Olá!

Depois de falar de Marcella e Wallander (falei deles aqui e aqui), trouxe mais uma série policial made in Netflix (ou BBC, cada lugar diz uma coisa). River é aquele tipo de série que você não dá um centavo por ela, mas quando começa a assistir, só para quando acaba. E por ser uma temporada única, com apenas seis episódios, isso ajuda bastante.
A série conta a história do inspetor John River (Stellan Skarsgård*), que está investigando o assassinato de sua colega, a sargento Jacqueline Stevenson (Nicola Walker), ou simplesmente Stevie. Até aí, nada de mais, só que ele fala sozinho (quem nunca?). Mas ele não fala sozinho, e sim com... Stevie! Eles eram parceiros - e apaixonados - mas ela tomou um tiro na cabeça e, desde então, encontrar o assassino tornou-se uma obsessão para ele.

Tendo como plano de fundo a Londres comum (aquela que não vemos nos filmes, com o metrô e uns prédios e só, como se fosse a zona leste de São Paulo), River vai lutar com seus próprios demônios, tendo em vista que ele é visto como doido por alguns, mas em contrapartida o cara é o melhor que a polícia londrina tem. Ainda por cima, desde que Stevie foi morta, ele é obrigado a passar por uma avaliação psicológica, o que o incomoda mais ainda. 

O básico na função de ator é convencer o espectador. E isso, Stellan Skarsgård faz magistralmente. Ele interpreta de uma maneira tão real os sentimentos do personagem que a gente jura que é o ator que tá passando por tudo isso. Mas, além de falar sozinho com os mortos (não só com Stevie, aliás), o ator favorito do diretor Lars von Trier e pai do Alexander, do Bill e do Gustav mexe com o psicológico do espectador a partir do momento em que vai desenterrando novos detalhes, seja a respeito da família (disfuncional) de Stevie, seja a respeito de alguns casos paralelos que ele vai resolver ao longo da série.
Além de falar sozinho, ele precisa enfrentar alguns medos de seu passado, principalmente a partir do momento em que nos é revelado que ele emigrou de um certo país - que não é falado mas sabemos que se trata da Suécia porque... Stellan é sueco, rs. Ele sabe o que é ser rejeitado, não à toa, mantém-se afastado de praticamente todo mundo. Menos de seu parceiro Ira (Adeel Akhtar), a Faixa de Gaza original, segundo ele mesmo. Ira vai fazer de tudo pra impressionar o chefe, mas River é irredutível em seu jeito de ser.

Apesar de ter apenas seis episódios (uma hora cada um), a série aborda vários temas atuais, como depressão, famílias disfuncionais, imigração e por aí vai. E falar desses temas é muito importante, assim conseguimos entender (pelo menos um pouco) pessoas que estejam passando por isso. Mas, não é porque tem temas pesados que River é triste, pelo contrário, tem várias passagens engraçadas, que, obviamente não contarei, mas quem dá o toque de humor é a Nicola Walker. Stevie contrabalanceia os momentos de tensão da trama com revelações a conta-gotas sobre seu passado.

Para encerrar, deixo a única trilha possível dessa série. Ela não tem um tema de abertura (sequer tem abertura), mas essa música aparece em vários momentos da série e não tem como não cantar junto com a Stevie - sem falar que é bem o tipo de música que gosto (inclusive estou viciada). Essa cena é do comecinho do primeiro episódio, então deixo como um aperitivo.

Infelizmente, até onde pesquisei, não há notícias de uma segunda temporada. Se precisa ou não, vai de cada um. Ainda não sou capaz de opinar, mas se 13 Reasons Why vai ter, por que River não pode? Então aproveita e devora essa série, principalmente se você curte um bom romance policial!

*A propósito, o sobrenome do ator se pronuncia algo como "Skarsgôrd".


Olá!

Aproveitando que ando com uns trocados pra ir ao cinema, e sabendo que Kenneth Branagh está no elenco (talvez eu tenha virado fã, já que a resenha de Wallander saiu nesta segunda, com o link aqui), corri pra ver Dunkirk. E foi tão legal! Poucas vezes vi um filme de guerra tão bem feito.

Título Original: Dunkirk
Elenco: Harry Styles, Tom Hardy, Kenneth Branagh e elenco
Ano: 2017
Duração: 2h

Baseado em um best-seller recém-lançado pela Harper Collins, o filme vai contar a história da batalha da praia de Dunkirk, durante a Segunda Guerra, quando os alemães cercaram o local e os franceses e ingleses, sob cobertura aérea e marítima, ajudaram as tropas a evacuar a praia. Tropa composta por mais de 400 mil soldados.

Basicamente, é isso, mas quando vemos de forma detalhada como aconteceu, percebemos como o processo foi aflitivo, com muitas vidas perdidas, e quem está na posição de comando fica só observando, num primeiro momento, mas quando resolve tomar a decisão crucial, o faz sem temer absolutamente nada.

O filme não tem um protagonista específico, então se você não gosta do One Direction, não precisa torcer o nariz, porque o Harry Styles vai aparecer o mesmo tanto de vezes que os demais atores - ele é um dos soldados. Aliás, se quiser seguir na carreira de ator, vai dar super certo, ele mandou super bem no personagem, talvez algumas aulas pra aprender alguns fundamentos e vá ser feliz na carreira! Aliás (de novo), ele tá tão adulto nesse filme que quase não o reconheci...

Já sabendo que o Oscar de melhor diretor vai pro Christopher Nolan... porque é impossível esse cara não ganhar, o que ele fez como diretor (ele também escreveu o roteiro, segundo os créditos), não vi em nenhum filme deste ano (talvez perca pra Patty Jenkins... ah, dividam o prêmio de uma vez!). O jogo de imagens, a fotografia, as câmeras deixando o espectador em primeiro plano... Outra pessoa que também deve ganhar a estatueta é o responsável pela trilha sonora, o alemão Hans Zimmer. Toda instrumental, cada tema aparecia no momento certo, ditando o sentimento a quem assiste, como o medo e a tensão, presentes em toda a história.
Spoiler: nessa cena, uma pessoa riu. E ninguém vai notar isso na hora, portanto, para ver o momento exato, pesquise na internet por "Dunkirk smiling extra fail".
Kenneth Branagh (minha motivação pra ver o filme) é o Comandante, ou seja, o que olha a merda sendo feita. Assim como os demais personagens, ele aparece o suficiente para sabermos que é ele quem manda... e eu vou dizer o quê desse homem maravilhoso (que precisa de um preenchimento labial urgente), só aplaudir e me deixar seduzir pelo sotaque britânico maravilhoso dele! O outro mais famoso que aparece é o Tom Hardy, que é piloto e passa o filme inteiro pilotando um caça (eu queria, inclusive) e que só tira a máscara nos acréscimos (é um spoiler, mas deve ser difícil atuar e não poder mostrar a cara, rs).

Também teve um monte de tiro disparado. Amei todas as cenas de tiro, porrada e bomba. Na primeira vez que os tiros são disparados, fiquei procurando de onde vinham as balas, porque parecia que tava rolando um tiroteio de verdade, juro! E isso foi possível porque assisti o filme numa sala Cinemark XD e nunca tinha passado por essa experiência - sala aprovadíssima!

Apesar da resposta polêmica recente do Nolan a respeito da Netflix, há que se parabenizar o trabalho dele, ele sabe o que faz e, por se tratar de uma história real, contá-la sem se tornar uma coisa arrastada é uma tarefa difícil. Então, se você gosta do 1D, ou do Kenneth ou de uma boa história de guerra, Dunkirk é uma ótima pedida!


Olá!

Pela primeira vez no Resenha, vou resenhar um livro que não li em português! Já é sabido (inclusive tá no cabeçalho do blog, rs) que Isabel Allende é meu ídolo máximo da literatura, mas nunca tinha lido em espanhol - que é minha segunda língua. Aproveitando que estou usando o máximo de conhecimento deste idioma em meu trabalho, resolvi me arriscar numa leitura. Confiram a resenha de De Amor y de Sombra. No fim do post vou deixar o link de compra dessa versão, porque a brasileira infelizmente está esgotada - pelo menos na Amazon.
SKOOB - De Amor y de Sombra começa com três histórias, mas que em dado momento se afunilam. Primeiramente, conhecemos Irene Beltrán, uma jornalista que vive com sua mãe, Beatriz Alcántara, dona de um asilo. Irene e Beatriz vivem num mundo paralelo. De vida confortável, apesar de terem sido abandonadas pelo chefe da família, elas vivem tranquilamente, enquanto o país vive o terror da ditadura.

Em nenhum momento da obra, a autora diz qual a cidade que Irene mora, referindo-se apenas como "capital", mas dado o tratamento que o chefe de estado recebe (General) e o fato de que Isabel é sobrinha de quem é, imaginemos que a trama se passe em Santiago do Chile. Irene trabalha numa revista feminina, mas tem ímpetos maiores que seu escritório. Usa umas roupas espalhafatosas, cabelos ao vento e vários anéis.

Ainda em Santiago, a família Leal está reunida para o almoço. Hilda, seu marido, conhecido pela alcunha de Professor, e seus três filhos, Javier (o desiludido), José (o padre que trabalha contra os militares) e Francisco (o psicólogo/fotógrafo) discutindo sobre os rumos do país e o que fazer para passar despercebidos diante dos militares - eles tinham uma máquina de impressão, que o Professor fazia panfletos anti-Pinochet, talvez isso não os ajudasse. O casal Leal viera da Espanha durante a ditadura de Franco, mas acabaram caindo na de Pinochet.

Agora vamos ao interior para conhecer Digna Ranquileo. Ela não confiava em hospitais, temia que eles a atendessem mal e coisas que valha. E a única vez que ela iria a um hospital foi para ter mais um de seus filhos. Uma menina. E acabou que seu medo se realizou e sua filha foi trocada na maternidade por outra. Apesar dos apelos, acabou por ficar com a criança, que recebeu o nome de Evangelina. O marido trabalhava num circo e só ficava em casa certo período do ano.

Irene vai conhecer Francisco quando este vai pedir emprego na revista dela. E eles conhecerão Digna quando vão até a casa dela para ver um suposto milagre da menina Evangelina, que mais pareciam ataques de convulsão (ou epilepsia?). Porém, o exército também ficou sabendo dos "milagres" de Evangelina e mandou uma tropa verificar isso pessoalmente. E qual foi a surpresa quando Evangelina operou um "milagre" bem na cara do Tenente - e de todos os presentes?

Percorrendo o sentimento que floresce em Francisco - proibido, porque Irene tem namorado - os sucessivos acontecidos na família Ranquileo, as descobertas de Irene, o mundo paralelo de Beatriz e dos idosos que lá viviam, Isabel mostra um lado maravilhoso do ser humano, que nasce até mesmo durante as cinzas da ditadura militar. E mostra como era o Chile no tempo da ditadura, não nos esqueçamos do fundo político.
Por que eu amo dona Isabel? O jeito que ela escreve, a forma como narra a história, os personagens comuns, com os quais podemos nos identificar... De Amor y de Sombra foi seu segundo romance, não dá pra dizer que é a sua masterpiece, já que antes dele veio "só" A Casa dos Espíritos, mas mostra como a sociedade chilena vivia durante a ditadura do general Augusto Pinochet, entre 1974 e 1980.

Talvez o fato de ter sido diretamente afetada pelo golpe militar em seu país fez com que Isabel tivesse um ponto de vista muito interessante acerca da condução da trama, com riqueza de detalhes, descrevendo passo a passo como eram as coisas lá (pelo que notei, tanto neste como em outros dela, lá foi muito pior que aqui). Percebi que, em dado momento, ela contava sua própria história. Claro que notei isso porque, como a acompanho na mídia, então meio que sei pelo menos um pouco sobre ela.

A personagem mais engraçada (no sentido de absurdo) foi a mãe de Irene. Beatriz era tão alienada que foi bater panela pra comemorar a ascensão de Pinochet e, quando o povo percebeu que ditadura não presta foi bater panela também, e ela comemorou, achando que estavam agradecendo. Essa passagem mostrou, claramente, que, quando há interesse, todo mundo faz vista grossa. (Desculpa gente, não podia não dividir esse momento do livro com vocês, super identifiquei meu/seu/nosso país nele)

Apesar de parecer tragédia, o livro é lindo e, quando terminei de ler, senti meu coração aquecido, a esperança renovada... só não aplaudi o livro porque estava no ônibus lotado, sequer conseguia me segurar, rs

Amo Isabel e irei protegê-la e ficar contente porque, neste dia dois de agosto, ela está chegando ao seu aniversário de número 75, com livro recém-lançado e eu rezando pra que ela viva o máximo possível, para brindar seus fãs ao redor do mundo com suas histórias tocantes.

Ah, e minha primeira leitura em espanhol depois de mais de seis anos após a conclusão do curso que fiz foi muito bem, compreendi a história, claro, algumas palavras me eram desconhecidas e, sem um dicionário ou o tradutor por perto, tive que entender pelo contexto. Mas estou feliz por desvendar essa história. Desenferrujei muito do idioma e agora quero mais. A nota ruim é a capa horrorosa da Bertrand Brasil, que me parece ter desleixo em relação às obras de Isabel, porém tem exclusividade com a autora.

P.S.: em 1994, o livro virou filme, com Antonio Banderas no papel principal. Infelizmente não achei trailer legendado, mas vale a pena ver, dei uma olhada e as imagens parecem fieis ao livro.




Olá!

Como é de conhecimento público, amo romances policiais. E se eles vêm da Escandinávia (principalmente Suécia), melhor ainda. Nesta região, acho que o gelo é abençoado e por isso brota tanta história boa. E como todo bom livro, via de regra, vira filme ou série de TV, e, às vezes é a única ferramenta que temos para conhecer grandes histórias. Então, falemos de Wallander - versão da BBC.
Com 4 temporadas de três episódios cada (cada episódio equivale a um livro), a série vai contar a história do inspetor policial Kurt Wallander, que mora na simpática região de Ystad, na Suécia. Por mais que seja um lugar bucólico (e fofinho), lá ocorrem crimes macabros - que se tornam muito tensos quando olhamos o contexto atual do país (igualdade entre os sexos perto do ideal, IDH perto do 1, direitos trabalhistas sendo respeitados e assim por diante). É a função de Kurt desvendá-los.

Em paralelo às suas investigações, também podemos conferir um pouco da vida pessoal do inspetor: seu pai tem Alzheimer, sua ex pediu o divórcio, mas ele acha que pode salvar o casamento, a filha que volta-e-meia some e aparece... Enfim, problemas que qualquer ser humano possa vir a ter, o que torna a série mais palpável para o público.

Na Netflix está disponível a versão da BBC, que merece os parabéns por ter feito uma produção impecável, aproveitando ao máximo as paisagens locais. A primeira temporada foi ao ar em 2008 e a última, no ano passado. Mas as negociações datam de 2007, quando Kenneth Branagh se reuniu com Henning Mankell para discutir sobre a série. Mas é claro que, antes da BBC, a Suécia fizera sua versão da série, que foi ao ar entre 2005 e 2013.
Equipe de Kurt na primeira temporada. A partir da esquerda: Anne-Brit (Sarah Smart), Martinsson (Tom Hiddleston) e Lisa Holgersson (Sadie Shimmin)
Sobre as atuações, há muitas mudanças ao longo da temporada, então vou me ater somente à mais importante: a de Kenneth, que me conquistou com seu personagem logo nos primeiros minutos do primeiro episódio (porque sou assim com séries, tem que me conquistar de cara). Claro que todo mundo tem sua importância à série, porém muita gente entra-e-sai ao longo das temporadas, por isso prefiro falar só dele, mas aproveito e cito a brilhante Jeany Spark, como Linda Wallander, filha de Kurt.

Aproveitando o texto, falemos dos livros. A série escrita por Henning Mankell entre 1991 e 2009 tornou-se sucesso instantâneo. Claro que ele já era conhecido no país por seus diversos livros voltados para o público infantil, mas foi com Wallander que ele se consagrou como o maior escritor da Suécia (segundo os próprios suecos), superado somente por um tal de Stieg Larsson... Além de escritor, ele adorava teatro e, entre idas e vindas pela África, acabou fundando o Teatro Avenida, em Maputo, capital de Moçambique (será que ele falava português?).

Pelas minhas contas, são 11 livros sobre Kurt e mais um tendo Linda Wallander como protagonista. Aliás, sobre o livro de Linda, a ideia de Mankell era criar um spin-off de três volumes sobre a jovem que tinha acabado de se formar policial (será que acontece na série? deixo o questionamento pra vocês), porém, a atriz que interpretava Linda no seriado sueco cometeu suicídio, o que levou o autor a desistir da sequência (infelizmente perdi a fonte em que li esta notícia).
Um dia terei um lar só pra colocar uma placa com meu sobrenome, algo bem comum na Suécia. Foto: site Henning Mankell
Cada episódio da série dura uma hora e meia, e justamente por isso demorei tanto a terminar - poxa, estou acostumada séries com, no máximo, meia hora de duração cada um. Porém, cada vez mais me via envolvida na trama, tentando, ao lado de Kurt, resolver cada crime, cada questionamento proposto. Kenneth se entregou demais ao personagem, fazendo com que eu passasse a acreditar que ele era real. E quando o inspetor começou a esquecer algumas coisas, meu coração passou a doer um pouquinho, porque não queria que acabasse a série...

Não entendo muito de fotografia, mas filmaram a série de modo a deixar o ambiente todo nublado, ressaltando mais os tons sombrios e escuros e sempre focando Kurt solitário. Como se quisessem mostrar que ele é gente como a gente, tem seus medos e incertezas. Suas perspectivas não são as mais positivas, mas ele acaba se mostrando muito inteligente, mesmo expondo tão pouco de si. É só mais um homem em busca de justiça.

No Brasil, a Companhia das Letras detém (até segunda ordem, pelo menos) o direito exclusivo de publicar as obras de Mankell. De novo pelas minhas contas (sou de humanas, gente), a editora publicou oito, mas eu só consegui dois até o momento (A Quinta Mulher e Um Passo Atrás), mais adiante pretendo trazer as resenhas de ambos. Mesmo ainda não tendo lido, recomendo demais a série, e, como está na Netflix, vale a pena acompanhar.

Henning Mankell faleceu em 2015, na cidade sueca de Gotemburgo. Além de escritor, era diretor e dramaturgo. Foi casado com Eva Bergman, filha do lendário cineasta Ingmar Bergman. Apesar de seus vários livros, a série de Kurt Wallander é considerada sua obra-prima.