Olá!
Depois de muito relutar, mergulhei em mais uma história escrita pela sueca Camilla Läckberg. E não é que minha xará não me decepcionou? Vem conhecer a história de Gritos do Passado, segundo volume de sua série criminal.
Resenha Anterior: A Princesa de Gelo
SKOOB - Infinitamente melhor que o primeiro, Gritos do Passado mescla várias histórias em uma. Primeiro, um garotinho vai brincar na Passagem do Rei, uma região próxima a uma praia, e acaba encontrando uma mulher morta. Porém, ao retirar o corpo do local, a polícia acaba encontrando mais dois corpos.
Enquanto isso, Erica Falck, que eu podia jurar que era a protagonista da série toda, está grávida de oito meses e morrendo de calor. Fjällbacka está em pleno verão e o calor tá de matar, rs. Volta e meia, um parente vai azucriná-la, achando que sua bela residência é uma pensão de veraneio. Por causa da gravidez, ela vai passar boa parte do tempo em casa, o que não será nada fácil, principalmente para uma pessoa que sempre foi ativa.
A outra história envolve a família Hult. Ephraim, conhecido pela alcunha de "O Pregador", era um dos vários pastores da chamada "igreja livre", digamos que era uma dissidência da Igreja da Suécia (lembrando que a Igreja da Suécia é protestante). Ephraim fazia vários cultos, acompanhado pelos filhos Johannes e Gabriel, até que um dia recebeu uma herança e parou de pregar.
Ele fez a população acreditar que seus filhos tinham o dom da cura. Enquanto eram pequenos, tudo ia bem, mas um dia o dom desapareceu de ambos. Gabriel ficou feliz com isso, mas Johannes quase surtou. Houve um cisma na família e cada irmão tomou seu rumo. Alguns anos depois, Johannes cometeu suicídio, deixando viúva Solveig (que engordou tanto que não lembrava a jovem de outrora, cheia de vida e vencedora de vários concursos de beleza) e dois filhos: Johann e Robert, um tanto problemáticos.
Do lado de Gabriel, ele casou-se com Laine e teve dois filhos, Jacob e Linda. Jacob era muito querido, isso porque teve leucemia infantil e quase morreu, sendo salvo pelo avô, o que deixou uma ferida muito profunda em Gabriel. Já Linda nasceu muito depois e não era tão amada assim, não por ser menina, mas porque não teve nenhuma doença grave. E gostava de provocar as pessoas.
A jovem encontrada morta é uma turista alemã, mas conforme os dias vão passando, vamos descobrindo cada vez mais detalhes, como por exemplo, o fato de que a vítima não tinha ido a Fjällbacka a passeio. Essa investigação ficou a cargo do marido de Erica, o policial Patrik Hedström, que teve que abandonar suas férias e terá bem mais destaque em relação ao livro anterior.
Ainda por cima conhecemos mais um pouco do cotidiano da delegacia de Tanumshede, onde Patrik trabalha com sua equipe: o chefe Mellberg (que comprou uma noiva por catálogo e essa cena é muito engraçada), o Ernst (que não gosta de trabalhar), o Gösta (que tem um passado meio triste), o Martin (parceiro de Patrik), a Annika (a secretária que sempre tem uma palavra amiga), e assim por diante.
Quando li Princesa de Gelo, senti que faltou algo a mais para me conquistar, mas dessa vez, a escrita da minha xará me pegou do começo ao fim, essa mescla de histórias que acabam se tornando uma só virou meio que uma marca registrada dela, não vejo muitos fazerem isso. Além do crime em si, Camilla aborda vários temas, como violência doméstica. A irmã de Erica, Anna, finalmente se separou do agressor, arrumou outro namorado (tão bosta quanto o primeiro, mas este tinha o sangue azul, sendo amigo íntimo da rainha Silvia, só isso) e tentou dar um rumo em sua vida, sempre priorizando os filhos. Mas quem disse que essas coisas se resolvem com facilidade?
Percebi que houve uma espécie de amadurecimento da escrita da autora. As descrições modorrentas deram lugas às descrições ágeis, detalhadas mas sem ser desnecessárias, fazendo com que o leitor visualize perfeitamente o que está acontecendo, os lugares, as pessoas, etc. E vale ressaltar que, na já citada mescla de histórias que faz, ela não se perde, talvez pelo fato da escrita ser em terceira pessoa ajuda a compreender melhor cada personagem.
E a história em si é um verdadeiro thriller. Com tensão do começo ao fim, infelizmente a Erica não terá o protagonismo de outrora, aqui ela foi relegada a uma gestante em vias de ter seu primeiro filho (cujo sexo não sabemos), acabou por se tornar a esposa do policial, mas sempre procurando ajudar o marido, que se desdobra entre cuidar da esposa e resolver os crimes, além de tentar entender a complicada família Hult, que por mais que tente se livrar das acusações, está inexoravelmente ligada a eles - e a própria Fjallbacka também.
Antes da Planeta fazer umas capas horríveis (os livros seguintes receberam uma capa de dar dó), provavelmente sabendo que a série não vendeu (se não divulgar não vende mesmo, amiguinhos), o trabalho de edição, capa e revisão ficou muito bom. Até onde estou sabendo, no país foram publicados quatro volumes (de dez, e a autora confirmou via Twitter que vai focar em uma série nova) e, apesar de eu ser suspeita para falar de romance policial escandinavo, tenho que recomendar a série da Camilla, por mais que esteja incompleta, tem um estilo próprio, que mostra ao leitor como é a vida dos suecos fora dos grandes centros - e como nenhum lugar daquele país (que beira à perfeição) está seguro de sediar crimes tão horrendos.
Então, apesar de eu não ter curtido tanto o anterior, recomendo demais esse volume. Até porque não é todo dia que uma mulher ganha destaque escrevendo romance policial. Sem falar que, dessa vez, eu acertei a famosa pergunta "quem matou?", com direito a acertar até mesmo a motivação! Então sim, estou contente com a resolução dessa história e, assim que virar o ano, pretendo ler o volume seguinte, O Cortador de Pedras.