Olá!
Já estava sentindo falta de resenhar algo do meu ídolo máximo Isabel Allende. Há tempos que eu queria ler A Ilha Sob o Mar, a capa é linda e a premissa é um tanto original. Quando me cansei de procurar, finalmente o encontrei. E é uma pena que eu não pude ter lido antes, por causa do TCC... Mas, agora sim, posso dividir com vocês minhas opiniões sobre essa linda história.
SKOOB - A Ilha Sob o Mar se passa no século XVIII e começa com o francês Toulouse Valmorain chegando na ilha de Saint Domingue (atual Haiti) para cuidar das propriedades de seu pai, que estava muito doente. Toulouse ficaria por pouco tempo, porém, com a morte do pai, ele acaba ficando em definitivo, justamente para cuidar das plantações de cana de açúcar do pai. Nesse meio tempo, ele conheceu a jovem espanhola Eugenia Garcia del Solar, com quem viria a se casar. E também a cortesã Violette Boisier, uma mulher considerada "de luxo", mas que acabaria criando uma amizade com o jovem.
Violette cuidaria dos preparativos da mudança de Eugenia para a casa do Valmorain, enquanto ele ia buscar sua prometida em Cuba, onde morava os Garcia del Solar. Para ajudar nas tarefas domésticas, a cortesã compra a escrava Zarité "Teté", de apenas 10 anos, que também cuidaria de Eugenia, que, com o tempo, teria suas doenças mentais agravadas (ela era doente, mas não sabia) pelos revoltosos haitianos. Lembrando que a escravidão no Haiti, diferente do que aconteceu no Brasil, teve muitas rebeliões (quase diárias, arrisco dizer) entre escravos e brancos. A escravidão no país durou 100 anos.
Só que, antes de Eugenia enlouquecer de vez, ela dá a luz ao pequeno Maurice. Enquanto isso, Valmorain faz de Teté sua escrava sexual. A escrava engravida e o senhor some com a criança. O tempo passou, Teté cresceu e teve outro filho de Toulouse, mas dessa vez, a escrava ficou com a criança - uma menina, que recebeu o nome de Rosette, em homenagem a Tante (tia, em francês) Rose, escrava e curandeira da região, conhecida por curar de brancos a negros com seus remédios poderosos.
Em paralelo à história de Valmorain e Teté, conta-se também a história do próprio território de Saint Domingue - era propriedade da França, Espanha ou Inglaterra? Nesse meio tempo, Valmorain e a família, por causa das perseguições, vão para Nova Orleans, nos Estados Unidos, onde Teté, depois de muito pelejar, finalmente consegue sua liberdade.
Tentei reproduzir aqui a imagem do acervo de Isabel, que aparece no cabeçalho deste blog. Um dia eu consigo. |
Por que Isabel Allende é meu ídolo? Porque ela consegue mostrar várias histórias e, ainda assim, contar uma história só. Cada personagem que aparece na história, terá sua importância na trama geral. Paralelamente, ela vai contar a real história do Haiti, com personagens como Napoleão e Toussaint Louverture e também como Nova Orleans passa das mãos francesas para as americanas. Além de, claro, contar como os escravos não tinham vida fácil nem como escravos muito menos como libertos.
Allende também explica, através de sua narrativa sucinta e de seus personagens que, mesmo fictícios, representam histórias reais, como a colônia de Saint Domingue passou de mais rica do mundo (por causa da cana de açúcar) a terra devastada, num intervalo de 100 anos - e está assim até hoje. Spoiler: as rebeliões foram um fator crucial para a ascensão e queda da colônia.
As 470 páginas não assustam, pelo contrário, a história flui tão bem que você se sente como um espectador (eu ficava com o coração na mão toda vez que a Teté sofria alguma coisa), você consegue ver claramente tudo o que acontece na trama. O livro fala também das religiões africanas (e como é possível acreditar nos deuses e no Deus católico também) e como Isabel deve ter estudado bastante para tal. O livro em si é uma grande aula de História - você pode rever alguma informação e/ou descobrir novos fatos históricos.
Sentia falta de ler algo dela e A Ilha Sob o Mar foi uma leitura muito gratificante. Ah, e a respeito do título, a autora desvenda a tal ilha logo de cara - e a revelação é muito linda.