Olá!

O livro é recente, mas dada sua importância e relevância, faz-se necessário ler e compreender sua mensagem. Portanto passei a virada do ano ao lado de Margaret Atwood e sua masterpiece (acho), O Conto da Aia.
SKOOB - O Conto da Aia conta a história de uma república no século XXI, mas bem à frente do nosso tempo e quem a narra é a Offred. Ela é uma aia, cuja única função é engravidar. Houve uma revolução e o que eram os Estados Unidos agora são repúblicas independentes. Offred mora na república de Gilead. A revolução foi teocrática então tudo é feito de acordo com os preceitos bíblicos. Offred foi arrancada da sua vida e tudo que tinha antes lhe foi tomado e agora sua função é só gerar filhos. Para os outros.

Houve muitas guerras nucleares ao longo do século, resultando na morte de muita gente, então quando os religiosos tomaram o poder (seja eles de qual religião for) as aias foram a solução encontrada para poder retomar o controle de natalidade ao considerado normal, porque além de muitos soldados terem morrido, muitas mulheres ficaram estéreis por causa dos efeitos das bombas nucleares. Elas pariam desde bebês saudáveis a coisas bizarras.

Então as mulheres - do ponto de vista bíblico - impuras, como as lésbicas, as adúlteras, as que vivem na condição de amantes, etc., são candidatas a se converter a aias, desde que sejam férteis. As que não eram iam para as colônias e, no prazo de três anos, acabavam morrendo por causa da forte exposição à radiação já que ficavam lá trabalhando forçadamente.

Já as mulheres da elite são as Esposas, as empregadas são as Marthas e as pobres são Econoesposas. As Tias são responsáveis por doutrinar as Aias. Sendo assim, os Comandantes é quem mandam – apesar de não sabermos o que eles comandam. Como em toda ditadura, todos temem ser traídos, e com Offred não é diferente. Por ser mulher, seus castigos são piores. Ela tem bastante tempo livre, já que, como sabemos, sua única função é engravidar. Então aproveita pra nos contar como é a vida em Gilead.

Diferente das distopias que estamos acostumados, Offred ficará passiva durante toda a trama, apenas relatando seus pensamentos e atos. Seu nome verdadeiro não é revelado e podemos ver como era sua vida antes da revolução. Aliás, ela perde tudo: sua conta bancária, sua família (marido e filha) e até mesmo seu nome. Offred significa que ela pertence a alguém chamado Fred: Of ("de", portanto Do Fred).
O mais surpreendente dessa obra é que é muito atual. Foi escrita em 1985 e de lá pra cá nada mudou. É verdade que não vivemos numa ditadura, mas o fundamentalismo está mais forte, assim como o conservadorismo e outros pensamentos retrógrados que estão voltando à baila. Porém, o que talvez explique o sucesso da obra – a ponto de virar série de TV – é que todos esses assuntos – além dos consagrados machismo, sexismo e relação Estado-Igreja – estão sendo discutidos. As mesas de bar deram lugar às redes sociais, e todo mundo tem acesso a isso.

A narração é em primeira pessoa, e graças as descrições de Atwood, podemos ver com clareza os mecanismos de Gilead para manter tudo em ordem, através de seus Olhos (os soldados que prendem os que agem “fora da lei”) e seus Anjos (os que vão para a guerra). Aliás, acerca do texto, tem muitas vírgulas, um festival delas. Por um lado, isso me incomodou, cheguei a achar que fosse erro de tradução, mas por outro, penso que elas estão ali para causar algumas sensações no leitor, deixá-lo no suspense ou fazê-lo refletir.

Postei essa imagem no Twitter (minha conta pessoal, mas podem seguir, rs) pra dizer que os versículos eram um negócio bizarro, nem tinha certeza de que o livro bíblico citado estava escrito errado. Ainda assim a editora me respondeu, agradecendo por ter postado. O que mostra que assim como há bocas de porco, há editoras sérias.

No mais, apesar do final meio que aberto, não vejo outro modo de encerrar a história. Tudo faz sentido e precisamos de mais livros assim, que nos faça refletir. E mais importante, que sejam escritos por mulheres, para que nos representem e nos deem voz. E a Rocco me disse, um tweet depois desse que está acima, que em 2018 teremos mais três lançamentos de Atwood! Já quero (e com esse projeto gráfico, rs).
"Nolite te bastardes carborundorum."
"Mas lembre-se que o perdão também é um poder. Suplicar por ele é um poder, e recusá-lo ou concedê-lo é um poder, talvez de todos o maior."
"Um rato em um labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que permaneça dentro do labirinto."

Compre aqui seu exemplar de O Conto da Aia.

Olá!

Adoro personagens originais e, quando a Ani, do EC&M, me disse que eu poderia pedir um livro referente à parceria dela com a Rocco, me encantei de cara com a sinopse. Por que será que Eleanor Oliphant insiste em dizer que está tudo bem? Resenha originalmente postada no Entre Chocolates e Músicas.

Ah, o blog encerra seus trabalhos de 2017 hoje, voltando apenas em oito de janeiro. Desde já, desejo uma excelente passagem de ano.
SKOOB - Eleanor Oliphant é diferente de tudo que alguém já tenha visto na literatura. Ela tem 30 anos, mora em Glasgow (Escócia), trabalha em um escritório e sempre diz que está tudo bem. Não sente falta de amigos, pois não dá pra sentir falta do que nunca teve. Com respostas para tudo na ponta da língua, ela vai se surpreender quando encontrar o amor de sua vida. Na verdade, ela bate o olho em um certo cantor e decide que ele é sua cara metade.

Porém, ela não contava que, junto com Raymond Gibbons, o novo funcionário da TI, socorreria um idoso que enfartou no meio da rua. Para Eleanor, esse contato é demais, ela está acostumada a estar sozinha. Sua única conversa é com sua mãe, que está presa, sempre às quartas. Conversas essas que nunca acabavam bem. Em seu local de trabalho, era motivo de chacota, seja por suas roupas, seja por suas ações.

Eleanor, então, decide criar todo um projeto cujo objetivo era se aproximar do cantor. Passou a segui-lo nas redes sociais e até encontrou o endereço de sua casa. Mas também se dividia entre seu trabalho e visitar Sammy, o idoso enfartado. Sua vida sempre foi um livro aberto: desde que ganhou a cicatriz no rosto, ela viveu em lares adotivos e orfanatos. Aos 17, foi para a universidade, e aos 21 entrou na empresa na qual trabalha até hoje. Não há lugar para necessidades emocionais.

Quando ela se vê envolvida com Sammy e a sra. Gibbons, mãe de Raymond, Eleanor nota que há algo mais que suas obrigações enquanto funcionária. Havia vida, havia algo que era inalcançável para ela, uma coisa que ela merecia ter, mas se recusava a tentar, pois não se sentia merecedora de nada.

Sua infância foi triste, cheia de dor, medo e tristeza. Ela era só uma criança, mas ficou tão traumatizada que procurava respostas em todos os lugares, mesmo apregoando que estava bem. Mas é claro que nada estava bem. Ter perto de si pessoas como Sammy e Raymond era algo novo, pessoas que se importavam com ela e a agradeciam apenas por estar ali. Era como se ela simplesmente não aceitasse que isso de ter amigos era uma coisa bacana.
Conhecer Gail Honeyman e sua Eleanor Oliphant me foi uma grata surpresa. O livro aborda um tema que, infelizmente, ainda hoje é um tabu pra muita gente: a depressão. É uma doença silenciosa e que nos destrói pouco a pouco. No caso de nossa protagonista então, foi uma experiência cruel: depois de uma infância traumática, quis procurar no cantor aquilo que ninguém nunca lhe deu, depois do agravante de ter se envolvido com um namorado que lhe agredia sistematicamente. E essa busca incessante só fez mal a ela.

Com uma escrita envolvente e um tanto engraçada, Gail mostra como é importante estarmos cerca de quem nos quer bem e também eliminar o que nos é nocivo. E que não há nada de errado em pedir ajuda. Mesmo com algumas ações que achei um pouco idiotas por parte de Eleanor (como assim você não quer levar a bandeja depois de comer no McDonalds?), é uma pessoa maravilhosa, que te faz rir e, quando você descobre o que aconteceu com ela, sua vontade é de entrar no livro e lhe dar um grande abraço – mesmo que ela não saiba como reagir numa situação dessas.

A principio, os fósforos queimados na capa do livro não querem dizer muita coisa, mas quanto mais entramos no passado de Eleanor, mais entendemos a mensagem que a capa nos transmite. Ela é sistemática até para tomar vodca, mas isso também é um indicativo de que algo está errado. Rotina de mais faz mal e álcool não é válvula de escape para nada.

Agradeço, como sempre, à Ana, que conseguiu pra mim um exemplar desse livro lindo, que com muito bom humor e sinceridade, nos mostra como é importante ter alguém para chamar de amigo e que depressão é doença sim – e que não há nada de errado em procurar ajuda médica. A história se passa em Glasgow e gosto quando os livros saem da rota EUA-Londres-Paris. Eleanor Oliphant Está Muito Bem é o livro que todo mundo precisa ler, pois todo mundo terá algo para se identificar com ela.

p.s.: a mãe da Eleanor é uma escrota.

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Olá!

Muito gentilmente, a Ani, do EC&M, me emprestou seu exemplar de Virgem para leitura e resenha. E fazia tempo que eu não ria tanto com um livro. Vem conferir do que se trata o romance de estreia de Radhika Sanghani.
SKOOB - Virgem conta a história de Ellis Kolstakis, uma jovem de 21 anos que está doida para perder a virgindade. Faltam quatro meses para ela terminar a graduação em Literatura Inglesa e transar virou uma questão de honra. Ela vai contar com sua amiga Lara, que tem uma vida sexual ativa, para que a ajude com esse "dilema".

Numa festa, ela conhece Jack, que está quieto no canto, enquanto Lara estava conhecendo um menino, deixando Ellie na condição de procurar companhia. Eles emendam uma conversa meio esquisita, mas acaba surgindo uma amizade bacana, que vai fortalecendo com o passar do tempo. E Ellie, claramente, escolhe Jack para ser o primeiro.

Mas nem tudo são flores. Sua mãe, como toda boa grega (os Kolstakis são da Grécia) quer que a filha saia com o filho de uma amiga, e claro que não vai rolar. Entre suas tentativas de perder a virgindade e resolver alguns problemas de amizade (sem falar na entrega do trabalho final), nossa protagonista vai criar um vlog, com o intuito de falar sobre sexo, vaginas e virgindade.
Virgem não é de todo ruim, porém tem algumas partes em que a autora faz um desserviço à saúde e à informação. Tipo, numa conversas de Ellie com Paul (o filho da amiga da mãe), ele diz que ela não deve usar camisinha. QUE CLASSE DE CONSELHO É ESSE?????? Estamos em 2017!! Nessa cena em questão, ela está louca de vontade de fazer sexo oral no Jack, e aí o amigo solta essa pérola. Eu TINHA que falar isso de cara, a sociedade está conservadora demais, inclusive os jovens. Um livro assim não pode falar uma coisa dessas.

Sim, pode ser considerado até spoiler, mas num país em que muitas garotas ainda acreditam que se lavar a vagina com vinagre após o sexo evita gravidez, esse tipo de mensagem não pode ser transmitida assim, sem esclarecimentos. Claro que a história não é brasileira, mas quem garante que garotas inglesas não tenham pensamentos parecidos com esse que usei de exemplo?

Bem, mesmo sendo um desserviço, o livro tem sim suas partes importantes, em que mostra que devemos sentir-nos seguras e resolvidas com nossos corpos. E claro que tem as partes engraçadas, sério, tive que segurar a boca pra me conter - Virgem não é o tipo de livro que deve ser lido no metrô, mas tudo bem, o país ainda é livre. Ellie é muito legal e autêntica, e apesar de seus medos e receios, ela dá a cara a tapa para tentar sua sorte.

Jack é um amor! Ele fala de política, mas escreve textos cômicos e satíricos, o que é muito legal. Apesar de sumir e aparecer por longos períodos, ele é sincero e legal e se preocupa com Ellie, o que achei muito importante. Lara é amiga de infância de Ellie e é super legal, mesmo sendo o oposto de Ellie no quesito "vida sexual". Emma também será amiga da protagonista e é muito, mas muito mais legal que todos, disparado.
E como me identifiquei com Ellie em vários aspectos, acho válido dizer que me vi em vários momentos da obra, em que a personagem se mostra insegura com seu corpo, sua aparência e como ela se sobressaiu quanto à isso. A trama se passa em Londres (cidade natal da autora) e tem uma linguagem bem jovem, antenada com nosso tempo. E vale citar que o vlog sobre vaginas, virgindade e afins teve boa aceitação pelo público, mostrando como se faz necessário esse tipo de canal, pois as dúvidas sobre sexo entre o público feminino é muito grande, sem falar no fato de que ainda é um tabu falar sobre esses temas...

Recomendo a leitura sim, apesar do detalhe sobre o desserviço, isso não tira a relevância da obra, pelo contrário, com todas as dicas que a personagem dá através de seu vlog, dá dicas sobre sexo, vagina, tipos de depilação... tudo com muito bom humor (é escrito em primeira pessoa), mas sem deixar de ser sério nem ter estereótipos - pra mim, nesse ponto, Radhika acertou em cheio.

Enfim, leiam obra para rir, se emocionar, concordar/discordar da Ellie e acompanhar sua jornada em busca de um pênis para romper seu hímen - e conhecer suas experiências bizarras acerca de suas tentativas de sexo.


Olá!

A Ani, do Entre Chocolates e Músicas, conseguiu para mim, junto à sua parceria com a Rocco, um exemplar de Vulgo Grace. Até então, só conhecia Margaret Atwood da mídia. Agora virei fã e quero tudo dela. Resenha originalmente postada no EC&M.
SKOOB - Baseado numa história real, Atwood nos leva ao Canadá do século XIX, exatamente no ano de 1843, quando Grace Marks, uma empregada doméstica de 16 anos, é acusada de matar seu patrão, Thomas Kinnear, e a governanta (e amante) dele Nancy Montgomery, em cumplicidade com James McDermott, um suposto amante, que também trabalhava na casa. Com o furor sensacionalista de então, a mídia (tipo Datena e Sonia Abrão) deu seu veredicto, assim como o juiz, declarando Grace culpada e sentenciando-a à pena de morte.

Mas, alguns pauzinhos foram mexidos e a pena de Grace foi revertida para prisão perpétua. Justamente a parte que mais interessava a todos simplesmente sumiu. Todos queriam saber como foi o duplo homicídio, mas Grace alegou que tinha se esquecido de tudo. Porém, a mente de Grace era muito mais complexa do que se imaginava e os anos seguintes da jovem foram divididos entre a penitenciária e o manicômio, onde era subjugada de todas as formas possíveis.

Até que aparece o dr. Simon Jordan, um jovem norte-americano, bem-nascido, estudioso da mente humana, mas não um médico e sim um psicólogo. Após andanças por parte da Europa, ele se interessa pelo caso de Grace, único até então e resolve incluí-la em seus estudos. Ele também desejava abrir uma clínica psiquiátrica em sua cidade natal.

E com o dr. Jordan, vamos mergulhar na mente de Grace, em que ela contará sua vida desde o início, que começou lá no Norte da Irlanda, passando pelas casas aonde trabalhou como criada e até chegar na residência do sr. Kinnear, onde sua vida tomaria um rumo impensável. E não podemos nos esquecer de Mary Whitney, personagem muito importante da trama.
Até então, eu só conhecia Margaret Atwood por causa de O Conto da Aia (que desejo muito ler). Vulgo Grace me foi uma grata surpresa. Saber que isso realmente aconteceu dá um ar muito mais margem para discussão, apesar de o desfecho surpreender ao leitor – será que ela realmente matou o casal Kinnear-Montgomery?

Ao mesmo tempo que você ou ama ou odeia a jovem, podemos ver também como era o Canadá naquele tempo, totalmente diferente da nação que conhecemos hoje. O leitor atual dirá que era um país retrógrado, com ideias machistas e misóginas, onde as crianças são postas para trabalhar desde muito cedo e Grace, com apenas 16 anos, já é uma mulher com muita história pra contar. Graças às descrições impecáveis de Margaret, vemos com perfeição como era a moda e costumes naquela época – e, naquele tempo, era importante falar de moda porque era ela quem pontuava quem era da alta e da baixa classe.

Se o leitor de hoje for jovem, ele pode se incomodar um pouco com o português extremamente culto usado na tradução. Ora, está se contando uma história que aconteceu há mais de dois séculos, a linguagem também sofreu influência nesse tempo. Eu, particularmente, não me incomodei, mas como eu andei numa semana problemática (inferno astral?), admito que isso me deu um pouco de sono.

Vulgo Grace deve ser lido com atenção redobrada, pois temos dois pontos de vista que se alternam sempre, sem aviso prévio. A história de Grace é contada em primeira pessoa, por ela mesma, mostrando como é um ponto de vista de uma criada (nada muito diferente de hoje, mas com pré-conceitos bem mais estabelecidos), o modo como ela conta sua história é feita sem floreios, sempre indagando diversos conceitos (geralmente machista/misógino) da época (que, vejam só, ainda existem em pleno 2017, quase 18!).

Já o ponto de vista do dr. Jordan é contado em terceira pessoa, mas também mostrando os receios e pensamentos dele. Gente como a gente, ele acabará se encantando pela nossa protagonista. Vale ressaltar também que ele é uma pessoa muito boa para com Grace, um dos poucos que não fez chacota dela nem a via como um monstro enviado diretamente pelo demônio para atiçar a vida das vítimas. E nem a maltratou, o que, pra mim, foi crucial para gostar dele.

Por fim, recomendo a obra muito satisfeita com o que li sobre Margaret Atwood, uma autora que está na estrada há muito tempo, mas só agora está recebendo sua cota de mainstream, com obras que, mesmo sendo escritas anos atrás (Vulgo Grace foi escrito em 1991), têm questionamentos que estão com força total e se encaixam perfeitamente no contexto de 2017.

P.S.: já assisti à série da Netflix e recomendo, muito bem feita, tudo bem ambientado e fiel ao livro, até mesmo as falas são idênticas. Isso se deve, talvez, pela supervisão de Margaret, que acompanhou de perto a produção. Na série, Grace é interpretada magistralmente pela atriz Sarah Gadon (A Nona Vida de Louis Drax; A Jovem Rainha).

“Se todos nós fôssemos julgados por nossos pensamentos, seríamos todos enforcados.”
“Uma prisão não apenas tranca os detidos dentro dela, como mantém fora todos os demais. Sua prisão mais forte é ela quem constrói.”
“Homens como ele não têm que limpar a sujeira que fazem, mas nós temos que limpar nossa própria sujeira e mais as deles. Nesse aspecto, são como crianças, não têm que se planejar ou se preocupar com as consequências do que fazem. Mas não é culpa deles, é como foram criados.”
“[...] e quando você é encontrada com um homem no quarto, você é culpada, não importa como ele tenha entrado.”


 

Olá!

Diferente do Sob a Luz dos Seus Olhos, Sob um Milhão de Estrelas me encantou e me fez querer ser amiga da Alma, linda, maravilhosa e gente como a gente! É o segundo livro da Chris Melo que leio e estou cada vez mais encantada com sua escrita.
Resenha anterior: Sob a Luz dos Seus Olhos

SKOOB - Com alguns detalhes do livro anterior (são pequenos spoilers, mas caso você não consiga ler o anterior, não terá problemas em ler este), vamos conhecer Alma Abreu, uma jovem médica que, ao receber uma herança de uma avó até então desconhecida, ela deixa São Paulo rumo à cidade interiorana de Serra de Santa Cecília (que é fictícia). Ela vai precisar passar três dias na cidade para resolver burocracias acerca da casa, o bem que lhe foi deixado de herança.

Quem está cuidando da tal casa é Cadu, que apareceu no livro anterior e, até antes de eu ter lido este livro, não o julgava merecedor de ter uma história só para si, pelos motivos ditos na resenha anterior, cujo link está abaixo da foto, rs. Porém, o tempo fez bem a ele. Depois de sofrer uma decepção amorosa, ele deixa tudo em São Paulo e resolve aceitar um emprego como professor na universidade local, além de ter comprado um bar com o dinheiro da venda de seu apartamento.

De um jeito meio inesperado, Alma e Cadu se conhecerão e, ao mesmo tempo que o sentimento nasce, as dúvidas surgem. Cadu ainda não esqueceu seu amor de antes, o noivado de Alma foi por água abaixo depois que uma certa jovem veio a falecer. Ah, faltou dizer que, por causa dessa morte, Al - como é carinhosamente chamada por ele - postergou seu plano de começar sua especialização em cirurgia.

Na pequena cidade, Al vai descobrir uma certa irmandade feminina. As integrantes se conhecem desde sempre, pois suas mães, avós e assim por diante eram amigas, então, essas mulheres já nascem com suas amizades definidas. O grupo é pequeno, porém muito legal, sendo Claudinha (que fala demais e não sabe cozinhar), Patricia (boca suja e prima de Alma), Raquel (muito discreta) e Lucia (ou Luciana? não sei, cada hora ela era chamada de um nome). Pra mim, a mais legal, disparada, é a Paty.

Com muitos gostos em comum, incluindo a paixão e uma certa homenagem a Mario Quintana, Alma e Cadu vão descobrir que o amor não é só algo físico, mas é um sentimento que transcende qualquer plano e foge à compreensão de nós, reles seres. Sob Um Milhão de Estrelas foi a obra mais sensível que li até o momento.

Diferente de Elisa, de Sob a Luz dos Seus Olhos, que achei meio fria, Alma é totalmente o oposto! Ela é, segundo Cadu, o exemplo de mulher comum, gente como a gente, mas que sabe seduzir e é aquilo que mostra, mesmo se escondendo numa grossa camada de dor e sofrimento. Me identifiquei imediatamente com ela! É médica, então procura uma resposta exata para cada problema na sua vida, mesmo aqueles que lhe são impossíveis.
"Querida Kamila, desejo que se ilumine sob a luz das minhas humildes palavras. Beijos,"
E o Cadu, que homem! Calou minha boca. Apesar de ter sido um imbecil no livro anterior, aqui ele mostra seu verdadeiro eu: um homem sensível, delicado, gosta de ler (!!!) e usa seu vasto vocabulário com bom humor. Gostei. Como disse lá em cima, ele tenta esquecer seu antigo amor, mas, assim que vê Alma, parece que sua vida toma um novo rumo, como se aquela mulher que ele via desfilar de regata e calcinha na janela azul da casa da frente fosse "a porta que salvou a Rose do Titanic".

Agora sim posso dizer que a história da Chris me convenceu. Devorei as 319 páginas em dois dias, o que é ótimo, porque a leitura fluiu muito bem. Visitar o passado de Alma junto com ela, enquanto tenta entender o que aconteceu entre seus pais e o que levou sua mãe a criá-la sozinha, sua relação com sua avó, seus sentimentos por Cadu, o ex-noivo que prefere ver o capeta a vê-la, a jovem falecida... enfim, foi como se eu estivesse ao lado de Al nessa jornada, torcendo para que ela não se machucasse nem se iludisse.

Cada capítulo começa com uma frase de Mario Quintana, que, pelo visto, a autora é muito fã, já que pesquisar cada frase de seu vasto repertório para selecionar a que mais combinava com cada capítulo deve ser realmente um trabalho e tanto. Aliás, Quintana está muito presente na vida de ambos, cada um com sua particularidade. 

A edição da Fábrica 231 está impecável, a capa condizente com a trama (mesmo eu tendo demorado pra entender a lógica da capa) e devorei esse livro em dois dias, como já disse, mas é porque o livro é muito bom e você só vai descansar quando terminar de ler! Mais recomendado que isso, impossível.



Olá!

A Ani, do Entre Chocolates e Músicas, tem parceria com a Rocco e me cedeu gentilmente um exemplar de Marlena, primeiro romance da norte-americana Julie Buntin, em que duas personagens que se tornam amigas, mas de uma maneira bem obsessiva. Resenha original no EC&M.
SKOOB - Marlena é um relato autobiográfico da autora, que não é Marlena, mas Cat, uma jovem de 15 anos que acaba de se mudar para Silver Lake, uma cidade interiorana localizada no "polegar" do estado americano de Michigan, com sua mãe e seu irmão depois que foram abandonados pelo pai (que quis ficar com uma mulher muito mais nova).

Cat é uma menina ainda, estudava em escola particular, tinha uma melhor amiga, faziam coisas de adolescente burguesa, etc, até que sua vida mudou da água pro vinho. E conheceu Marlena, que tinha 17 e bebia, fumava, pintava e bordava. Uma vida que, logo de cara, impressionou nossa protagonista.

Marlena tinha vários "amigos", aqueles que só sugavam, quando estavam nas boas. Ela tinha um irmão pequeno, Sal, e seu pai era um traficante. Sua mãe sumira há alguns anos. Bolt, amigo do pai de Marlena, vivia rondando-a. Cat, que estava de saco cheio de ser a boazinha, resolveu ser amiga da jovem, mal sabendo ela que sua vida daria uma reviravolta. Drogas, álcool, problemas na escola foram as novas pautas na vida de Cat.

Tudo ia super bem, até que uma morre (eu até diria quem morreu, já que isso está na terceira página, mas mantenhamos o suspense). E a que fica viva se martiriza com a perda. Então, o livro, contado na primeira pessoa, vai oscilar entre Michigan e Nova York, que é onde a sobrevivente mora atualmente, casada, mas volta e meia caindo no vício.

A história de Marlena é mais comum do que imaginamos. Não que elas não estejam nas famílias ricas, mas é na periferia que meninas como ela (e como Cat também) se perdem nos vícios, nas ilusões, no abandono, seja da família ou do estado. Enquanto eu lia, ia me lembrando de várias coisas que vivi enquanto tinha menos de 15 anos e estudava na escola do bairro (depois me transferi para uma escola técnica estadual e tive um ensino melhor).
O livro em si é bem interessante, porém, senti que faltou algo para a Cat me convencer - da Marlena ora tinha raiva, por sua burrice, ora tinha pena, pois ela era vítima da situação - sei lá, era como se ela tivesse tudo na mão e jogou pro alto por pura birra. Porém, vale ressaltar que ela tem apenas 15 anos, e sua consciência está se formando, ela age sem pensar, da noite pro dia ela perde tudo, todos os seus conceitos sobre a vida sofrem uma cisma praticamente impossível de consertar.

Mas, por outro lado, Cat tinha consciência sim, pois ela via como os vícios destruíam Marlena dia após dia. Nossa protagonista experimentou todo tipo de droga, menos o Oxi, porque sua consciência alertou que, se ela o experimentasse, aí sim o beco não tinha saída. Ela viu isso acontecer com sua melhor amiga.

E o mais incrível nisso é que tudo isso aconteceu mesmo. Como está na capa de trás, é a própria história dela, mas que poderia ter sido minha, pode ser sua, de alguém que você conhece, por aí vai... Ao mesmo tempo que o livro traz à vida a memória de quem morreu, ele também é um alerta para os jovens, de como as drogas são o grande mal da sociedade e a melhor prevenção é não se aproximar (já dizia a apostila do Proerd).

A edição da Fábrica 231, selo da Rocco, está legal, não encontrei erros de nenhuma ordem e a capa, apesar de que a editora tinha capacidade de fazer algo melhor, fez uma arte até bacana, dando o ar de mistério que a obra necessita. Pra tentar entender a mente dos jovens, vale a leitura.



Olá!

Recebendo mais uma indicação, vamos de leitura nacional! Finalmente pude conhecer a escrita da Chris Melo - que tive o prazer de conhecer pessoalmente - e, apesar de não dar cinco estrelas, a história é muito bonita. Confira a resenha de Sob a Luz dos Seus Olhos.


SKOOB - Sob a luz dos seus olhos vai contar a história da Elisa, uma brasileira que viaja a Londres a trabalho. Ela trabalha numa editora e, graças a um programa da empresa, fará um intercâmbio de um ano na capital da Inglaterra. Mas, antes de chegar a Londres, ela passa em York, cidade fofinha e cheia de paisagens medievais. E é lá que ela vê pela primeira vez um belo rapaz de olhos azuis, que a deixa muito impressionada.

Agora sim, em Londres, ela vai morar na casa dos Hendson, onde é bem recebida e imediatamente se integra à família. E ela finalmente vai encontrar o dono do par de lindos olhos azuis. É o Paul, um dos filhos do casal Hendson. O sentimento nasce de maneira imediata, para desespero dos pais e encantamento dos jovens.

Mas, se a Chris Melo é considerada a "Nicholas Sparks de saia" (socorro), não é a toa. Paul e Elisa vão ficar juntos, claro, só que algo grave vai acontecer na vida da jovem, fazendo com que ela volte ao Brasil imediatamente, sem sequer se despedir direito do namorado. Seis anos se passam, Elisa tem 29 anos e Paul é um ator famoso. E finalmente ele vai reencontrá-la.

Como ela precisou largar tudo, Elisa precisou praticamente recomeçar do zero. Cadu é um doce de pessoa, seu vizinho, não sabe do passado da jovem, mas depois vemos seu lado machista e imbecil - e ainda estou indignada com o fato de que ele protagonizará o livro seguinte, Sob um milhão de Estrelas - e Carol, médica e melhor amiga de Elisa, que sabe tudo da moça, menos sobre Paul - amo e irei protegê-la.

Paul está muito mudado. Famoso, não namora mais do que dois meses, volta e meia está com uma mulher diferente, completamente irreconhecível para Elisa. Até pensamos que vai rolar um triângulo amoroso entre Paul, Elisa e Cadu, mas como eu já disse que Cadu é um imbecil, graças aos deuses da Literatura isso não acontece. Não à toa, o casal demora, mas fica junto.

Com o casal junto e feliz, vai passar mais um tempo e vai acontecer outra tragédia. E é aí que o amor do casal será posto à prova, isso porque, quando mais ninguém acreditou, Elisa foi até o fim. Com ela, só mesmo Philip e Rachel. Uma história de amor e superação, mas que não me encantou tanto assim.
Vamos lá, é um ótimo livro, mas não é tão encantador assim. Me irritei com o Cadu (e ainda não superei o fato de que ele ganha um livro só pra ele), fiquei triste com os fatos e amei o casal principal, mas não acho que a Chris seja um Nicholas Sparks feminino, tá mais pra Dani Atkins da América do Sul, isso porque a autora conduz os fatos de tal modo que nos faz acreditar que alegria infinita é uma coisa suspeita. Sob a Luz dos Seus Olhos é uma mistura de "A Escolha" (tio Nick, resenha aqui) com "A História de Nós Dois" (da Dani, resenha aqui). Aliás, essa história é bem parecida com as que citei.

Foi uma história bem escrita, detalhando bem as paisagens londrinas e americanas (onde o casal vai viver, em Santa Monica, Califórnia), mas o livro mais parecia bipolar: por um lado, felicidade em excesso, fiquei esperando acontecer coisas ruins. Aí elas aconteceram. E, olha, Chris pegou pesado, houve duas vezes que levei a mão à boca pra conter um grito (eu estava no ônibus), o que gostei muito, porque quebrou bem o doce da trama.

Um casal que amei demais, torci e shippei foi Philip, que é irmão de Paul, e Rachel, que vai aparecer no fim, então não direi nada sobre ela. FICO NO AGUARDO DE UM LIVRO SÓ DELES, OBRIGADA. Quem me recomendou o livro foi a Ana, do EC&M, que chorou com a obra (e ela raramente chora com livros). Não cheguei a chorar, mas gostei de ter conhecido a escrita da Chris. Como eu disse, não morri de amores pelo casal principal, mas não significa que não gostei, pelo contrário, amei bastante, apenas não me senti convencida por Paul e Elisa.

Cada capítulo começa com um nome de música, que vai de Elton John a One Direction, nenhuma faz meu gênero, mas a galera vai gostar bastante das sugestões. No Spotify tem a playlist que a autora montou com músicas que a inspiraram durante o processo da obra, a lista é diferente das canções que estão no livro, mas acredito que vocês vão gostar também. Li no Kindle, aproveitando um dia em que a Rocco disponibilizou a obra gratuitamente na Amazon. Não vi nenhum erro na obra, agora vou dar um tempinho para ler Sob Um Milhão de Estrelas - devidamente autografado, rs. Recomendo a leitura.