Olá!

Agora que tenho Netflix, fico colocando vários filmes e séries na minha lista. A priori, costumo ver por causa de determinado/a ator ou atriz. Depois de uma overdose de Richard Gere (Noites de Tormenta, As Duas Faces de Um Crime, Uma Linda Mulher e Sempre ao Seu Lado - vejam todos, por favor!), resolvei procurar por filmes do meu ator sueco favorito, Michael Nyqvist. E dei de cara com o inquietante A Garota do Livro.

Título Original: The Girl in the Book
Ano: 2015
Elenco: Emily VanCamp, Michael Nyqvist, Ana Mulvoy Ten, David Call e elenco.
Duração: 1h26m

A Garota do Livro conta a história da assistente editorial Alice Harvey, uma mulher que possui muitos conflitos em seu interior. Seu trabalho consiste em encontrar novos talentos da literatura (que, nos EUA, nem preciso dizer que vende como pão quente). Ela batalha com seu chefe para que ele leia um determinado manuscrito. Só que o chefe (FDP) lhe passa uma tarefa: cuidar da divulgação de "O Despertar", um best-seller que, pela primeira vez, ganharia uma edição digital. Até aí tudo bem, se Milan Daneker não tivesse seduzido (abusado de) uma Alice de apenas 14 anos.

Milan Daneker é best-seller de longa data e "O Despertar" é sua masterpiece. Logo no primeiro reencontro entre os dois, Alice tenta se esconder, mas não adianta. Ele, com sua lábia, acaba trocando algumas palavras com ela. E logo vêm à mente da moça a lembrança de como se conheceram. Em uma festa, através do pai de Alice, que era amigo de Milan e editor literário.

Conforme ela vai cuidando da divulgação do e-book, as lembranças de sua relação com Milan surgem de maneira rápida. Como o telefone dele foi parar em sua agenda, os encontros às quintas-feiras, onde discutiam os escritos da adolescente e o que ela fazia ou deixava de fazer na escola, os primeiros assédios... Ah, faltou dizer que Alice sonha em ser escritora, mas, mesmo sendo filha de editor e assistente editorial, nunca conseguiu escrever alguma coisa.
Como eu disse lá no início, eu resolvi assistir a esse filme mais pelo ator do que pela história. Tenho o hábito de procurar comentários dos filmes que vejo no Filmow (que é mais legal que o Adorocinema), e apesar de alguns spoilers terem escapado, percebi que a maioria achou o filme raso quanto à abordagem do abuso sexual. Mas eu tive que discordar de muita gente. Pelo que percebi o foco não era no abuso em si e sim nas consequências que isso trouxe na vida adulta de Alice.

Ela não conseguia escrever, nem se estabilizar num relacionamento. Temia o pai, um cretino cujas ordens ela não ousava rebater (nem quando o assunto era comida), não confiava na mãe (essa eu odiei com toda a força do meu ser) e, mesmo tendo um emprego legal, não era ouvida pelo chefe, se sentia um lixo. Não ia bem nem nas aulas de escrita criativa. E quando conheceu Emmett, colocou tudo a perder. Tudo por culpa de um maldito abusador - na sinopse da Netflix está escrito que o cara "seduziu" a jovem, mentira, foi abuso mesmo.

Pelo que pesquisei, é um filme independente, então não esperem ação, é um exemplo de filme de arte. Sobre as atuações: Emily VanCamp (de Revenge), a Alice adulta, foi espetacular em seu papel, deu um show. Convincente até o último fio de cabelo, Emily representou uma Alice tão forte quanto um castelo de areia, mas que foi amadurecendo e aprendendo a lidar com o que aconteceu, mesmo com essa mancha em seu passado tendo voltado à tona com tudo.
Melhor amizade.
Já Michael Nyqvist (o único editor possível para a Millennium) me surpreendeu. Tirando seu papel nos filmes da trilogia, só vi duas produções com ele: De Volta ao Jogo, em que ele é um vilão russo que sai matando todo mundo, além de uma participação de 10 minutos no filme "Invasão de Privacidade", em que ele precisa livrar a casa do Pierce Brosnan de um hacker. Aleatório: assisti De Volta ao Jogo muito antes de Os Homens que Não Amavam as Mulheres e não me liguei que o russo e o jornalista eram a mesma pessoa. O que uma barba não faz... Voltando ao filme, que atuação! Como o best-seller Milan Daneker ele convenceu demais, a ponto de eu ficar aflita toda vez que ele ficava a sós com a menina.

Uma salva de palmas vai para Ana Mulvoy Ten. Guardem este nome. A jovem atriz foi incrível como a Alice adolescente. Apesar de ela parecer meio sonsa de início, você vai torcer por ela quando Milan começar a visitá-la. Como Alice é quieta e Ana tem cara de tímida, deu certo, acabou lembrando a Lolita, de Nabokov. Pelo que pesquisei, ela não tem tantos papéis na carreira, mas ainda é jovem e talentosa, logo menos ouviremos o nome dela em grandes produções.
Como eu disse, esse filme me deixou aflita. Ele nos faz refletir, é inquietante, nos lembra de Lolita, fala de abuso (e pedofilia, tendo em vista que ela era menina) e como isso dilacera a mente e a alma da pessoa, principalmente se falta apoio daqueles que cercam a vítima. Mostra também um pouco de como funciona uma editora (é bem raso, mas válido) e o mais importante: como funciona a mente de um pedófilo, sempre moldando os fatos a seu gosto.

Então, por favor, deem uma chance a esse filme e assistam - e depois venham conversar comigo, eu preciso falar com alguém sobre essa história.

P.S.: o abuso que Alice sofreu começa quando ela toma uma certa decisão - absurda. E, acreditem: nem assim, nem em nenhuma outra situação, a culpa é da vítima. Jamais. Podem ter certeza.
– Você é a garota do livro?
– Não sou mais.