Olá!
Quem gosta de histórias com bebês? E quando o bebê é o narrador da história, sendo que ele nem nasceu? Isso mesmo, o bebê não nasceu, mas ele vai narrar Enclausurado, do Ian McEwan. Demorei por causa da saúde, mas trouxe a resenha, confiram.
SKOOB - Enclausurado é uma história que foge muito do convencional logo de cara, quando sabemos que o narrador da história é o bebê, que ainda não nasceu. Isso mesmo, o feto é quem vai narrar a história, que começa com Trudy, sua mãe, tentando se livrar de John Cairncross, poeta e pai do bebê. Trudy está separada de John, porém é ela quem está morando na casa que era dele, uma mansão caindo aos pedaços. Que vale sete milhões de libras - nem preciso mais ressaltar que essa história se passa em Londres.
Trudy quer a casa e, para isso, vai contar com a ajuda de Claude, irmão de John - e seu amante - para bolar um plano e tirar o poeta do caminho do casal. O feto, na verdade, está chegando aos nove meses de gerado e, por ser um bebê, ele é muito inteligente. Ouve e sente tudo, apesar de que alguns conceitos ainda são abstratos para eles, como o "azul" e o "dourado".
O bebê - cujo sexo será revelado ao longo da história, de maneira muito sutil - é bem inteligente, e se preocupa com o mundo em que viverá. Ele está feliz por nascer na Inglaterra, mesmo tendo querido nascer na França - e ficar muito mais feliz por não nascer no Afeganistão. Nosso narrador está a todo momento pensando no que vai aproveitar, pelo simples fato de ter nascido no século XXI.
Em diversas passagens, vemos através do bebê os caráteres dos personagens. O mais engraçado é ver a aflição do bebê toda vez que Claude transa com Trudy, pois ele teme que o esperma de seu tio o contamine e, assim, ele se torne tão idiota quanto Claude. Isso acontece também quando Trudy nunca fala com carinho sobre o bebê; ele teme que será descartado ou coisa assim.
O narrador é muito esclarecido: através de programas e podcasts que a mãe ouve, o bebê vai se atualizando sobre o mundo e sua sociedade - e como ele é sortudo por nascer em 2017, sempre lembrando que diversos conceitos ainda são abstratos para o bebê, porém outros são muito claros para ele.
As 199 páginas voam, mas eu fiquei doente nesse meio tempo, então demorei uma semana para ler. Para um livro bem fininho, tem muita carga emocional, muita reflexão, e alguns momentos engraçados. Ian narra com maestria sob o ponto de vista do bebê, o que sabemos que é bem difícil, já que, todo mundo nasceu e ninguém se lembra de como era no útero...
A edição da Companhia está bem bacana, esse preto com o bebê no útero como destaque está show de bola, simples porém sucinto. Espero que seja o primeiro livro de muitos que eu venha a ler do Ian. Leitura muito recomendada.