Olá!

O resenhado de hoje é um romance biográfico. É romance porque o autor assim descreveu. E é biográfico porque está contando uma história real. Adianto logo que, infelizmente, o personagem não existiu, porém muitos relatos são reais. Estou falando do livro "Memórias de Uma Gueixa", do Mestre em História Japonesa pela Universidade de Columbia, Arthur Golden. Esse é o tipo de livro que devemos ler com a mente aberta, sem nenhum preconceito. Logo, tem muitas coisas no universo das gueixas que 1- você talvez não saiba e 2- você tem uma ideia distorcida sobre. Por isso, a leitura tem que ser livre de pré-conceitos, pois é uma história que surpreende.

O livro começa contando a história da pequena Chiyo, de apenas nove anos. Ela, seu pai, um humilde pescador, sua mãe, que está muito doente, e sua irmã mais velha Satsu vivem na aldeia de Yoroido, no Japão - uma aldeia distante das grandes metrópoles. Como eu disse, a mãe de Chiyo está muito doente e, em uma dessas questões do momento, ela conhece o sr. Tanaka Ichiru, dono da Companhia Japonesa de Frutos do Mar.



Então, o sr. Sakamoto, pai de Chiyo, simplesmente resolve vender as meninas como escravas - lembrando que essa história se inicia na década de 1920 - pois o velho não conseguiria suportar a perda da segunda esposa e tampouco criar duas filhas pequenas sozinho. O sr. Tanaka, por quem Chiyo tinha grande consideração, foi o intermediário dessa venda. As duas saíram de sua "casa bêbada" - como a pequena chamava sua casa - e foram parar em Kioto. Lá, elas foram separadas. Chiyo foi para o distrito de Gion e Satsu... bem, por ora não sabemos para onde foi a mais velha.

Nos áureos tempos antes da Segunda Guerra Mundial, Gion era um dos distritos de gueixas mais famosos do Japão. E foi para uma okiya (casa onde vivem as gueixas) que Chiyo foi morar. Uma característica marcante da menina eram os olhos. De um cinza-azulado incomum. Quem a visse, dizia que ela tinha água em sua personalidade. Isso significa que ela não era de ficar parada ("águas passadas não movem moinhos"), ela sempre está em constante transformação. Mas, por enquanto, ela sofreria nas mãos de Hatsumomo, uma das gueixas mais famosas de sua época. Extremamente bonita. E malvada.

Chiyo tinha tudo para se tornar uma criada e dar prejuízos à okiya onde morava, mas, ela decidiu ser uma gueixa de sucesso por causa de um homem. Um homem que fez algo simples por ela, mas que lhe marcou por toda a vida. Ela tentou fugir com sua irmã, levou várias surras (não merecia nenhuma) e foi relegada a servir Hatsumomo (que ódio dela!), mas, ela queria mais. Queria se sobressair. E assim, deixou de ser Sakamoto Chiyo para ser Nitta Sayuri, uma das mais famosas gueixas não só do distrito de Gion, mas de todo o Japão.

Poderia ficar aqui falando toda a história da menina, porém, agora vou me ater às várias coisas que aprendi lendo esse livro: como vestir um quimono, como uma gueixa se porta durante uma festa, como ela tem que se arrumar... e o mais importante: gueixas não são prostitutas. Sim, eu tinha essa noção que me foi corrigida com um simples parágrafo. O quimono é uma peça muito complicada de se vestir. É um traje para se vestir a quatro mãos. Mas aqui vou me ater ao obi, que é uma peça fundamental, pois é a faixa que segura o quimono no lugar. E é justamente o obi que diferencia a gueixa da prostituta: o obi da gueixa tem que ficar atrás. O da prostituta fica na frente, pelo simples motivo de que, em serviço, a prostituta não tem tempo nem habilidade para desmontar o obi à perfeição e, deixando à frente do corpo, facilita na hora de tirar. Achei incrível. 

Ainda sobre diferenças entre gueixa e prostituta é que a gueixa pode (e deve) ter um danna (amante), que pagará seus custos junto à okiya - sim, enquanto a gueixa estiver na okiya, ela é propriedade do local e sempre está em débitos - e seus luxos, como quimonos e acessórios. Falando em acessórios, vocês sabiam que as gueixas não lavam os cabelos diariamente? Sim, isso é nojento, mas tem uma explicação: os cabelos das gueixas têm que estar impecáveis, por isso vão aos salões para arrumar o cabelo de acordo com a ocasião. Por ser um procedimento caro, elas não vão sempre e fazem de tudo para manter o cabelo perfeito. Elas também não emprestam os enfeites de cabelo e pentes. Equiparando, é como se nós, brasileiras, tivéssemos o hábito de emprestar calcinhas (espero que ninguém empreste calcinhas às amigas hahahaha). Se a gueixa causar muitos problemas à okiya, ela pode ser expulsa e acabar se tornando prostituta, já que, se ela causou problemas em uma okiya, pode muito bem prejudicar outra, então, ela passa a ser mal vista.

Voltando à história, Chiyo, com muito esforço, conseguiu se tornar uma aprendiz de gueixa. Ela se tornou Sayuri, irmã mais nova de Mameha. Entre as gueixas há a política de adoção. Na casa onde Chiyo vivia, além dela tinha também a Abóbora, outra aprendiz de gueixa. No livro, a menina é citada apenas como Abóbora porque "ela vivia com a língua de fora enquanto fazia suas tarefas e sua cabeça lembrava a de uma abóbora". Pois bem, a gueixa mais rentável adotava uma das meninas para ser sua aprendiz: deveria ensinar a menina todos os segredos e tudo o que a gueixa deve saber. Na okiya Nitta, era Hatsumomo (a recalcada) que escolheria a sua irmã mais nova. Obviamente escolheu Abóbora, que era meio tonta, diga-se de passagem. Aí entra Mameha(!!!). Mameha era uma gueixa mais bem-sucedida que Hatsumomo, pois morava em um apartamento sozinha e ainda tinha uma criada para lhe servir. E isso era algo difícil de se conseguir no Japão daquela época.

E foi com a ajuda de Mameha que Chiyo se sobressaiu. Ela fez muito sucesso em Gion, passou a ganhar mais que Hatsumomo até. Mameha adotou Chiyo, lhe instruiu, ensinou vários segredos, apresentou vários homens importantes e deu um nome de gueixa: Sayuri. Vendo que a agora gueixa Sayuri dava mais lucro e ainda por cima conseguiu pagar seus débitos, a dona da okiya resolveu adotar a jovem. Lembrando que a okiya é a casa onde moravam as gueixas. Ela era gerenciada por Vovó (que morre quando Chiyo ainda era criada), Mamãe (que só pensa em dinheiro) e Titia. Os nomes das três não são revelados. Então, Sayuri passa a ser Nitta Sayuri. Nitta era o nome do local e Sayuri era seu nome de gueixa.

A única coisa que não gostei da história foi do mizuage. Isso significa, dado momento da vida da jovem gueixa, ela precisa se preparar para o mizuage, que nada mais é que o leilão da virgindade. Lembrando que, a gueixa pode ter um amante para lhe entreter, mas jamais deve transar com uns e outros, muito menos ter namorado/marido/rolo. Se tiver, automaticamente deixa de ser gueixa. Sei lá, a vida da Sayuri sempre foi comandada por terceiros, será que custava ela ter o direito de tomar essa decisão? Mas a vida de uma gueixa é cruel, por trás dos lindos quimonos de seda e das maquiagens impecáveis, havia jovens cujos destinos era comandados por terceiros, visando o lucro e algum prazer. Tudo muda quando vem a Segunda Guerra. Sayuri é obrigada a fugir e Gion muda completamente. Com a ajuda de seu danna (amante), ela consegue ir para Nova York abrir uma casa de chá. Já contei para vocês que as gueixas trabalham em casas de chá, cantando, dançando e entretendo os homens? Pois é, as casas de chá têm de tudo, menos chá. E foi esse danna que, mudou completamente a vida da gueixa.

Eu recebi o exemplar da Arqueiro, parceira do blog (que eu deveria ter postado mês passado, mas não deu) e está impecável, folhas amareladas, fonte confortável, não tem erros de digitação e revisão e todas as palavras em japonês tem seu significado (aprendi algumas hehehe). O autor escreveu esse livro com uma delicadeza única. Sayuri está conversando com o leitor, foi assim que me senti, conversando com uma gueixa, torcendo para ela sair das garras da Hatsumomo e absorvendo cada detalhe da vida dela. Sério, esse livro é tão incrível que me deu vontade de usar um quimono! Mas um quimono de verdade, não esses das lojas de varejo, que mais parecem um trapo surrado.

Sim, me alonguei e a resenha está enorme. Mas essa resenha não tem um décimo da mensagem que o livro transmite. E, vocês perceberam que, todos os citados nessa resenha tiveram o sobrenome escrito antes do nome? Lá no Japão é assim que escrevem o nome das pessoas: sobrenome + nome. Não à toa é Nitta Sayuri em vez de Sayuri Nitta. E pra terminar, Memórias de Uma Gueixa virou filme - de sucesso, aliás, ganhou 29 prêmios, incluindo três Oscars e um Globo de Ouro.




Olá!

Hoje eu trouxe uma resenha de um livro me surpreendeu: Agora e Sempre - Memórias.

Agora e Sempre - Memórias é um relato autobiográfico da atriz norte-americana Diane Keaton e de sua mãe, mrs. Dorothy Deanne Keaton Hall. O título já diz: é um livro de memórias.



Diane Keaton mescla trechos de oitenta e cinco diários de sua mãe com suas próprias histórias, o que forma um fato interessante: enquanto mrs. Dorothy foi Mrs. Los Angeles (uma espécie de Miss Brasil, mas voltado para as donas de casa), Diane saiu de casa ainda jovem para tentar a carreira de atriz em Hollywood. E ela misturou os relatos de sua mãe com cartas que a atriz mandou para a família enquanto fazia sua carreira em Hollywood com cartas que a mãe mandava para o pai com frequência. O resultado é uma história contada sob vários pontos de vista.

A vida de mrs. Dorothy foi complicada: foi abandonada pelo pai e, claro, criada com amor pela mãe. Conheceu Jack Hall, com quem viria a se casar, depois de fugir de casa (achei uma aventura perigosa, rs).

Mr. Jack Hall, pai de Diane, também teve uma vida triste: seu pai também foi embora de casa e sua mãe fez milagres para criá-lo. Era uma mulher ríspida e ignorante, sem amor para com o garoto.

O livro é muito bom, primeiro porque é uma autobiografia (e eu adoro autobiografias hehehe) e em segundo porque mostra uma linda relação entre uma mãe protetora e uma filha sonhadora, é uma relação delicada. A criação de Diane foi pautada no amor e compreensão entre seus pais e irmãos. Sem contar que ela descreve sua relações com Woody Allen, Warren Beatty e Al Pacino. São descrições breves, mas sucintas sobre como ela foi rejeitada e amada (será?) por ambos.

Posso afirmar que, quando Diane escreveu esse livro, aos 63 anos, ela ainda não havia cortado seu cordão umbilical com a mãe, o que demonstra como era a intimidade entre elas. Eu disse que ela descreve suas relações com Allen, Pacino e Beatty. Mas são relações breves, que não vingam. Por que será que Diane não quis se casar? Isso me deixou em incógnita. Sem contar que adora se menosprezar - gente, ela não se acha uma grande atriz, isso é chocante!


PENSAR. Pensar é o capítulo de abertura do livro, com mrs. Dorothy explicando porque devemos pensar. Uma ótima reflexão.

Uma passagem que eu gosto muito nesse livro é a que a atriz conta o motivo de ter adotado "Diane Keaton". Ela não poderia se chamar Diane Hall, porque, segundo ela, já existia uma atriz com esse nome. Então, pensou em adotar o nome de uma de suas irmãs (Dorrie). Poderia ter escolhido um pseudônimo, mas resolveu deixar tudo em família e tomou para si o sobrenome de solteira de mrs. Dorothy. Keaton. Diane Keaton.


Diane com seus filhos, Dexter e Duke.

Diane Keaton é a primogênita de quatro irmãos (os outros são Dorrie, Randy e Robin) e nasceu em 5 de janeiro de 1946. Ela contracenou em grandes produções como a trilogia "O Poderoso Chefão" e "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa", que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, em 1978. A atriz adotou dois filhos, Dexter e Duke.

Dorothy Deanne Keaton Hall morreu em 18 de setembro de 2008, vítima de complicações causadas pelo mal de Alzheimer.

Espero que tenham gostado da resenha! Mais alguém aí é fã de Diane Keaton?