Olá!

O resenhado de hoje é o livro A Cidade e os Cachorros, de Mario Varga Llosa.



Esse livro - que li em versão digital, mais uma vez conseguido através da Ani -  conta a história de Alberto, um jovem que é enviado ao Colégio Militar Leôncio Prado, no distrito de Miraflores. No colégio, ele passa por poucas e boas, como no dia do batismo (leiam trote violento, aqueles que são comuns nas universidades). Esse livro também tem fundo autobiográfico. Mario realmente estudou no colégio Leôncio Prado, e provavelmente passou por muitos dos momentos descritos pelo cadete Alberto. Chega a ser inacreditável, o colégio mais parece a antessala do inferno porque os alunos vivem brigando entre si e sendo humilhados pelos maiores – e pelos superiores, vide a brincadeira do ângulo 90º. Era o código de conduta da instituição.

Basicamente, Alberto foi parar na escola militar porque seu pai queria livrar-se dele e porque o pai não queria que o garoto virasse bandido. Segundo Alberto (e portanto, o autor), as famílias mandavam os garotos para o Leôncio Prado por dois motivos: para que não virassem bandidos ou para que não virassem gays. Sim, eu sei que não dá pra “virar gay”, ou se é ou se não é, mas estamos falando da sociedade peruana da década de 50, outra gente, outra mentalidade. Pois bem, assim como Alberto, vários garotos chegavam ao colégio de todas as partes do Peru para sentirem na pele como era a vida militar. Enquanto os garotos tentam sobreviver no inferno, digo, escola, eles passam por momentos que qualquer adolescente passaria, como o dia que o Alberto fugiu da escola para ver uma garota, encobriu a travessura de um colega...

Claro que, nem tudo é cruel, eles também se divertem... de uma maneira sórdida, mas pra eles é diversão. Tem uma parte do livro que Alberto e seus colegas (os cachorros)  – sim, ele conseguiu fazer amizades apesar de tudo – fogem para um bar que fica ao lado da escola – você vai ter que ler para saber como isso foi possível – e começam a beber e de repente começam a tirar os uniformes e acabam transando (conhecido popularmente como “dar a bunda”. Não queria escrever isso em respeito a você que me lê, mas não achei nada melhor para descrever a cena).

A história te faz refletir sobre muitas coisas. Fiquei pensando como o autor sofreu nesse colégio, ainda mais porque foi contra sua vontade. Não só Alberto, mas muitos de seus colegas não queriam ser militares. Alberto queria ser engenheiro (não disse que era um relato autobiográfico? Vargas Llosa queria ser escritor, mas é formado em Direito). E os que queriam ser militares desistiam da ideia assim que passavam pela humilhação do ângulo 90º. Ângulo 90º nada mais é do que você deixar seu corpo como se estivesse em ângulo de 90 graus e alguém dar um belo chute no seu traseiro. Ou isso ou seis pontos negativos na sua média escolar.

Enfim, deixando o sadismo de lado, recomendo o livro porque é uma história que tem aventura, tem um forte relato e não tem romance!!!!!! De vez em quando, é bom tirar a cabeça dos romances clichês e ler uma história mais pesada! Nõ a toa, Vargas Llosa é Nobel de Literatura, ele desenha a trama como poucos. Outro escritor dificilmente faria do jeito que ele fez, até porque nenhum outro escritor que tenha estudado em escola militar tenha escrito algo parecido.

PS 1: depois de ler esse livro, dei graças a Deus por ter nascido mulher e não precisar fazer serviço militar. Acabei por me lembrar de um tio meu que serviu o exército há mais de dez anos.

PS 2: pesquisei na internet e sim, o Colégio Militar Leôncio Prado ainda existe e está firme e forte, chamando novos jovens para suas fileiras. Aí na foto abaixo, o prédio mais parece um presídio, rs.



Deixaria um romance de lado para ler o primeiro livro que Mario Vargas Llosa publicou?