Olá!

Cumprindo o sétimo tópico do Desafio 12 Meses Literários, o escolhido para leitura e resenha deveria ser um livro não tão conhecido. E Suflê é tão desconhecido que nem eu conhecia, rs. E quando você joga no Google "livro Suflê", aparecem diversas opções... de livros de receitas. Porém é um livro muito delicado e tocante, escrito pela turca Asli E. Perker.
SKOOB - O livro conta três histórias em uma: da Ferda, que vive em Istambul e está cuidando da mãe doente (ou que se finge de). Marc mora em Paris e não sabe como vai seguir com a vida após a morte da esposa. A filipina Lilia vive em Nova York e só na velhice descobriu que foi sugada até a alma por sua família.

É um pouco complicado falar sobre o livro sem se alongar, pois três histórias em uma só praticamente não tem como esmiuçar. Pois bem, comecemos com Ferda, a turca, que sempre viveu aquilo que esperavam dela: por ser a mais velha, ficou com a (amarga) função de cuidar da família, ainda mais após a morte de seu pai, quando ainda era criança, e com as falsas dores de sua mãe. O povo turco é muito ligado à família, então a pobre Ferda ficou com esse fardo. Casou-se com o homem que amava, teve seus filhos e acreditou que, quando chegasse a velhice, poderia descansar. Que nada. A senhora Nesibe - a mãe - sofreu um acidente e acabou ficando aos cuidados da filha.

Assim como Ferda, Lilia também fez aquilo que esperavam dela: sempre colocou os outros à frente. Casou-se com Arnie, cujo relacionamento foi minando ao longo dos anos até que chegou o ponto em que a convivência ficou insuportável. O casal adotou duas crianças vietnamitas - algo em voga nos EUA à época - mas que se tornaram dois monstros. Cada dia era igual ao anterior, até que Arnie tem um derrame e vai parar no hospital. A monotonia silenciosa dele é interrompida quando Lilia, para ajudar nos custos do tratamento, resolve alugar os quatro quartos de sua casa para alunos estrangeiros de uma escola próxima.

Marc sempre viveu à sombra de sua esposa Clara. Ela fazia absolutamente tudo por ele. E ele se sentia bem assim, em sua zona de conforto. O casal vivia num bairro simpático de Paris, onde Clara era querida por toda a vizinhança. Ela vivia indo a vários mercados, sempre comprando ingredientes para testar novas receitas, que Marc comia com prazer. Mas, silenciosamente, Clara morre, deixando o marido numa dor profunda e intensa. Como a cozinha era o local favorito da esposa, o viúvo resolve fazer uma mudança drástica: remontar o ambiente e tudo que estivesse nele.
Esse é o básico de cada um dos três protagonistas. O ponto alto da história é quando sabemos como a cozinha é importante na vida de todos. Ferda cozinha desde que se conhece por gente, já que a mãe vivia "doente" e o pai morrera cedo, alguém precisava cozinhar. Marc comia absolutamente tudo o que a esposa preparava. Lilia adorava cozinhar e servir às pessoas. Mas o que eles não sabem é que, em certo momento, em três lugares totalmente diferentes, três pessoas comprarão o mesmo livro: Suflê.

A cozinha - e o livro que ensina a fazer a sobremesa mais difícil do mundo - salvarão esses três personagens da loucura. Nela, eles saberão como é se sentir dono e senhor de sua vontade e desejos, e assim, vão viver um pouquinho melhor, já que a realidade está ali, lado a lado.

Como é maravilhoso eu poder frequentar uma biblioteca! Gosto de me surpreender com obras vindas dos mais distantes lugares, então foi uma surpresa para mim poder conhecer essa maravilha made in Turquia. A autora usa o suflê (nunca comi, será que é bom?) como uma espécie de metáfora para a vida. Os protagonistas podem ser qualquer um de nós, vivendo vidas rotineiras e monótonas, caindo na mesmice, mas que em um ou outro momento pode acontecer algum milagre, ou, algum ponto sai da curva.

Infelizmente, o livro não teve o alcance que merecia. Pelo menos nunca vi pra vender em lugar algum. Por sorte, ainda podemos encontrar na Amazon. Além do pouco (pra não dizer nenhum) destaque, a editora falhou em seu trabalho de revisão. Diversos erros foram encontrados durante a leitura. Erros de revisão dos mais bobos, o que mostra como a editora precisa melhorar - e muito - se quiser continuar existindo.

No mais, sei que é difícil, mas espero que mais obras da autora cheguem no Brasil, porque ela tem uma escrita maravilhosa - sem falar que é humilde e responde os leitores nas redes sociais. Leitura mais que recomendada.

Leitura participante do:





Olá!

Na retomada da parceria do blog com a Oasys Cultural, recebi um lindo exemplar de No Reino das Girafas, que, apesar de suas poucas páginas, tem uma grande lição. Foi escrito pela Jacqueline Farid e publicado pela editora Jaguatirica.
SKOOB - No Reino das Girafas conta a história de uma mulher - cujo nome não é informado em nenhum momento da obra - que, em viagem pela Namíbia, além de estar numa busca por si mesma e conhecer o país, também procura um jeito de terminar seu relacionamento, que está tão estável e rotineiro que perdeu todo o brilho de outrora. O namorado está em seu país de origem (que também não nos é informado).

Passeando por diversos pontos turísticos do país, nossa narradora vai imaginando situações e relembrando momentos de sua vida. E a viagem tem seus pontos perigosos, agravados pelo fato de que é uma mulher que está viajando sozinha, de carro, por um país desconhecido, numa região que não é vista com bons olhos pelo resto do mundo - num mundo machista, isso pode ser fatal, infelizmente. Mas nem só de perigo vive a narradora. Ela também desfruta lindos passeios por aldeias e savanas, encontrando todo tipo de animal, incluindo as girafas que dão nome ao livro.

Junto com seus instrumentos de praxe, a narradora leva um caderno de capa vermelha, em que, de acordo com o que acontece na viagem, ela pensa numa frase que se encaixa naquele contexto e escreve nesse caderno. As frases aparecem constantemente durante a leitura, uma mais linda que a outra.
A única verdade absoluta que o leitor sabe é que Jacqueline Farid viajou para a Namíbia três vezes, em 2009, 2010 e 2011, sempre no mês de agosto. Será que a autora estava inspirada durante essas viagens? Será que os fatos retratados no livro realmente aconteceram com ela? Será que ela realmente se separou do namorado?

Apesar de serem perguntas interessantes, todas elas ficam em segundo plano quando lemos o livro, que tem uma delicadeza única. Não sei em que ela se inspirou para escrevê-lo - além do país, claro - mas essa jornada de autodescoberta por parte da narradora nos faz refletir sobre nós mesmos e o que fazemos de nossa vida. Mesmo só tendo 108 páginas, cada linha, cada palavra tem sua importância na história. Só me irritei no finalzinho, quando eu tô quase feliz, aí a situação acontece e eu me pergunto: por quê?? Você conseguiu, não reclama, mulher!!

O trabalho de edição/revisão/capa da Jaguatirica segue um pequeno padrão da editora, mas essa capa com tons de terracota (parece nome de batom) e amarelo, com as girafinhas correndo está tão linda!!! Não encontrei nenhum erro e a leitura flui muito rápido, não só pela quantidade de folhas, mas também pela escrita simples da autora. Leitura recomendada.

Morrer é engolir o grito.



Olá!

Graças à Cia das Letras, que há algum tempo, disponibilizou uma sessão exclusiva para convidados, e a Ani, do Entre Chocolates e Músicas, que me cedeu gentilmente o ingresso, pude conferir, em primeira mão, o filme O Círculo, baseado em best-seller de mesmo nome e estrelado por Emma Watson e Tom Hanks. A resenha foi postada originalmente no EC&M.

Título Original: The Circle
Elenco: Emma Watson, Tom Hanks, Johh Boyega, Karen Gillan entre outros.
Duração: 1h 50m
Ano: 2017

O Círculo nos apresenta Mae Holland (Emma), uma jovem que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando sua amiga arruma um emprego para ela numa empresa chamada “O Círculo”. Mae era atendente e, assim como eu num passado remoto, só atendia clientes insatisfeitos e revoltados.

O Círculo tem como produto principal o “True You”, que pelo que entendi, é um programa onde você pode gerenciar desde suas redes sociais até suas contas bancárias, enfim, como um Serviço de Atendimento ao Consumidor em grande escala. Mae fará o mesmo que fazia na outra empresa, mas, ao invés de telefones, a conversa seria por computadores.

O chefão d’O Círculo é Eamon (Tom), que quer compartilhar absolutamente tudo com todo o mundo. Tudo mesmo. Eamon desenvolveu uma micro câmera que permitirá as pessoas compartilhar tudo e disponibilizar online. Em tempo real. E conforme Mae e os demais funcionários vão compartilhando absolutamente tudo de suas vidas, eles vão subindo posições no ranking da empresa.

Em algum momento da sua vida, você já assistiu o BBB (enjoei na quinta edição, agora só acompanho memes) ou, mais recentemente, algum episódio de Black Mirror (eu vi os eps "O Hino Nacional" e "Urso Branco") ou 1984, do George Orwell, ou o filme Invasão de Privacidade (falei dele aqui, mas, se não viu, tem na Netflix). Pois saiba que O Círculo é a versão piorada (pelo menos para mim) desses quatro exemplos que dei. Esse filme distópico vai abordar as consequências de querermos viver conectados demais, integrados demais.
Ao mesmo tempo que a tecnologia vai ajudar diretamente a vida de Mae (o pai tem uma doença grave), vai atrapalhar também, principalmente quando, mesmo bem-intencionados, nós acabamos cometendo erros, que acabam virando uma bola de neve. A obra vai mostrar até onde a sede por compartilhar informações vai nos levar – e o que acontece quando desaprendemos o conceito de privacidade. O Círculo mostra como a recente necessidade humana de estar na internet, ser curtido, compartilhado e amado nas redes sociais pode nos afetar na vida real.

O filme é muito bem feito, as atuações impecáveis... gosto da Emma quando ela faz filmes que não tem tanto hype, como o ótimo, porém pouco falado, Regressão (com Ethan Hawke, tem na Netflix). Tom Hanks, apesar de aparecer no cartaz, vai aparecer pouco, mas quando aparece, impressiona. Aliás, ele optou por um visual “Náufrago”, só faltou a bola Wilson.

No mais, novamente quero agradecer a Ani pelo ingresso e à Cia. Das Letras por viabilizar essa sessão exclusiva. Vale lembrar que O Círculo é baseado no livro de mesmo nome, do norte-americano Dave Eggers. Mais adiante vou querer ler o livro para fazer minhas comparações. O filme estreou no dia 22 de junho, nos cinemas de todo o país.
“Saber é bom. Saber tudo é melhor ainda.”


Olá!

Este mês, a Lendari mandou dois lançamentos bem bacanas, referentes à parceria que temos com o selo. Todo mundo sabe - e quem não sabe vai saber agora - que fantasia não é meu gênero prioritário, porque raramente as histórias me prendem. Mas, o resenhado de hoje passou longe disso. É fantástico sem ser absurdo. Sem falar na escrita bem original. Vem conferir a resenha de Dito pelo Não Dito, primeiro volume do Universo Insensati.
SKOOB / LENDARI STORE - Dito pelo Não Dito foi escrito a 24 mãos, mas a ideia foi da dupla Rodrigo Ortiz Vinholo e Pedro Hutsch Balboni e conta a história de Joana, uma mulher que imagino ter seus 30 anos, mora numa cidade de nome não citado, mas que deve ser interiorana, vive um relacionamento estável com Mauro, ou seja: uma vida comum.

Só que num certo domingo, Joana acorda, cumpre suas obrigações e, quando dá por si, Mauro não acordou. Ela o chama, pinta e borda, faz o sete e nada desse homem acordar. Mas ele tá vivo, disso ela tem certeza. Até que uma certa pessoa aparece para ela e, diz, entre outras coisas, que Joana deveria descobrir 10 coisas sobre Mauro que ela não sabia.

E de nada adiantaria ela levá-lo a um médico, porque se ela o fizesse - ou não descobrisse os tais 10 segredos - Mauro poderia simplesmente não acordar. Qualquer outra pessoa poderia dizer que estaria enlouquecendo, mas não Joana. Porque ela conhecia a tal pessoa. De longa data. Então não lhe restou outra alternativa senão cumprir a missão.
Essas cinco cartas de tarô e o adesivo vieram junto com o livro. 
O livro é curto, tem exatamente 200 páginas e foi escrito por doze pessoas - cada um escreveu um capítulo - mas ficou tão bem escrito que nem parece que doze estilos de escrita compõem a trama. Como eu disse lá no início, fantasia dificilmente me atrai, o que não foi o caso desse livro. Devorei cada página como se fosse um romance policial, tentando (e conseguindo, em alguns momentos) entender cada descoberta que Joana fazia.

O mais interessante dessa obra é que a fantasia contida nela não é nada absurda (tipo gnomos, unicórnios e afins), mas algo que qualquer criança poderia imaginar, um mundo que muitos de nós gostaríamos de viver - ou será que já vivemos e não sabemos? Uma história 100% nacional que nos faz mergulhar num ponto de vista muito diferente a respeito de certos temas que nem sempre discutimos.
Esse é o primeiro volume do universo (ou série) Insensati, o que indica que poderemos ter mais livros sobre o mundo de Joana. Aliás, vale ressaltar também as ilustrações. Cada capítulo tem duas ilustrações que condizem com o que será contado por cada autor. Os lindos desenhos foram feitos por Igum Djorge e são baseados no baralho do tarô, do qual sou completamente ignorante. Junto com o livro, vieram um marcador, dois adesivos (que estão no meu guarda roupa) e cinco cartas de tarô, que só entendi depois de ler a história.

Um universo totalmente novo foi aberto para mim e parabenizo a dupla pela ideia, o Igum pelas ilustrações e todos os autores por terem escrito uma história tão brilhante sem perder o estilo de escrita tampouco o fio da meada. Esse livro terminou onde deveria, mas deixou margem para o próximo volume, que já quero. Agradeço a Lendari o exemplar - que veio autografado pelo Rodrigo - e a confiança no blog para resenhar uma obra tão bonita!

P.S.: agora quero aprender a ler tarô.