidiocese de Boston, região em que se concentra o maior número de católicos dos EUA - mais de três milhões, números de 2015, data desta edição, atualizada em virtude do filme, lançado no ano seguinte e vencedor de dois Oscar, nas categorias "Melhor Filme" e "Melhor Roteiro Original". Em suma, cada vez que uma denúncia de um padre abusador surgia, ele apenas era mudado de diocese - saía de uma igreja para outra. Em alguns casos, eram internados em clínicas e, com o aval de médicos, voltavam ao trabalho episcopal, supostamente "curados".

Não vou me ater aos detalhes de quando começou tampouco citar nomes, porque são tantos nomes que o leitor só não se perde porque alguns se destacam mais que outros - estes são verdadeiros predadores sexuais - mas sim contar como o trabalho dos jornalistas e editores do Boston Globe (o periódico responsável por trazer à luz essa atrocidade) em juntar muitos detalhes de um grande quebra-cabeça, contendo muitas entrevistas, documentos e, claro, provas confidenciais.

Inclusive, podemos ver como o papel do Vaticano foi crucial nisso, ao passar pano nos cardeais que passavam pano para os pedófilos. E como a religião, quando misturada aos órgãos estatais, pode resultar num desastre, já que, houve um certo choque de interesses por parte de algumas autoridades policiais na hora de tomar as medidas cabíveis contra os acusados - quem ousaria dar voz de prisão a um sacerdote? Inclusive, o Papa João Paulo II, a quem eu estimava, dada sua importância, me decepcionou quando decidiu cuidar dos seus, em detrimento do sofrimento das vítimas.
O Cardeal Law teve um papel crucial no acobertamento, tendo em vista que ele era um dos cabeças da Igreja Católica nos EUA. De Boston, garantiu uma cadeira direto no Vaticano.
Aliás, o livro nos mostra o que acontece quando a vítima é abusada por alguém que sua família tem em alta conta (aqui, no caso, é um padre, mas pode ser um tio, um amigo, ou até mesmo o próprio pai, por exemplo). Muitos se aproveitavam do fato de que as crianças vinham de famílias disfuncionais e/ou pobres e, após conquistas a confiança dos pais, atacavam. Como os abusos datam dos anos 50, para nós pode parecer estranho, mas naquele tempo era super normal um padre levar as crianças para tomar sorvete ou nadar em piscinas públicas.

Para os jornalistas de hoje, o escândalo da Arquidiocese de Boston (o livro tem esse nome devido à equipe responsável pelas investigações, chamada de Spotlight) é o novo Watergate. Logo, para os estudantes de jornalismo, faz-se essencial a leitura do mesmo (ou pelo menos ver o filme) para que se compreenda o papel do profissional e da imprensa numa sociedade que vive sob um regime democrático. Sem a insistência deles (e a coragem das vítimas em se abrir) nunca saberíamos desse caso e, naturalmente, até hoje os sacerdotes desta e de outras cidades estariam cometendo seus crimes.

Termino dizendo que, infelizmente, ainda falta muito para que todos os religiosos paguem por seus crimes (se é que algum dia vão pagar, já que muitos até morreram) e também falta muito para que o Estado se dissocie por inteiro da Igreja, pelo menos no lado de cá do globo. Porém, o livro ressalta a importância da população leiga (os católicos que frequentam a igreja) em querer que a Igreja mude, principalmente nos pontos delicados, como a ordenação de mulheres e gays e o fim do celibato. Sabemos que é um trabalho difícil, mas se tivermos do lado certo, toda luta é válida.

Pela primeira vez participo de um desafio literário e fiquei feliz com o resultado, pois cumpri onze dos desafios propostos. Que venha o próximo ano com mais desafios!

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