Olá!

O livro é recente, mas dada sua importância e relevância, faz-se necessário ler e compreender sua mensagem. Portanto passei a virada do ano ao lado de Margaret Atwood e sua masterpiece (acho), O Conto da Aia.
SKOOB - O Conto da Aia conta a história de uma república no século XXI, mas bem à frente do nosso tempo e quem a narra é a Offred. Ela é uma aia, cuja única função é engravidar. Houve uma revolução e o que eram os Estados Unidos agora são repúblicas independentes. Offred mora na república de Gilead. A revolução foi teocrática então tudo é feito de acordo com os preceitos bíblicos. Offred foi arrancada da sua vida e tudo que tinha antes lhe foi tomado e agora sua função é só gerar filhos. Para os outros.

Houve muitas guerras nucleares ao longo do século, resultando na morte de muita gente, então quando os religiosos tomaram o poder (seja eles de qual religião for) as aias foram a solução encontrada para poder retomar o controle de natalidade ao considerado normal, porque além de muitos soldados terem morrido, muitas mulheres ficaram estéreis por causa dos efeitos das bombas nucleares. Elas pariam desde bebês saudáveis a coisas bizarras.

Então as mulheres - do ponto de vista bíblico - impuras, como as lésbicas, as adúlteras, as que vivem na condição de amantes, etc., são candidatas a se converter a aias, desde que sejam férteis. As que não eram iam para as colônias e, no prazo de três anos, acabavam morrendo por causa da forte exposição à radiação já que ficavam lá trabalhando forçadamente.

Já as mulheres da elite são as Esposas, as empregadas são as Marthas e as pobres são Econoesposas. As Tias são responsáveis por doutrinar as Aias. Sendo assim, os Comandantes é quem mandam – apesar de não sabermos o que eles comandam. Como em toda ditadura, todos temem ser traídos, e com Offred não é diferente. Por ser mulher, seus castigos são piores. Ela tem bastante tempo livre, já que, como sabemos, sua única função é engravidar. Então aproveita pra nos contar como é a vida em Gilead.

Diferente das distopias que estamos acostumados, Offred ficará passiva durante toda a trama, apenas relatando seus pensamentos e atos. Seu nome verdadeiro não é revelado e podemos ver como era sua vida antes da revolução. Aliás, ela perde tudo: sua conta bancária, sua família (marido e filha) e até mesmo seu nome. Offred significa que ela pertence a alguém chamado Fred: Of ("de", portanto Do Fred).
O mais surpreendente dessa obra é que é muito atual. Foi escrita em 1985 e de lá pra cá nada mudou. É verdade que não vivemos numa ditadura, mas o fundamentalismo está mais forte, assim como o conservadorismo e outros pensamentos retrógrados que estão voltando à baila. Porém, o que talvez explique o sucesso da obra – a ponto de virar série de TV – é que todos esses assuntos – além dos consagrados machismo, sexismo e relação Estado-Igreja – estão sendo discutidos. As mesas de bar deram lugar às redes sociais, e todo mundo tem acesso a isso.

A narração é em primeira pessoa, e graças as descrições de Atwood, podemos ver com clareza os mecanismos de Gilead para manter tudo em ordem, através de seus Olhos (os soldados que prendem os que agem “fora da lei”) e seus Anjos (os que vão para a guerra). Aliás, acerca do texto, tem muitas vírgulas, um festival delas. Por um lado, isso me incomodou, cheguei a achar que fosse erro de tradução, mas por outro, penso que elas estão ali para causar algumas sensações no leitor, deixá-lo no suspense ou fazê-lo refletir.

Postei essa imagem no Twitter (minha conta pessoal, mas podem seguir, rs) pra dizer que os versículos eram um negócio bizarro, nem tinha certeza de que o livro bíblico citado estava escrito errado. Ainda assim a editora me respondeu, agradecendo por ter postado. O que mostra que assim como há bocas de porco, há editoras sérias.

No mais, apesar do final meio que aberto, não vejo outro modo de encerrar a história. Tudo faz sentido e precisamos de mais livros assim, que nos faça refletir. E mais importante, que sejam escritos por mulheres, para que nos representem e nos deem voz. E a Rocco me disse, um tweet depois desse que está acima, que em 2018 teremos mais três lançamentos de Atwood! Já quero (e com esse projeto gráfico, rs).
"Nolite te bastardes carborundorum."
"Mas lembre-se que o perdão também é um poder. Suplicar por ele é um poder, e recusá-lo ou concedê-lo é um poder, talvez de todos o maior."
"Um rato em um labirinto está livre para ir a qualquer lugar, desde que permaneça dentro do labirinto."

Compre aqui seu exemplar de O Conto da Aia.

Olá!

Aos trancos e barrancos, vamos cumprindo os tópicos do Desafio 12 Meses Literários e, dessa vez, por incrível que pareça, matei dois coelhos com uma paulada só, pobrezinhos. Além de eu ter lido uma autora nascida neste mês, ainda encerrei mais uma trilogia. Vem conferir o último volume da trilogia Rainha da Fofoca.

SKOOB - A Rainha da Fofoca – Fisgada é o último volume da trilogia criada por Meg Cabot e, começando exatamente de onde acaba o anterior, Lizzie finalmente vai se casar! Mas com Luke, o príncipe. Pra quem não lembra, Luke é o homem perfeito para Lizzie (segundo a própria), pois se preocupa e a ama. E até lhe deu um anel de noivado da Cartier.

E não é só isso: por causa de um acidente com seu patrão, Monsieur Henri, ela terá que cuidar do ateliê de restauração de vestido de noiva dele. O que significa que ela terá que cuidar de absolutamente tudo. E sua carreira como restauradora de vestidos de noiva alavancou de modo impressionante: seu nome saiu nas colunas sociais, depois do ocorrido (o clímax do livro anterior), logo, as ricas e famosas vão querer ser clientes dela, até mesmo uma certa Ava Gerk, popular (e infelizmente) conhecida por ser uma “vagabunda viciada em crack”

Mas nem tudo são flores com a maior boca aberta que conhecemos: ela sofre um grande baque em sua vida, enquanto não sabe se realmente ama Luke. Porque ela está dividida entre seu noivo e Chaz, melhor amigo dele. E fica se anulando em detrimento de uma relação que nem ela mesma sabe no que resultará, que dirá nós leitores.

Nascida em primeiro de fevereiro de 1967, portanto atendendo ao segundo tópico do Desafio 12 Meses Literários, Meg Cabot encerrou uma trilogia que me fez rir, mas também ligou um alerta em mim. Tipo, as coisas que Lizzie dizia (para si e para os outros) para manter o relacionamento, quantas mentiras ela disse pra se iludir, porque o que importava para ela é que ia se casar com um príncipe. Você vai lendo e se perguntando: por que ela está tão desesperada para se casar? Quantas histórias (não necessariamente ficcionais) vemos de mulheres que se anulam de detrimento de um embuste?
Aliás, depois de um começo de ano em que li míseros quatro livros, finalmente estou recuperando meu ritmo de leitura. Não lembro mais quando comprei os livros da trilogia, mas demorei um bocado pra finalizar. E não me arrependo, pois foi uma leitura super gostosa e com muitas curiosidades interessantes sobre casamentos. Cada capítulo começa com uma dica de Lizzie para o casamento da leitora e uma epígrafe. Realmente algo bem original.

Inclusive, as dicas vão de como controlar sua cunhada a saber quais músicas devem tocar durante a festa. E sobre isso, saibam que, para que todos dancem na sua festa, tem que tocar desde "Dancing Queen" (ABBA) a "YMCA" (Village People), passando pelo hino máximo e supremo "It's Raining Men" (The Weather Girls). Vocês não podem dormir sem saber disso.

Pra quem está na ressaca literária, recomendo todos os livros da série. É aliás, fiquei chocada porque li as 445 páginas em um dia. UM ÚNICO DIA. Sim, é surpreendente. Talvez só a Ana, do Entre Chocolates e Músicas, que é a maior fã dela, deva conseguir essa proeza. É uma pena que muita gente torça o nariz pros chick kits (abomino quem usa o termo “literatura de mulherzinha”), pra considerar um gênero inferior. Pode ler sim, viu, amiguinho. Poucas coisas são tão boas quanto uma boa leitura. Agora estou com saudades de todos os personagens.

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Olá!

Através da Ani, que tem parceria com a Arqueiro, ela me cedeu um exemplar de A Pérola que Rompeu a Concha, livro de estreia da afegã-americana Nadia Hashimi. Resenha originalmente postada no EC&M.
SKOOB - A Pérola que Rompeu a Concha na verdade são duas histórias em uma. A primeira é da Rahima. Ela mora numa aldeia no Interior do Afeganistão com seus pais e quatro irmãs. E nenhum irmão. E todos sabemos que na cultura afegã (no islã como um todo) o nascimento de um menino é muito comemorado, enquanto o da menina não. Então apenas imaginem como devia ser a vida de Madar-jan (a mãe) e suas filhas.

Até que, um certo dia, por questões do momento, Rahima escolhe ser uma bacha posh, ou seja, passaria a se vestir como um menino. Como tinha pouco mais de nove anos, estava dentro da idade. O pai de Rahima era um viciado em ópio e agia como um afegão comum (aquele que estamos acostumados a ver): maltratava toda a família. Como um bacha posh, Rahima podia sair às ruas sozinha e fazer alguns mandados para a mãe.

Como ela – enquanto menina – e as irmãs estavam proibidas de ir à escola, todas se juntavam para ouvir as histórias de Khala Shaima, tia delas, irmã de sua mãe e com um grave defeito em sua coluna, o que fez com que ela jamais conseguisse se casar. E Khala Shaima tinha uma incrível história para contar, a de Shekiba, a trisavó de Rahima.

Na segunda história, há muitos anos, Shekiba vivia numa aldeia no interior do país. Ela tinha vários irmãos e irmãs e era muito amada pela toda a família. Até que sofreu um acidente e ficou com cicatrizes em metade de seu rosto. A partir daí sua vida virou um inferno, piorado com a epidemia de cólera que assolou o país nos anos 1910 e matou praticamente toda a família, sobrando ela e o pai, que morreria depois, de tristeza.
Com a morte do pai, ela passou a viver na casa da avó paterna – lembrando que, quando uma afegã se casa ou perde a família, ela sempre vai viver na família paterna – onde trabalhava muito e sofria mais ainda. Até que, como parte de pagamento de uma dívida do tio, ela foi parar no reino, para ser guarda do harém do rei. O que não seria uma tarefa difícil, tendo em vista que precisaria se vestir como um homem.

Apesar das cinco gerações que as separavam, Rahima e Shekiba tinham muito em comum, muito mais que poderiam imaginar. E saber da existência dessa trisavó deu uma nova esperança para Rahima, ainda mais depois que se casou de modo arranjado, tendo a mesma carga – ou mais – de sofrimentos.

Bem, primeiro que não consigo enxergar os povos muçulmanos com bons olhos – tenho respeito, mas quero distância deles, cada um no seu quadrado – então, por causa do meu preconceito, sempre evito obras que abordem muçulmanos. Não tem como não se indignar com as arbitrariedades que fazem com as mulheres, e o que é pior, usam deus como plano de fundo – nada dele, tudo para e por ele.

Sim, eu li O Caçador de Pipas (final decepcionante) e A Cidade do Sol (tenho medo do Rashid até hoje) mas essas obras em nada chegam perto da preciosidade da obra de Nádia. O jeito ir ela escreve e a história que ela conta são de uma riqueza única, me fazendo imaginar como era o país antes da corrupção, Talibã e outras coisas envenenarem o povo. Apesar da autora ter nascido nos EUA, nem parece que é ocidental, tamanha a precisão com que narra os acontecimentos. Consigo me ver nas ruas da aldeia, sofrendo com cada uma delas.

Entre os personagens, de longe me simpatizei com Khala Shaima. A tia desbocada e sincera, que defendia as meninas, sem ter medo de ninguém. Há também a parlamentar Zamarud, que ganhou meu respeito apenas por ser uma mulher no Parlamento – acham pouco? Nossas protagonistas não ficam atrás. Cada uma com suas dores, em seu tempo, mas com problemas tão comuns e reais e visíveis, alguns deles identificáveis por nós ocidentais, outros que nos são inconcebíveis, como os casamentos arranjados e burcas e hijabs e xadors. Várias vezes quis entrar no livro e socar todos os homens, por serem uns malditos. Nossas protagonistas foram tratadas como objeto, moeda de troca e escravas, como tolerar coisas assim?
Algumas coisas não fazem sentido para mim quando ouço falar no islã. Tipo, como os homens de lá podem ser considerados bons quando só vejo aqueles que agridem suas esposas e tá tudo certo, isso sem falar nos que possuem mais de uma esposa. Como é que Alá, Deus ou quem quer que seja permite isso? Quando penso em muçulmanos, vejo Talibã e muitos como o já citado Rashid (de A Cidade do Sol) e agora Abdul Khaliq, marido de Rahima. Segundo a própria autora, antes das guerras, as mulheres estudavam, viajavam e faziam muitas coisas, assim como nós ocidentais, depois disso, nem sair de casa podiam. Me é simplesmente inconcebível. Diversas vezes me peguei pensando em como a mulher vale menos que o lixo e ainda assim continua lutando. Mas, me parece que quanto mais lutam, mais difícil e cansativo fica. Às vezes gostaria de que não existissem religiões no mundo.

Foi uma leitura edificante, aprendi muito sobre desde a cultura local e termos em árabe a luta diária das mulheres em sobreviver numa sociedade muito mais machista que a nossa, é o que é pior, num estado que não é laico. O que diferencia o Brasil do Afeganistão é que, pelo menos, oficialmente, ainda podemos professar nossa fé, seja ela qual for, sem o Estado para encher o saco. Eles são uma República Islâmica – eu que não quero levar meu catolicismo pra lá.

No mais, é um livro lindo que nos faz refletir sobre muitas coisas que não damos valor – e a educação é uma delas. Meninas dão a vida – literalmente – para poder frequentar a escola. A história da Malala é um ótimo exemplo para entendermos o poder da educação e como ela transforma aqueles que são ignorantes (no sentido de que não conhecem as coisas).

"Não tente parar um burro que não lhe pertence."

"- Rahima, você sabe quanto eu amo a Alá. Sabe que me curvo diante d'Ele cinco vezes ao dia, com todo o meu coração. Mas quero que me diga qual dessas pessoas que dizem coisas assim falou com Alá para saber qual é o verdadeiro nasib."

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Olá!

Depois de muito relutar, finalmente terminei a trilogia da Sophie Jackson e não podia esperar outra coisa de Amor sem Medidas. Um livrão desses, bicho.

Resenhas Anteriores: Desejo Proibido | Eternamente Você (conto) | Paixão Libertadora

SKOOB - Amor sem Medidas é o último livro da trilogia de Sophie Jackson e vai contar a história de Riley Moore, que trabalha na oficina mecânica onde é sócio de Max (do livro anterior) e trabalha duro para se manter na honestidade, após passar uns meses na cadeia. Ele mora em Nova York e suas horas vagas são preenchidas com bebidas e sexo. Muito sexo.

Sua vida está nos trilhos, até que recebeu uma ligação de sua mãe, dizendo que o pai tinha sofrido um infarto. Apesar de sua relação com o pai não ser das melhores, ele pega o avião (emprestado por Carter, do primeiro livro) e volta para Traverse City, no estado americano do Michigan. A cidade lhe traz muitas lembranças, todas relacionadas a Lexie Pierce.

Lexie foi sua primeira amiga e seu primeiro amor. Eles se conheciam desde os oito anos, mas por causa de diversas brigas e muita imaturidade, acabaram por se separar. Mas parte de Riley queria muito revê-la, pois ainda não a havia esquecido. Quando os dois se encontraram pela primeira vez, eles meio que pisaram em ovos, pois as mágoas e os bons momentos do passado estavam colidindo em sua mente. Mas, ao ver um certo garotinho, seu mundo vira de ponta cabeça. Ele tinha um filho. Lexie escondeu isso dele e o deixou maluco.

Muitas coisas ainda eram confusas para Riley, como sua relação com seu pai, mas essa novidade tomaria todos os seus pensamentos. O garoto se chamava Noah e era um poço de fofura, com seus quatro anos e sua inteligência afiada. Além disso, Riley estava confuso em relação a Lexie: deveria confiar nela?

Eu já estava com saudades desse universo maravilhoso criado pela Sophie. Enquanto fiquei muito feliz quando a Arqueiro divulgou o lançamento. Esperei a Black Friday e... Devorei esse livro no dia de Natal. Sério, não tem como não amar Riley Moore. Ele é uma pessoa do bem, apesar de ter passado uma temporada na cadeia. Pensa sempre no bem de todos e se dá super bem com sua mãe e seus três irmãos (todos homens).
A escrita dela é super gostosa e, por ter conteúdo erótico, algumas pessoas podem se incomodar com isso – eu não, pelo contrário, queria ter um Riley pra mim. É muito interessante ver como o amor de Riley por Lexie vem desde a infância, me faz acreditar que, às vezes, duas pessoas nascem destinadas uma a outra e nada pode destruir isso. O tempo vai passando, os amigos viram namorados e... a imaturidade destrói tudo.

Uma série de fatores fez com que Lexie escondesse a gravidez. Mas o estopim de tudo foi a morte do pai dela, que a fez mergulhar numa forte depressão. A depressão, aliás, foi abordada meio que por cima, não é o foco do livro, mas podemos notar o que essa doença silenciosa faz com uma pessoa. Logo, a autora mostra que a depressão afeta não só a pessoa que a tem, mas todas as pessoas a seu redor.

A relação de Lex com sua família (mãe, irmã e filho) é maravilhosa, eles a reergueram da depressão e fizeram com que ela se esforçasse em melhorar e até abrir uma loja, a joalheria "Com Amor, Você", que tem um sistema de descontos bem interessante: se a cliente (sempre mulher, pelo que entendi) estava em dúvida entre dois produtos (um anel e uma pulseira, por exemplo), Lex encaminhava a pessoa até um espelho e lhe entregava um papel em branco, onde a mulher escreveria uma dedicatória a si mesma. No canto do papel, apenas uma assinatura: “com amor, você”. Se a cliente fosse sincera na mensagem escrita, ganhava 20% de desconto em um dos produtos. Uma boa forma de se autovalorizar e ainda por cima ganhar um desconto.

Então, se você procura uma trilogia já publicada contendo uma linda história, personagens incríveis, crushes literários (tem para todos os gostos, Carter segue sendo meu favorito) e boas doses de humor e sexo, a trilogia Desejo Proibido é para você. Vou sentir falta de todos os personagens, confesso.

Garanta aqui seu exemplar de Amor Sem Medidas.

Olá!

Primeiro, feliz 2018! Agora, retomando o blog e continuando minha saga de ler em espanhol, claro que sempre que eu puder, lerei Isabel Allende. Mi País Inventado é sua segunda obra que leio na língua nativa e nunca imaginei que riria tanto durante uma leitura. O título em português é "Meu País Inventado", foi publicado aqui pela Bertrand Brasil, e infelizmente está fora de catálogo.
SKOOB - Meu País Inventado é o livro da Isabel que vai falar do Chile enquanto nação e dela enquanto chilena. Lembrando que, depois do golpe militar de 1972, ela se exilou na Venezuela, depois Líbano e assim por diante, até se estabelecer em São Francisco, onde mora até hoje. O fato de que seu padrasto era diplomata ajudou é muito nessas mudanças. O pai era um embuste (além de ser primo do Salvador; eu achava que era irmão) que um belo dia saiu pra compra cigarro e até hoje... DESCUBRA.

Isabel já era feminista muito antes do termo existir e desde sempre quis ser independente, e o fato dos Allende serem machistas a alavancou em seus desejos. Assim como sua família, a autora conta que as famílias chilenas são grandes, uns cuidando dos outros e ninguém de fora cuidando deles.

Com muito bom humor, ela vai relembrar sua juventude, com boas histórias (algumas aumentadas), e vários segredos sendo revelados também, como por exemplo, o que a levou a escrever seu primeiro livro e porque ela sempre começa a escrever seus livros em oito de janeiro - hoje!
Minha pequena coleção dedicada à Isabel Allende.
Essa edição é argentina e faz parte de meu projeto de ler mais em espanhol, para aprimorar meu vocabulário neste idioma. E sinto que estou melhorando, pois consigo entender o contexto sem a necessidade de entender palavra a palavra – só falta melhorar a pronúncia de alguns termos.

O livro foi escrito em 2003 e, muita coisa mudou de lá pra cá, muita coisa que eu nem sequer sabia, como o fato de que Michelle Bachelet, antes de ser presidente duas vezes, foi ministra da Justiça ou que a lei do divórcio só foi promulgada em 2004. Acho que seria bacana se ela pudesse revisitar esse livro e atualizá-lo, para opinar sobre Bachelet, a Lei do Divórcio, seu novo namorado, entre outros temas que abordam o Chile, que é um país um tanto pessimista, segundo a autora.

Inclusive, se um chileno te aborda perguntando se está tudo bem, diga que está “mais ou menos”. Dizer que está tudo bem é uma afronta a autoestima de quem pergunta, confesso que ri. O livro também serve como guia de como proceder quando se está em território chileno. E o conservadorismo do país é tão engraçado... Tipo, ela está contando uma coisa super seria e, do nada, ela joga uma informação engraçada.

Meu país inventado é mais um de seus livros de memórias (junto com Paula e A Soma dos Dias), cheio de verdades e cheio de coisas engraçadas também, como quando conheceu Wiilie, seu segundo marido. A sinceridade dela é um ponto forte na história, porque ela não tem papas na língua na hora de contar sua história. Então, espero que neste oito de janeiro ela se inspire e volte a folhear essa história. Vai que ela deseja atualizar...

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Olá!

Cumprindo o último tópico do Desafio 12 Meses Literários, cujos tópicos estão na imagem disponível na sidebar, eu deveria ler uma adaptação literária. Não costumo ler os livros depois de ter visto os filmes, salvo raras exceções. E no fim do ano passado, comprei Spotlight, mas, por ocasião do meu TCC, posterguei a leitura. Até hoje.
SKOOB - Spotlight - Segredos Revelados é mais que um livro, é um documentário que mostra o quão passiva e acobertadora foi a Igreja Católica ao longo dos anos, quando optou por esconder os muitos padres abusadores sexuais de menores. Isso mesmo, a Igreja escondeu por décadas muitos sacerdotes que, com a certeza da impunidade e, usando roupas e hábitos religiosos, violentaram muitas crianças, meninos, em sua imensa maioria.

A história teve sua origem na Arquidiocese de Boston, região em que se concentra o maior número de católicos dos EUA - mais de três milhões, números de 2015, data desta edição, atualizada em virtude do filme, lançado no ano seguinte e vencedor de dois Oscar, nas categorias "Melhor Filme" e "Melhor Roteiro Original". Em suma, cada vez que uma denúncia de um padre abusador surgia, ele apenas era mudado de diocese - saía de uma igreja para outra. Em alguns casos, eram internados em clínicas e, com o aval de médicos, voltavam ao trabalho episcopal, supostamente "curados".

Não vou me ater aos detalhes de quando começou tampouco citar nomes, porque são tantos nomes que o leitor só não se perde porque alguns se destacam mais que outros - estes são verdadeiros predadores sexuais - mas sim contar como o trabalho dos jornalistas e editores do Boston Globe (o periódico responsável por trazer à luz essa atrocidade) em juntar muitos detalhes de um grande quebra-cabeça, contendo muitas entrevistas, documentos e, claro, provas confidenciais.

Inclusive, podemos ver como o papel do Vaticano foi crucial nisso, ao passar pano nos cardeais que passavam pano para os pedófilos. E como a religião, quando misturada aos órgãos estatais, pode resultar num desastre, já que, houve um certo choque de interesses por parte de algumas autoridades policiais na hora de tomar as medidas cabíveis contra os acusados - quem ousaria dar voz de prisão a um sacerdote? Inclusive, o Papa João Paulo II, a quem eu estimava, dada sua importância, me decepcionou quando decidiu cuidar dos seus, em detrimento do sofrimento das vítimas.
O Cardeal Law teve um papel crucial no acobertamento, tendo em vista que ele era um dos cabeças da Igreja Católica nos EUA. De Boston, garantiu uma cadeira direto no Vaticano.
Aliás, o livro nos mostra o que acontece quando a vítima é abusada por alguém que sua família tem em alta conta (aqui, no caso, é um padre, mas pode ser um tio, um amigo, ou até mesmo o próprio pai, por exemplo). Muitos se aproveitavam do fato de que as crianças vinham de famílias disfuncionais e/ou pobres e, após conquistas a confiança dos pais, atacavam. Como os abusos datam dos anos 50, para nós pode parecer estranho, mas naquele tempo era super normal um padre levar as crianças para tomar sorvete ou nadar em piscinas públicas.

Para os jornalistas de hoje, o escândalo da Arquidiocese de Boston (o livro tem esse nome devido à equipe responsável pelas investigações, chamada de Spotlight) é o novo Watergate. Logo, para os estudantes de jornalismo, faz-se essencial a leitura do mesmo (ou pelo menos ver o filme) para que se compreenda o papel do profissional e da imprensa numa sociedade que vive sob um regime democrático. Sem a insistência deles (e a coragem das vítimas em se abrir) nunca saberíamos desse caso e, naturalmente, até hoje os sacerdotes desta e de outras cidades estariam cometendo seus crimes.

Termino dizendo que, infelizmente, ainda falta muito para que todos os religiosos paguem por seus crimes (se é que algum dia vão pagar, já que muitos até morreram) e também falta muito para que o Estado se dissocie por inteiro da Igreja, pelo menos no lado de cá do globo. Porém, o livro ressalta a importância da população leiga (os católicos que frequentam a igreja) em querer que a Igreja mude, principalmente nos pontos delicados, como a ordenação de mulheres e gays e o fim do celibato. Sabemos que é um trabalho difícil, mas se tivermos do lado certo, toda luta é válida.

Pela primeira vez participo de um desafio literário e fiquei feliz com o resultado, pois cumpri onze dos desafios propostos. Que venha o próximo ano com mais desafios!

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Postagem participante do:











Olá!

Nada como ter a chance de ler o último livro de Isabel Allende, a quem vou amar e proteger enquanto viver. Recém-lançado pela Bertrand Brasil e comprado pela metade do preço nesta Brack Friday (amém, Amazon), Muito Além do Inverno é uma história que, mesmo se passando no frio do Brooklyn, é capaz de aquecer nossos corações.
SKOOB - Mais Além do Inverno conta três histórias que se entrelaçarão em uma. E a primeira história é a de Lucía Maraz, chilena, que está em Nova York, como professora convidada na Universidade local. Ela tem seus 50 anos e mora no porão do professor Richard Bowmaster, a quem gostaria de conhecer melhor, apesar de sua fama de sovino e certinho. Tinha como bicho de estimação o chihuahua Marcelo.

Fã da rotina, a segunda história é a de Richard, que é professor na mesma universidade e, aos 62 anos, quer distância de qualquer coisa que atrapalhe sua rotina perfeita. Sem emoções, sem problemas. Ele tinha quatro gatos, que chamavam-se Um, Dois, Três e Quatro, assim mesmo, em português, porque tinha passado uma boa temporada no Brasil e falava português fluentemente, além de ter estudado sobre a política do nosso país.

Um certo dia, Três é envenenado (tomou um anticongelante perdido nas coisas de Richard) e o professor o leva ao veterinário. O Brooklyn está sob a neve e, andar assim é perigoso. Na volta do consultório (Três morreu mas passa bem), ele bate na traseira de nossa terceira personagem: Evelyn Ortega, imigrante vinda da Guatemala e entra em pânico ao ver o carro batido. Seu medo é tanto que sai em disparada, antes mesmo de ouvir que o seguro de Richard cobriria o prejuízo.

Porém, algumas horas depois (no mesmo dia), Evelyn bate à porta de Richard em busca de socorro. Mas a moça é gaga e mal fala inglês e a solução encontrada pelo professor foi chamar sua vizinha. Lucía escuta-a com atenção e os dois vão se surpreender quando Evelyn abrir o porta-malas de seu carro e mostrar um cadáver. Ela tinha medo de represálias porque pegou o carro de seu patrão (um cara que ficou rico de maneira suspeita) para ir à farmácia comprar fraldas para o garoto especial de quem cuidava.
Richard logo quis chamar a polícia, mas isso logo ficou fora de cogitação por motivos óbvios: Evelyn era ilegal. Naturalmente, Lucía e o professor já eram cúmplices do crime (de ocultação de cadáver) pelo simples fato de saberem do crime. Os três então se uniram para, além de sumir com o corpo, tentar ajudar Evelyn de algum modo, já que estava sozinha no país. E ilegal. Com um plot um tanto original, vamos percorrer às histórias de cada um, ao mesmo tempo que queremos entender o que aconteceu com o cadáver.

Percorrendo o golpe militar chileno, a militância de esquerda, imigração ilegal, política brasileira, milícias de povoados minúsculos, as perdas cruéis de cada um, Isabel nos deleita com uma história rica em detalhes, detalhes de quem viveu muitas coisas retratadas na trama, desde o amor na terceira idade até ao exílio em outro país. 

Sou suspeita para comentar qualquer coisa escrita por Isabel Allende, porque vou amá-la e protegê-la enquanto eu viver. O jeito que ela mescla fatos reais em suas histórias é algo que vejo poucos fazerem - quando que nós veríamos Maria Thereza Goulart no casamento de Richard Bowmaster? Claro que, para inserir personalidades que fizeram parte da política do país (no caso de Isabel, do país dos outros, já que a última vez que esteve no Brasil foi em 1992) em um romance, faz-se necessário muita pesquisa, e ainda não colocar opiniões que digam se você é esquerda ou direita - aliás, nunca vou saber qual o lado de Isabel, já que, para ela, Salvador era só mais um tio.

O único ponto negativo fica por conta da capa brasileira. O que diabos a Bertrand Brasil fez? A capa original é muito linda e essa nova edição, (em que a editora planeja padronizar alguns títulos já publicados da autora, através de um projeto gráfico cujo conceito ainda não entendi) não indica absolutamente nada do que a história conta. Bem que poderia ter usado a capa original, como já foi feito em outros livros da autora - será que proibiram direitos de imagem?
Foto da capa original para apreciação. Imagem: divulgação
É um livro relativamente curto, em comparação à outras bíblias que ela escreveu (dá pra ler em um dia), e uma coisa que gostei muito é que Lucía e Richard foram inspirados nela mesma e no namorado. Isabel, recentemente, assumiu namoro com um simpático advogado, depois de 27 anos de casada e mais alguns curtindo a solteirice. Lembrando que ela está na flor de seus 75 anos! Já a Evelyn é um exemplo recorrente do que sofrem os ilegais nos EUA.

Até dava pra esticar um pouco a história, mas por ela não ter se prolongado, a história acabou no momento certo. Mesmo tendo quase 300 páginas, é um livro em que a escrita ajuda a história a fluir, mesmo com partes tristes (e partes muito tristes), a leitura é gostosa e rende até uns risos. Ela insere diversos fatos reais sobre o Chile (como sempre), o Brasil, a Guatemala... Aliás, ver o Brasil bem retratado num livro estrangeiro sempre me deixa abismada. Por não ter nenhum estereótipo, achei até suspeito, rs.

Muito Além do Inverno entrou para os meus favoritos (só não desbancou O Amante Japonês por motivos óbvios - resenha aqui), Isabel como sempre no meu coração, nunca me decepcionando e não tem como não torcer pro Richard e pra Lucía, é impossível não shippar esse casal, são dois fofos! Além, claro, de abordar temas importantes, como imigração e intolerância, que vai ganhar destaque na parte final do livro, mas que está nas entrelinhas da trama.

Como ainda falta muito para 8 de janeiro, o dia em que ela começará sua nova história, vou louvar esse livro para sempre, de tão lindo que ele é. E como eu já esperava, ela não me decepcionou com Muito Além do Inverno, que recomendo a todos, até mesmo pra quem não leu nada dela e procura algo leve e tranquilo de ler. Ela é a única autora viva que não me decepciona!

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Olá!

A Ani, do Entre Chocolates e Músicas, conseguiu para mim, junto à sua parceria com a Rocco, um exemplar de Vulgo Grace. Até então, só conhecia Margaret Atwood da mídia. Agora virei fã e quero tudo dela. Resenha originalmente postada no EC&M.
SKOOB - Baseado numa história real, Atwood nos leva ao Canadá do século XIX, exatamente no ano de 1843, quando Grace Marks, uma empregada doméstica de 16 anos, é acusada de matar seu patrão, Thomas Kinnear, e a governanta (e amante) dele Nancy Montgomery, em cumplicidade com James McDermott, um suposto amante, que também trabalhava na casa. Com o furor sensacionalista de então, a mídia (tipo Datena e Sonia Abrão) deu seu veredicto, assim como o juiz, declarando Grace culpada e sentenciando-a à pena de morte.

Mas, alguns pauzinhos foram mexidos e a pena de Grace foi revertida para prisão perpétua. Justamente a parte que mais interessava a todos simplesmente sumiu. Todos queriam saber como foi o duplo homicídio, mas Grace alegou que tinha se esquecido de tudo. Porém, a mente de Grace era muito mais complexa do que se imaginava e os anos seguintes da jovem foram divididos entre a penitenciária e o manicômio, onde era subjugada de todas as formas possíveis.

Até que aparece o dr. Simon Jordan, um jovem norte-americano, bem-nascido, estudioso da mente humana, mas não um médico e sim um psicólogo. Após andanças por parte da Europa, ele se interessa pelo caso de Grace, único até então e resolve incluí-la em seus estudos. Ele também desejava abrir uma clínica psiquiátrica em sua cidade natal.

E com o dr. Jordan, vamos mergulhar na mente de Grace, em que ela contará sua vida desde o início, que começou lá no Norte da Irlanda, passando pelas casas aonde trabalhou como criada e até chegar na residência do sr. Kinnear, onde sua vida tomaria um rumo impensável. E não podemos nos esquecer de Mary Whitney, personagem muito importante da trama.
Até então, eu só conhecia Margaret Atwood por causa de O Conto da Aia (que desejo muito ler). Vulgo Grace me foi uma grata surpresa. Saber que isso realmente aconteceu dá um ar muito mais margem para discussão, apesar de o desfecho surpreender ao leitor – será que ela realmente matou o casal Kinnear-Montgomery?

Ao mesmo tempo que você ou ama ou odeia a jovem, podemos ver também como era o Canadá naquele tempo, totalmente diferente da nação que conhecemos hoje. O leitor atual dirá que era um país retrógrado, com ideias machistas e misóginas, onde as crianças são postas para trabalhar desde muito cedo e Grace, com apenas 16 anos, já é uma mulher com muita história pra contar. Graças às descrições impecáveis de Margaret, vemos com perfeição como era a moda e costumes naquela época – e, naquele tempo, era importante falar de moda porque era ela quem pontuava quem era da alta e da baixa classe.

Se o leitor de hoje for jovem, ele pode se incomodar um pouco com o português extremamente culto usado na tradução. Ora, está se contando uma história que aconteceu há mais de dois séculos, a linguagem também sofreu influência nesse tempo. Eu, particularmente, não me incomodei, mas como eu andei numa semana problemática (inferno astral?), admito que isso me deu um pouco de sono.

Vulgo Grace deve ser lido com atenção redobrada, pois temos dois pontos de vista que se alternam sempre, sem aviso prévio. A história de Grace é contada em primeira pessoa, por ela mesma, mostrando como é um ponto de vista de uma criada (nada muito diferente de hoje, mas com pré-conceitos bem mais estabelecidos), o modo como ela conta sua história é feita sem floreios, sempre indagando diversos conceitos (geralmente machista/misógino) da época (que, vejam só, ainda existem em pleno 2017, quase 18!).

Já o ponto de vista do dr. Jordan é contado em terceira pessoa, mas também mostrando os receios e pensamentos dele. Gente como a gente, ele acabará se encantando pela nossa protagonista. Vale ressaltar também que ele é uma pessoa muito boa para com Grace, um dos poucos que não fez chacota dela nem a via como um monstro enviado diretamente pelo demônio para atiçar a vida das vítimas. E nem a maltratou, o que, pra mim, foi crucial para gostar dele.

Por fim, recomendo a obra muito satisfeita com o que li sobre Margaret Atwood, uma autora que está na estrada há muito tempo, mas só agora está recebendo sua cota de mainstream, com obras que, mesmo sendo escritas anos atrás (Vulgo Grace foi escrito em 1991), têm questionamentos que estão com força total e se encaixam perfeitamente no contexto de 2017.

P.S.: já assisti à série da Netflix e recomendo, muito bem feita, tudo bem ambientado e fiel ao livro, até mesmo as falas são idênticas. Isso se deve, talvez, pela supervisão de Margaret, que acompanhou de perto a produção. Na série, Grace é interpretada magistralmente pela atriz Sarah Gadon (A Nona Vida de Louis Drax; A Jovem Rainha).

“Se todos nós fôssemos julgados por nossos pensamentos, seríamos todos enforcados.”
“Uma prisão não apenas tranca os detidos dentro dela, como mantém fora todos os demais. Sua prisão mais forte é ela quem constrói.”
“Homens como ele não têm que limpar a sujeira que fazem, mas nós temos que limpar nossa própria sujeira e mais as deles. Nesse aspecto, são como crianças, não têm que se planejar ou se preocupar com as consequências do que fazem. Mas não é culpa deles, é como foram criados.”
“[...] e quando você é encontrada com um homem no quarto, você é culpada, não importa como ele tenha entrado.”


 

Olá!

Mais um romance policial escandinavo por aqui. Enquanto eu não enjoo do (sub)gênero, resolvi ler o segundo volume do personagem clássico criado pela dupla (casal, na verdade) Sjöwall-Wahlöö. Infelizmente a Record não deu sequência na série, mas tudo bem. Um dia eu aprendo sueco.
Resenha Anterior: Roseanna

SKOOB - O Homem que Virou Fumaça é o segundo volume da série do inspetor Martin Beck e começa com meu segundo detetive favorito (porque o primeiro é o Kurt Wallander) tendo suas tão sonhadas férias interrompidas. Exatamente 24 horas depois de encontrar sua família numa ilha onde descansariam, ele precisa voltar para sua delegacia, pois há um desaparecido.

O Ministro do Exterior o convocou para que ele cuidasse do caso do desaparecimento do jornalista Alf Matsson, que foi pra Budapeste, capital da Hungria, e sumiu. Porém, o caso de Alf é mais difícil do que se imagina, pois é como se ele simplesmente nunca tivesse existido, pois há muito pouca coisa sobre ele. E mesmo sendo um desaparecimento que aparenta ser comum, Beck tem aquele instinto tão comum em romances policiais de ir até o fim de cada caso.

Beck, que segundo as más línguas, tem o dom de "entrar numa sala e fechar a porta atrás de si quase ao mesmo tempo em que batia nela no lado de fora", esbarra na falta de interesse das autoridades húngaras para encontrar o jornalista. Em Budapeste, ele contará com a improvável ajuda de um certo major, que é um tanto desconfiado, mas muito inteligente.
Mas, o que seria apenas mais um caso de desaparecimento, mostra-se um complexo caso envolvendo altos escalões, tráfico de drogas e algumas coisas que tem de sobra no Leste Europeu. E Beck terá que focar em encontrar uma solução - ou achar o cara - e deixar de lado suas tão sonhadas férias na cálida costa da Suécia. Para isso, terá a ajuda de seus colegas Melander e Kollberg.

Com muita dor no coração, tenho que dizer que esperava mais dessa leitura. Amo romance policial, isso não é segredo, mas percebi que faltou aquele impulso que o leitor precisa ter para querer desvendar o caso, é como se os autores, na figura de Martin Beck (que não estava resfriado), quisessem entregar tudo mastigado para o leitor. Muitas descrições, pouca ação. Quando o leitor percebe, já se concluiu o assunto.

Vale ressaltar também que esse livro foi escrito em 1966, portanto, no auge da Guerra Fria. Então encontraremos na leitura vários termos como Cortina de Ferro, e também certos países como Tchecoslováquia, Iugoslávia e União Soviética. Para nós contemporâneos, todos esses nomes soam velhos e históricos demais, mas serve pra gente lembrar que tudo isso existiu mesmo, rs.

Infelizmente, a Record publicou só dois dos dez volumes da série, escrita entre 1965 e 1975. Diferente do volume anterior, Roseanna (link no começo do post), esse foi bem fraquinho, mas ainda assim foi uma boa leitura porque podemos conhecer a mentalidade daquela época, refletida nos valores de Beck e também nas descrições de pessoas e lugares. Apesar de eu ter esperado mais da obra, a única coisa que salva é saber se o homem virou fumaça mesmo (o título em Portugal é "O Homem que se Desfez em Fumo", não consigo não rir).


Olá!

Finalmente pude ler algo do Jo Nesbø! O norueguês (maravilhoso para alguns, superestimado para outros) me passou uma boa impressão de sua obra, mas espero mais dele. Confira o que achei de Sangue na Neve.
SKOOB - Sangue na Neve é o relato de Olav, um matador de aluguel que se vê as voltas com uma ordem meio difícil de ser resolvida. Mas ele não é um daqueles matadores maus. Bom, ele tem lá sua dose de maldade, mas foge do comum a partir do momento que pensa com detalhes os mais diversos assuntos. Mas não se engane, ele tem lá suas dificuldades: é disléxico, odeia matemática, não sabe dirigir devagar, se apaixona fácil e perde a cabeça quando se irrita.

Por causa desses defeitos, ele disse que não serviu nem pra cafetão nem pra traficante, restando-lhe apenas o ofício de matador. Hoffmann é seu principal cliente e o livro propriamente dito começa quando esse Hoffmann manda ele matar sua esposa, porque ela o trai com um homem que, depois de muita observação, sabemos que a agride.

Mas, por motivos que nosso protagonista não sabe explicar, ele não quer matar a sra. Hoffmann. Além desse "problema", Olav cuida de uma certa Maria, que assumiu a dívida do namorado drogado e, por algum tempo, viveu na prostituição. Ela é surda-muda e, sem saber, é seguida por Olav onde quer que vá. Uma trama bem escrita que se desenvolve em poucas páginas. Olav é um assassino e tanto!
Este foi meu segundo contato com um autor norueguês (antes de Jo, li O Mundo de Sofia, um porre), mas tenho certeza que este é o primeiro livro de Nesbø (Alt + 155 = ø) e posso dizer que gostei bastante! Sangue na Neve tem só 152 páginas, mas é tão bem escrito que não precisava acrescentar mais nada. Uma trama um tanto diferente, um protagonista focado em seu objetivo, mas que acaba ganhando a simpatia do leitor por sua sinceridade e bom humor - sem falar que odeia matemática e ama ler.

Estou na expectativa pelo filme Boneco de Neve, a ser lançado no fim deste ano, salvo engano. Mas como os livros dele são um tanto caros (principalmente os do detetive), resolvi começar com este, curtinho, deu pra ler em um dia, tem todos os ingredientes de um bom thriller/suspense, mesmo tendo um assassino como narrador (em primeira pessoa). Nesbø mostra como é versátil em sua escrita, sem deixar de fazer a boa e velha crítica social, tão em voga nesse gênero.

A edição da Record está muito bonita, com um vermelho vivo (como o manto de um rei) e um pouco de verniz, dando um efeito de pegadas em alto-relevo (espero ter explicado bem, vocês precisam passar a mão nessa capa, rs). Um livro pra ser lido nesses dias frios, porque super combina. Não há erros de nenhuma ordem e aproveitamos para poder conhecer um pouco de Oslo. Pra quem quer conhecer a escrita de Jo Nesbø, mas não quer começar pelos do policial Harry Hole, Sangue na Neve é uma ótima pedida.



Olá!

Novamente fortalecendo a parceria entre mim e a Ani, do Entre Chocolates e Músicas, ela me conseguiu, através de parceria com a Arqueiro, Meus Dias Com Você, que tinha tudo pra emocionar, mas não chegou nem a encantar.
SKOOB - Escrito pela inglesa Clare Swatman, Meus Dias Com Você vai começar com Zoe Williams enviuvando. Exato, o livro já começa com ela e seu marido Ed tendo uma discussão de manhã logo cedo, aí ele sai de casa para trabalhar, sua bicicleta é atropelada por um ônibus e ele morre. Imediatamente o arrependimento bate, pois ela gostaria de ter querido dizer que o amava, pelo menos mais uma vez.

Passaram-se dois meses e ela ainda não se conformou com a perda de seu grande amor. Um certo dia, ela resolve ir até o pequeno jardim que Ed tinha no apartamento - ele amava jardinagem - e, na raiva do momento, se desequilibra, acaba escorregando e batendo a cabeça no chão. Só que, quando Zoe acorda, ela está em 1993, indo para a faculdade.

Sim, alguma coisa inexplicável acontece e ela volta no tempo, exatamente no dia em que conhece Ed. Até então, dividiriam a mesma casa na universidade e só. Ela revive esse dia exatamente como da primeira vez, mas, quando amanhece um novo dia, é outra data completamente diferente. E assim, selecionando momentos específicos, Zoe poderá se redimir e realizar seu único desejo - ou tentar mudar o destino.

Meus Dias Com Você tinha tudo para ser lindo, mas faltou algo para chegar lá. Esse livro me lembrou Uma Curva no Tempo, da Dani Atkins (faz tempo, mas falei dele aqui). Aliás, percebi que a Inglaterra está exportando muitas autoras incríveis, mas que escrevem com temática parecida - não sei dizer se é bom ou ruim. Assim como o da Dani, o livro explora o fato de a personagem vivenciar uma realidade alternativa com o objetivo de, pelo menos tentar, mudar um fato irrefutável. Mas, diferente de Dani, Clare não conseguiu transmitir a mesma emoção.
Zoe é workaholic, quer crescer na carreira, tem muitas ambições, o que é ótimo, mas ela precisava mesmo agir como uma idiota? Ed é gente boa, mas um tapado, teve momentos que eu quis entrar no livro e dar uns bons socos neles. Como casal, não me convenceu. Jane, melhor amiga de Zoe, é a melhor amiga que todo mundo deveria ter.

Ed não quer se casar, não porque não ama Zoe, mas porque teme ficar igual ao pai, que, resumindo, foi um completo idiota. E Zoe quer muito casar. E o casamento está à beira da ruína por causa desse embate, o que, sinceramente, me cansou um pouco. Mas o livro tem seus pontos positivos também, como o próprio fato de Zoe querer mudar o destino - se ela vai conseguir é outra história - mas isso mostra como ela é humana e aprendeu com as falhas.

Estou suspirando com essa capa, que mostra (até demais) a mensagem da trama. Os tons fortes de roxo, o bege e o toque de laranja não cansa a visão, o que me permite olhar até se perder, porque a capa é linda até demais. A edição da Arqueiro está impecável e esse marcador magnético é uma lindeza à parte. Não localizei erros de nenhuma ordem. Para conhecer Clare Swatman e vivenciar Londres, Meus Dias Com Você é uma ótima sugestão.
Fica aí o questionamento...



Olá!

Recebendo mais uma indicação, vamos de leitura nacional! Finalmente pude conhecer a escrita da Chris Melo - que tive o prazer de conhecer pessoalmente - e, apesar de não dar cinco estrelas, a história é muito bonita. Confira a resenha de Sob a Luz dos Seus Olhos.


SKOOB - Sob a luz dos seus olhos vai contar a história da Elisa, uma brasileira que viaja a Londres a trabalho. Ela trabalha numa editora e, graças a um programa da empresa, fará um intercâmbio de um ano na capital da Inglaterra. Mas, antes de chegar a Londres, ela passa em York, cidade fofinha e cheia de paisagens medievais. E é lá que ela vê pela primeira vez um belo rapaz de olhos azuis, que a deixa muito impressionada.

Agora sim, em Londres, ela vai morar na casa dos Hendson, onde é bem recebida e imediatamente se integra à família. E ela finalmente vai encontrar o dono do par de lindos olhos azuis. É o Paul, um dos filhos do casal Hendson. O sentimento nasce de maneira imediata, para desespero dos pais e encantamento dos jovens.

Mas, se a Chris Melo é considerada a "Nicholas Sparks de saia" (socorro), não é a toa. Paul e Elisa vão ficar juntos, claro, só que algo grave vai acontecer na vida da jovem, fazendo com que ela volte ao Brasil imediatamente, sem sequer se despedir direito do namorado. Seis anos se passam, Elisa tem 29 anos e Paul é um ator famoso. E finalmente ele vai reencontrá-la.

Como ela precisou largar tudo, Elisa precisou praticamente recomeçar do zero. Cadu é um doce de pessoa, seu vizinho, não sabe do passado da jovem, mas depois vemos seu lado machista e imbecil - e ainda estou indignada com o fato de que ele protagonizará o livro seguinte, Sob um milhão de Estrelas - e Carol, médica e melhor amiga de Elisa, que sabe tudo da moça, menos sobre Paul - amo e irei protegê-la.

Paul está muito mudado. Famoso, não namora mais do que dois meses, volta e meia está com uma mulher diferente, completamente irreconhecível para Elisa. Até pensamos que vai rolar um triângulo amoroso entre Paul, Elisa e Cadu, mas como eu já disse que Cadu é um imbecil, graças aos deuses da Literatura isso não acontece. Não à toa, o casal demora, mas fica junto.

Com o casal junto e feliz, vai passar mais um tempo e vai acontecer outra tragédia. E é aí que o amor do casal será posto à prova, isso porque, quando mais ninguém acreditou, Elisa foi até o fim. Com ela, só mesmo Philip e Rachel. Uma história de amor e superação, mas que não me encantou tanto assim.
Vamos lá, é um ótimo livro, mas não é tão encantador assim. Me irritei com o Cadu (e ainda não superei o fato de que ele ganha um livro só pra ele), fiquei triste com os fatos e amei o casal principal, mas não acho que a Chris seja um Nicholas Sparks feminino, tá mais pra Dani Atkins da América do Sul, isso porque a autora conduz os fatos de tal modo que nos faz acreditar que alegria infinita é uma coisa suspeita. Sob a Luz dos Seus Olhos é uma mistura de "A Escolha" (tio Nick, resenha aqui) com "A História de Nós Dois" (da Dani, resenha aqui). Aliás, essa história é bem parecida com as que citei.

Foi uma história bem escrita, detalhando bem as paisagens londrinas e americanas (onde o casal vai viver, em Santa Monica, Califórnia), mas o livro mais parecia bipolar: por um lado, felicidade em excesso, fiquei esperando acontecer coisas ruins. Aí elas aconteceram. E, olha, Chris pegou pesado, houve duas vezes que levei a mão à boca pra conter um grito (eu estava no ônibus), o que gostei muito, porque quebrou bem o doce da trama.

Um casal que amei demais, torci e shippei foi Philip, que é irmão de Paul, e Rachel, que vai aparecer no fim, então não direi nada sobre ela. FICO NO AGUARDO DE UM LIVRO SÓ DELES, OBRIGADA. Quem me recomendou o livro foi a Ana, do EC&M, que chorou com a obra (e ela raramente chora com livros). Não cheguei a chorar, mas gostei de ter conhecido a escrita da Chris. Como eu disse, não morri de amores pelo casal principal, mas não significa que não gostei, pelo contrário, amei bastante, apenas não me senti convencida por Paul e Elisa.

Cada capítulo começa com um nome de música, que vai de Elton John a One Direction, nenhuma faz meu gênero, mas a galera vai gostar bastante das sugestões. No Spotify tem a playlist que a autora montou com músicas que a inspiraram durante o processo da obra, a lista é diferente das canções que estão no livro, mas acredito que vocês vão gostar também. Li no Kindle, aproveitando um dia em que a Rocco disponibilizou a obra gratuitamente na Amazon. Não vi nenhum erro na obra, agora vou dar um tempinho para ler Sob Um Milhão de Estrelas - devidamente autografado, rs. Recomendo a leitura.