Olá!

Não sou de resenhar biografias, porque nunca tenho palavras para descrever o que a vida do biografado fez com a minha - no sentido de, a mensagem da vida da pessoa transformar a minha. Ou pelo menos me trazer alguma lição. A Ani, do Entre Chocolates e Músicas (a resenha original foi postada lá) me cedeu, em parceria dela com a Universo dos Livros, o livro Minha Vida com Pablo Escobar, cuja vida realmente me fascina - porque o que ele fez dificilmente será feito por outro.
SKOOB - Minha vida com Pablo Escobar é o relato brutal e verdadeiro de Jhon Jairo Velázquez, o Popeye, o braço direito do maior narcotraficante que a América Latina (e talvez o mundo) tenha visto. O livro começa com Popeye se apresentando e contando brevemente sobre sua vida antes de conhecer o Patrón. Vindo de um bairro pobre de Medellín, no departamento* de Antioquia, Jhon não teve muitas oportunidades, logo, caiu no crime e, de infração em infração, chegou no submundo do narcotráfico.

*A Colômbia possui 32 departamentos, que são equivalentes aos estados brasileiros. O que me surpreende, pois, o território colombiano não é tão grande como o brasileiro.

Popeye ascendeu sob o comando de Pablo, chegando no posto mais alto: lugar-tenente, que significa ser um homem de confiança do narcotraficante. O narrado conta com frieza como ajudou o Patrón nos mais diversos tipos de crimes, desde homicídios, como o do então ministro Rodrigo Lara Bonilla, até explosões, como a que derrubou o avião da Avianca em pleno voo.

A maioria das informações sobre Pablo descritas por Popeye eu já sabia, tendo em vista que li as duas outras biografias a respeito de Pablo, escritas por seu filho e publicadas no Brasil pela Planeta, e também porque assisti a série colombiana “Pablo Escobar – El Patrón del Mal”, disponível na Netflix – recomendo fortemente, principalmente pelas imagens reais da época, que enriquecem a trama. Então, o livro realmente ficou bom (não que antes não estivesse, mas é que, como disse, já sabia de muita coisa, então serviu mais para relembrar) quando Popeye se entrega a justiça e vai parar na cadeia.
Na cadeia, começa o calvário de Popeye, que vai passar de presídio em presídio, tentando sobreviver a cada dia, por 23 anos. Eu não consigo imaginar um ser humano trancafiado por tanto tempo numa cadeia. Não vou entrar no mérito do merecimento, mas 23 anos é uma vida. Eu tenho 23 anos. O que eu tenho de vida, esse homem tem de cadeia. Não estou dizendo que ele não mereceu ficar preso – claro que mereceu – mas o que pude perceber no decorrer da leitura é que ele foi uma espécie de bode expiatório – ele pagou por todo o cartel de Medellín.

Esse livro me lembrou o extinto jornal Notícias Populares, que circulou entre os anos de 1963 e 2001 e se popularizou por conter matérias de violência, crimes, etc. Era reconhecido porque o povo dizia que “se torcer sai sangue”. E o relato de Popeye é como esse jornal: você vai virando a página e alguém vai morrendo. É carnificina pra Datena nenhum botar defeito!

Outra coisa que, por incrível que pareça, foi como um tiro pela culatra: Pablo Escobar sempre lutou pelo fim da extradição de narcotraficantes para os EUA, para serem julgados naquele país. A primeira coisa que me chamou a atenção foi: se o tráfico nascia na Colômbia, porque raios os narcos teriam que ser julgados nos EUA? Claro que a droga chegava lá, mas ela também chegava na Europa, na Ásia, no Brasil... Escobar conseguiu, através de uma Assembleia Constituinte, que fossem proibidas as extradições. Mas, mais incrível ainda, os caras que mataram Pablo (os chefões do cartel de Cali, rival do de Medellín) fizeram com que essa lei fosse revogada. Em suma: o que Pablo conseguiu foi em vão, porque a galera que matou ele foi extraditada anos depois.

E essa parte da extradição me chama a atenção desde que comecei a saber sobre o Patrón: será que a Colômbia não tinha capacidade para julgar seus criminosos, mesmo que as Instituições de justiça estivessem contaminadas pela corrupção (e pelo paramilitarismo)? E porque diabos os Estados Unidos não sossegam o facho, com essa maldita mania de querer se meter nos assuntos (e na soberania) dos países alheios? Não à toa, tem tanto país em guerra...

O interessante também foi ver como Popeye amadureceu, se acalmou, firmou sua união com Deus e, assim, foi sobrevivendo às prisões, torturas, tentativas de assassinato e etc. Em nenhum momento ele se afastou de Deus, porém, Popeye credita as mudanças em sua vida a Deus no céu e aos profissionais, que, no presídio, o fizeram trabalhar, estudar, e melhorar como ser humano. Ele só esqueceu de dizer se voltou a falar com seu filho, de quem se separou quando ele foi transferido de presídio e acabou se afastando de toda sua família.

Por mais que tudo sobre Pablo Escobar tenha sido falado, escrito, virado filme, documentário e novela, a vida do narcotraficante mais famoso da Colômbia sempre será tema de conversas, estudos, investigações... enfim, um homem que teve uma vida incrível, que poucos tiveram. Só precisamos tomar cuidado para não endeusá-lo, como muita gente vem fazendo, achando que é legal ser traficante, porque ganha dinheiro, fama e poder. Não se esqueçam que foi a sede de poder que derrubou Pablo Escobar.

Jhon Jairo Velázquez, depois de viver tudo isso, saiu da cadeia recentemente, em liberdade condicional, e hoje vive em Medellín, de onde jura que não sai nem vivo nem morto.

Ani, novamente, obrigada por ceder o livro, em parceria dela com a Universo dos Livros. Foi uma grata leitura, principalmente pelas novidades trazidas por Popeye acerca do maior narcotraficante que a América Latina (e talvez o mundo) tenham visto.



Olá!

Mais uma sexta novinha em folha e nada como começá-la com uma resenha de um livro maravilhoso. Esse quem me deu foi a Ani, do Entre Chocolates e Músicas, que me cedeu gentilmente para resenha no fim do ano passado. Lembro que ela me deu numa sexta e, no sábado, já tinha devorado a obra, de tão linda que é. E o mais impressionante: é uma história real. Confiram a resenha de Cartas de Amor em Paris, publicado pela Universo dos Livros.
Cartas de Amor em Paris é o relato autobiográfico da norte-americana Samantha Vérant. Em 1989, aos 19 anos, durante uma viagem pela Europa com sua amiga Tracey, ela conhece o jovem Jean-Luc, em um belo restaurante de Paris. Jean-Luc estava acompanhado do amigo Patrick. Os quatro formaram um belo grupo, e resolvem passear pela Cidade-Luz mas, em dado momento do passeio, os casais se separam e Sam e Jean-Luc vivem momentos incríveis. Mas, como nem tudo são flores, ela precisa seguir viagem, deixando o jovem em Paris, mas levando consigo sensações únicas.

20 anos depois, Samantha vê seu casamento ruir. Seu fiel escudeiro é seu cachorro Ike. Além disso, ela perdeu seu emprego de diretora de arte. Pra você ver que não tá fácil, ela tá endividada até a alma. E desempregada. Tracey lembra de Jean-Luc, como uma forma de dar alguma alegria para a amiga. E ela se lembra de sete cartas que o francês escreveu para ela ainda em 89. A amiga dá a ideia para Sam criar um "blog do amor", onde as pessoas mandariam suas cartas de amor e, se fossem tão boas quanto as de Jean-Luc, elas seriam publicadas. Mas Samantha teve uma ideia melhor. Resolveu responder as cartas de Jean-Luc. 20 anos depois. Sim, ela não respondeu as cartas do cara.

Ela postou na internet alguns trechos de algumas das cartas. Nesse meio tempo, criou coragem e, após pesquisa no Google, encontrou o email de Jean-Luc. Enviou uma mensagem, em que pedia desculpas. E qual foi a surpresa quando, além dele ter respondido, ele ter respondido positivamente! Primeiro, foi a troca de emails, depois, vieram as ligações, onde eles falavam sobre tudo: desde o casamento ruim de Sam, em que chegou ao ponto de ela e seu marido dormirem em quartos separados até o divórcio de Jean-Luc, passando pela falência iminente dela e da ciência de foguetes dele.

Por incrível (e ficcional) que possa parecer, mesmo depois de duas décadas, Jean-Luc não tinha conseguido esquecê-la. E ela também não o esqueceu. Incrível. Ele, então, convida Sam para passar dez dias em Paris - ela mora na Califórnia. E ela foi, mesmo estando quase falida (ele pagou a passagem com milhas acumuladas). E quando se encontraram, nem parecia que tinha passado duas décadas, já que a chama da paixão ficou acesa todo esse tempo - e pegou fogo de vez quando chegaram ao hotel.
Estou apaixonada por esse livro! Além de ser super romântico, ainda é engraçado! Durante vários momentos, me peguei gargalhando cada vez que Samantha pagava algum mico, principalmente quando ia falar algo em francês - em uma das passagens, ela queria pedir um canudo (une paille) mas acabou pedindo sexo oral (une pipe). Mas, mesmo com essas situações engraçadas/bizarras/constrangedoras, Jean-Luc mostra-se um completo cavalheiro, um príncipe encantado.

Romance sempre será meu gênero favorito por excelência, mas adoro um relato autobiográfico. E se for um livro que junte as duas coisas, a chance de eu amar é enorme! Não conhecia esse livro, pesquisei por ele no site da Universo dos Livros e resolvi pedir apenas lendo a sinopse. E não me arrependo! A edição está impecável e a capa está bem bonita, mesmo tendo rostos, que é algo que não curto em capas. Só achei dois errinhos, que me deixaram confusa, mas relendo, deu pra entender perfeitamente.

Apesar de eu não acreditar que possam existir homens maravilhosos e perfeitos como Jean-Luc, o livro de Samantha é uma ode ao amor verdadeiro. É como se ele dissesse "ei, apesar de tudo, é possível sim ser feliz!". E olha que a moça sofreu, tanto com o pai biológico (um lixo de pessoa) como com o ex-marido (um idiota), mas com Jean-Luc, tudo é diferente, bonito e legal.

Pesquisando no site da autora, vi que em abril de 2017, ela vai lançar seu segundo livro "How to Make a French Family: a memoir of love, food and faux pas" (Como fazer uma família francesa: uma memória de amor, comida e gafes, em tradução livre). em que ela vai contar seu dia a dia na casa nova, no sudoeste da França, com seu marido e os dois filhos adolescentes dele (de um relacionamento anterior). Só espero duas coisas: 1) que ela tenha conseguido ter seu filho (o que acho difícil, já que ela reencontrou Jean-Luc beirando os 40) e 2) que a Universo dos Livros traga esse livro para o Brasil.

Essa é a leitura mais que adequada para curar uma ressaca literária. Uma história real, romântica e engraçada também. Daria um ótimo filme pra Sessão da Tarde (de preferência com Jennifer Aniston). Agora só me resta entender o que leva uma pessoa a ignorar cartas de amor. Por 20 anos. E como consegue aplacar a saudade todo esse tempo...

P.S.: as cartas são divulgadas ao longo da trama. E é uma mais linda que a outra.


Olá!

Quero mais feriado. E vocês? Bem, depois de ler alguns livros românticos e distópicos, hora de trazer a resenha de um livro que mostra uma das maiores tragédias da Humanidade de um ponto de vista único. Acredito que muitos já assistiram o filme A Lista de Schindler. Alguns dos meus colegas de trabalho viram e elogiaram. Há 15 dias, estava na seção de biografias da biblioteca que frequento vi que o livro estava lá, lembrei das opiniões de meus colegas e acabei pegando emprestado. Desfrutem a resenha de A Lista de Schindler - A Verdadeira História.



A Lista de Schindler é narrado por Mieczyslaw "Mietek" Pemper, que viveu em um campo de trabalhos forçados (que depois virou campo de extermínio) de Plaslow, em Cracóvia, na Polônia. Ele trabalhou (trabalhou é modo de falar, ele foi obrigado a trabalhar) por mais de 500 dias diretamente com Amon Göth, comandante desse campo, na função de estenógrafo pessoal. Estenografia é a técnica que permite escrever com rapidez usando caracteres abreviados.

Mietek conta - para suas anotadoras, as pesquisadoras Viktoria Hertling e Marie Elisabeth Müller - como foi conviver sob o domínio de Hitler e como sobreviveu - partindo da premissa de que Göth era muito nazista e Pemper era um detento judeu que tinha acesso a várias informações secretas. Em mais um dia de trabalho aparece Oskar Schindler, que, através de suas articulações, montou uma lista que tinha mil nomes - 700 homens e 300 mulheres - que Schindler levaria de Cracóvia para um outro campo de concentração, assim, esse pessoal acabou escapando de Auschvitz, um dos símbolos do nazismo.

O livro nos faz refletir sobre como a maldade humana toma formas inimagináveis. Em vários momentos, Pemper mostra como a propaganda de Hitler mostrou um povo judeu como inferior e o povo alemão como o superior, o melhor de todos. Essa obra dá de 10 a 0 em qualquer aula de história. A leitura é mais que recomendada. Apesar da lista só ter salvo cerca de mil pessoas. o ato ficou eternizado pela coragem e audácia de Schindler e também de sua esposa, Emilie. Quantos alemães estenderam as mãos para os judeus nessa época? No total, seis milhões morreram sob o poder de Hitler e mais outros milhões fugiram para os mais diversos lugares, como Israel, EUA e até mesmo o Brasil, quem diria. - Um exemplo de judeu polonês que veio parar no Brasil é Samuel Klein, fundador das Casas Bahia, morto em 2014.

A edição da Geração está incrível, sem erros de português, um ou dois erros de digitação e no final conta com um anexo com todas as patentes da SS. As patentes da SS são próprias da organização, no livro todas estão em alemão, o que confunde um pouco no começo, mas conforme a leitura vai fluindo, o leitor vai acostumando.

Não vi o filme, mas o narrador diz que, por diversas questões, muitos fatos foram romantizados, para ajudar na compreensão de quem assiste. Então, já de cara, não pretendo ver o filme. A produção de Steven Spielberg levou milhões às salas de cinema em todo o mundo. Claro que o filme ajuda na compreensão da história, mas o livro é muito mais detalhado. Pemper não deixou faltar nada.

A lista estava em uma maleta, a "Maleta de Schindler", encontrada em sua casa 25 anos após sua morte, em 1999. Depois de ter salvo mais de mil pessoas, viveu no anonimato, separou-se de sua esposa e faleceu em 1974. Pemper depôs contra Amon Göth, em 1946. Sua participação na história só veio à luz em 1993, justamente por causa do filme. Ele faleceu em junho de 2011, na cidade de Augsburg, na Alemanha.

Adoro ler romances, distopias e YA,  mas também adoro relatos biográficos. Eles nos tiram da zona de conforto literária, além de nos trazer boas lições e nos ensinar sobre grandes momentos e pessoas. Leitura mais que recomendada.