Olá!

Agora no ritmo epistolar, vamos com um romance húngaro real, dolorido e lindo. Duas pessoas que, antes do primeiro beijo, trocaram uma incrível quantidade de cartas. Eles são os pais do diretor de teatro e agora escritor Péter Gárdos e esta é sua história.
SKOOB - A Febre do Amanhecer, a priori, pode ser visto como um livro bobinho com um final óbvio, mas a beleza dessa obra está nos detalhes. Sabendo disso, vamos conhecer Miklós, um húngaro que está a caminho da Suécia, depois de ser libertado do campo de concentração de Bergen-Belsen, em julho de 1945. Ele e vários outros chegam à gelada ilha de Gotland, onde receberão cuidados médicos.

Miklós tem 25 anos, é militante socialista (chato, aliás), então decide escrever cento e dezessete cartas para diversas húngaras que também estão em hospitais de campanha ao redor do país, na esperança de que alguma lhe responda. Algumas lhe responderam, mas só uma lhe chamou a atenção: a da jovem Lili Reich.

Lili, judia, também vinha de um campo de concentração, mas estava sendo tratada em outra região da Suécia. De início, ela fica ressabiada com aquela estranha carta, mas acaba respondendo. E a troca de cartas duraria seis meses. Miklós precisaria lutar contra muita gente para poder ficar com sua amada, já que seu médico, o dr. Lindholm, lhe dera somente seis meses de vida, por causa do pulmão doente. A favor do nosso jornalista (por oito dias e meio), Harry, um grande amigo (gostei dele).

Do lado da moça, as coisas não eram melhores. Ela tinha duas amigas, Sara, um doce de pessoa, e Judit Gold, invejosa e recalcada. Sara apoiava o romance, Judit queria distância. E quando Lili manifestou seu desejo de se converter ao catolicismo, aí piorou, eu quis entrar no livro e socar a "amiga". Ou seja, se esse amor suportou a distância, as doenças, o frio e a guerra, não seriam os médicos ou as amigas que separariam os dois.
Essa história só pôde chegar a nós, leitores, graças a Lili, mãe do autor. Péter Gardos é diretor de teatro e cinema, mas A Febre do Amanhecer é seu primeiro livro. Isso porque, nos idos de 1999, sua mãe lhe entregou os dois maços de cartas, como se dissesse "vá e conte nossa história". Não sou dessas românticas incuráveis, mas tenho que aplaudir a forma como Péter conduziu a trama. Mesmo sendo baseada numa história real, ele a contou de maneira muito delicada, mesmo com as partes em que a guerra é uma lembrança vívida nas mentes de Miklós e Lili.

Durante a obra, podemos ver diversos trechos das cartas de ambos, uma mensagem mais linda que a outra - menos as de cunho socialista, essas eram chatas. Miklós, além de jornalista, era poeta (e dos bons) e volta e meia presenteava Lili (e nós leitores) com uma encantadora poesia. Vale ressaltar também o trabalho da Companhia das Letras em traduzir DIRETO DO HÚNGARO. Alguém neste país fala húngaro. E isso é importante (pelo menos pra mim) porque não se perde muito na hora de traduzir, temos um texto perfeitamente fiel ao que o autor quis passar - sem falar que falar húngaro deve ser bem legal; já pensou, você chega em algum lugar importante e solta "eu falo húngaro", poxa, tem todo um status, rs.

Ainda sobre a parte da editora, a capa com certeza é uma réplica de alguma das cartas, junto com selos e carimbos, o que dá um ar super nostálgico à história. Como Péter é diretor de cinema, é claro que A Febre do Amanhecer viraria filme. Dirigido pelo próprio autor, claro. E, segundo o trailer abaixo, é tão lindo - mesmo eu não entendendo uma palavra de húngaro, vi que algumas imagens são fieis ao livro. Conheço muito pouco do cinema deste país, mas acredito que é uma produção muito bem feita.

Foram as melhores 215 páginas que li até o momento este ano. Apesar de ter um final óbvio, não tem como não ler, a beleza está nos detalhes. Pra quem ia viver seis meses, o que lhe aconteceu foi um lucro e tanto...