Olá!

Hoje eu trago a resenha de um livro lindo, fofo, delicado e que me fez viajar para longe... Amor & Gelato é o livro de estreia da meio americana, meio italiana Jenna Evans Welch. Vamos conhecer esse livro enquanto damos uma volta de scooter e comemos gelato?
SKOOB - Amor & Gelato conta a história da jovem Lina, que, com apenas 16 anos está enfrentando uma barra muito pesada: a perda da mãe para o câncer. Porém, antes de morrer, a renomada fotógrafa Hadley Emerson fez a filha prometer que iria para a Itália. E claro que ela não iria, o que diabos perdeu lá. Foi aí que Hadley contou que o pai de Lina vivia lá, exatamente em Florença. Depois de muito relutar (e da mãe falecer), Lina decide ir para tal cidade, para conhecer Howard, que, segundo Hadley, teria as respostas às perguntas da jovem. Howard é americano, mas mora em Florença há bastante tempo.

Chegando na casa de Howard - que ela julga ser seu pai - ela se assusta. Porque ele mora num cemitério. Isso mesmo. Ele cuida de um cemitério, mas não de um qualquer e sim de um em que estão enterrados muitos soldados americanos. Mas um cemitério é um cemitério, rs. Lá ela conhece Sonia, administradora do lugar, uma simpatia de pessoa, que vai entregar a ela um diário, que fora enviado pela mãe.

Lina não quer nem saber de diário, a dor da perda é algo que ela ainda não consegue lidar. Para tentar se habituar ao lugar, ela resolve correr pelas redondezas, e aí conhece Lorenzo Ferrara, o Ren, que mora numa casa de doces - a casa tem esse nome porque lembra uma casa de doces, rs. Sendo 50% italiano (os outros 50% são americanos), será com Ren que ela vai conhecer Florença, Howard, seu passado e até mesmo o primeiro amor.
Você disse Itália? Por mais que Florença fique na Toscana e Solarolo (terra da Laura) fique na Emilia-Romagna, não tinha como eu não incluir meu ídolo máximo neste post. E o nome da música é a data de nascimento dela. Que poder.
Me interessei pela capa de Amor & Gelato antes mesmo de saber do que se tratava. É um desenho lindo de gelatos numa capa de textura muito gostosa. Decidi então arriscar nessa leitura tão maravilhosa, delicada, sensível e muito, mais muito linda. Lina, apelido de Carolina, é muito ligada à mãe, e a perda então, é imensurável. Sua melhor amiga, Addie, é quem a traz de volta à vida, a faz se sentir bem. E Ren é o que Lina terá de mais próximo de Addie na Itália. Ele é um doce de pessoa, meio italiano, meio americano e se darão bem logo de cara.

Howard Mercer conheceu a mãe de Lina quando ambos estudavam na escola de artes de Florença, ele estudando História da Arte, ela estudando Fotografia, a contragosto dos pais, que queriam que ela voltasse aos EUA para estudar enfermagem. Ele é um cara bem legal, assim como Sonia, que precisou esclarecer que não era esposa de Howard. São dois amigos incríveis, sempre pendentes um do outro.
Minha Lucy também tem uma scooter! Não, pera...
Não direi mais nada, só sei que Jenna Evans Welch ganhou mais uma fã. A autora se inspirou numa amiga para criar a história de Lina. Essa moça realmente existiu e morou num cemitério americano em Florença (onde Jenna morou por um tempo). Sua escrita cômica sem ser forçada leva o leitor a conhecer diversos pontos da cidade que fundou a Renascença, tendo como guias turísticos Lina e Ren, tendo como base o diário que Hadley deixou.

Mas como todo livro adolescente, os jovens também têm suas próprias tretas, como Mimi, uma crush de Ren, que me deu vontade de quebrar a cara, mesmo ela sendo uma Modelo Sueca linda e maravilhosa, ou o Thomas e seu Sotaque Britânico, que está super afim de nossa mocinha. Também quis quebrar a cara dele em dado momento. Por ser um livro jovem, a escrita (além de cômica) é bem tranquila, de fácil entendimento, mas sem ser rasa, pelo contrário, tem várias mensagens bacanas permeando a obra.

A edição da Intrínseca está uma delicadeza, à altura da obra de Jenna. Não localizei erros de nenhuma ordem e já disse que amei a capa? Agora fica a expectativa que a autora escreva muito mais obras e que cheguem em nosso país. Abaixo, a Intrínseca divulgou um vídeo exclusivo em que a autora fala um pouco mais da obra.

"Eu tomei a decisão errada."





Olá!

A Ani, do Entre Chocolates e Músicas, tem parceria com a Rocco e me cedeu gentilmente um exemplar de Marlena, primeiro romance da norte-americana Julie Buntin, em que duas personagens que se tornam amigas, mas de uma maneira bem obsessiva. Resenha original no EC&M.
SKOOB - Marlena é um relato autobiográfico da autora, que não é Marlena, mas Cat, uma jovem de 15 anos que acaba de se mudar para Silver Lake, uma cidade interiorana localizada no "polegar" do estado americano de Michigan, com sua mãe e seu irmão depois que foram abandonados pelo pai (que quis ficar com uma mulher muito mais nova).

Cat é uma menina ainda, estudava em escola particular, tinha uma melhor amiga, faziam coisas de adolescente burguesa, etc, até que sua vida mudou da água pro vinho. E conheceu Marlena, que tinha 17 e bebia, fumava, pintava e bordava. Uma vida que, logo de cara, impressionou nossa protagonista.

Marlena tinha vários "amigos", aqueles que só sugavam, quando estavam nas boas. Ela tinha um irmão pequeno, Sal, e seu pai era um traficante. Sua mãe sumira há alguns anos. Bolt, amigo do pai de Marlena, vivia rondando-a. Cat, que estava de saco cheio de ser a boazinha, resolveu ser amiga da jovem, mal sabendo ela que sua vida daria uma reviravolta. Drogas, álcool, problemas na escola foram as novas pautas na vida de Cat.

Tudo ia super bem, até que uma morre (eu até diria quem morreu, já que isso está na terceira página, mas mantenhamos o suspense). E a que fica viva se martiriza com a perda. Então, o livro, contado na primeira pessoa, vai oscilar entre Michigan e Nova York, que é onde a sobrevivente mora atualmente, casada, mas volta e meia caindo no vício.

A história de Marlena é mais comum do que imaginamos. Não que elas não estejam nas famílias ricas, mas é na periferia que meninas como ela (e como Cat também) se perdem nos vícios, nas ilusões, no abandono, seja da família ou do estado. Enquanto eu lia, ia me lembrando de várias coisas que vivi enquanto tinha menos de 15 anos e estudava na escola do bairro (depois me transferi para uma escola técnica estadual e tive um ensino melhor).
O livro em si é bem interessante, porém, senti que faltou algo para a Cat me convencer - da Marlena ora tinha raiva, por sua burrice, ora tinha pena, pois ela era vítima da situação - sei lá, era como se ela tivesse tudo na mão e jogou pro alto por pura birra. Porém, vale ressaltar que ela tem apenas 15 anos, e sua consciência está se formando, ela age sem pensar, da noite pro dia ela perde tudo, todos os seus conceitos sobre a vida sofrem uma cisma praticamente impossível de consertar.

Mas, por outro lado, Cat tinha consciência sim, pois ela via como os vícios destruíam Marlena dia após dia. Nossa protagonista experimentou todo tipo de droga, menos o Oxi, porque sua consciência alertou que, se ela o experimentasse, aí sim o beco não tinha saída. Ela viu isso acontecer com sua melhor amiga.

E o mais incrível nisso é que tudo isso aconteceu mesmo. Como está na capa de trás, é a própria história dela, mas que poderia ter sido minha, pode ser sua, de alguém que você conhece, por aí vai... Ao mesmo tempo que o livro traz à vida a memória de quem morreu, ele também é um alerta para os jovens, de como as drogas são o grande mal da sociedade e a melhor prevenção é não se aproximar (já dizia a apostila do Proerd).

A edição da Fábrica 231, selo da Rocco, está legal, não encontrei erros de nenhuma ordem e a capa, apesar de que a editora tinha capacidade de fazer algo melhor, fez uma arte até bacana, dando o ar de mistério que a obra necessita. Pra tentar entender a mente dos jovens, vale a leitura.



Olá!

Para o tópico de agosto do Desafio 12 Meses Literários, escolhi um livro que recebi da Ana, que tem parceria com a Universo dos Livros, detentora da hoo editora, selo voltado para o público LGBT.

SKOOB - Terezinha e outros contos da literatura queer é uma coletânea de 17 contos em que se exalta o amor e a vida, mas saindo da binaridade e da heterossexualidade. Não por isso ele não deve ser lido pelos héteros, pelo contrário, é uma obra em que qualquer pessoa, em algum momento, se identificará com algum dos textos.
E para quem gosta de métrica, tem para todos os gostos. São todos escritos em prosa, mas alguns mais parecem poesia, de tão delicados que são. Tem também quem escreve como o Saramago, que fugia das convenções tradicionais de escrita (Encabulada, pg. 105) inclusive, pra mim, é, disparado, o melhor conto do livro. E tem, claro, a boa e velha prosa, para os mais certinhos de plantão.

O livro também nos mostra como o preconceito permeia, mesmo que nas entrelinhas, nossas opiniões sobre o diferente. Numa sociedade que ainda não aceita o diferente, o novo, Terezinha é uma espécie de refúgio para aqueles que tentam entender as novas convenções, em textos de escrita simples, porém concisa, mostrando que todos merecem amar e ser amados, independentemente de sua opção/orientação sexual.

Como o livro é de contos e bem curtinho, vou deixar alguns quotes, um aperitivo do que esperar desse livro.

"Ouvir a batida de cada trilha de vida, como uma melodia gostosa de um único acorde, refazendo em notas, o fazer de novo, a outra chance de ser feliz. A vez." (Amor Irritante, pg. 73)

"Pra nova Vida nascida, nova poesia, ela escreveu a verdade do que sente e em favor do seu amor. Do amor de ambas. Em nova formação, a descrição do nascimento de novos sentimentos, em renovados três termos: Eu amo você!" (Rascunhos de Mim Mesma, pg. 44)

"Amor mais forte que a própria morte. Porque soube o que é amar e viver por alguém."  (Resquícios de Fantasia e Foliões, pg. 134)
Postagem participante do:






Olá!

Estou feliz, mas por dentro estou chorando. Terminei de ler A Rainha do Castelo de Ar e, sei que de agora em diante nada mais será igual. A "palavra de Larsson" já foi escrita. Mas todo dia é um excelente dia para louvá-lo. Justamente por isso que hoje é a vez dele ser resenhado. Provavelmente haverá spoilers de A Menina que Brincava com Fogo.
Os Homens que Não Amavam as Mulheres - Livro | Filme
A Menina que Brincava com Fogo - Livro | Filme
A Rainha do Castelo de Ar - Filme

SKOOB - A Rainha do Castelo de Ar vai começar exatamente do ponto de onde parou o anterior. Lisbeth comendo o pão que o diabo amassou nas mãos de Zala, o que culminou com um tiro na cabeça, sendo salva por Mikael Blomkvist. Ela e Zala são levados para um hospital, onde ficam separados por dois quartos de distância.

Lisbeth Salander está sendo procurada em todo o país, acusada de ter matado seu tutor Nils Bjurman, o jornalista Dag Svensson e sua namorada Mia Bergman, colaboradores da Millennium. Só que um novo personagem surge: Ronald Niedermann, que ninguém sabe que é filho de Zala, portanto, meio-irmão de Lisbeth, já que a mãe dele é alemã.

Niedermann estava junto com Zala na tentativa de matar Salander. Ele foi o único que conseguiu fugir, um homem de quase dois metros e que tem analgesia congênita - uma doença em que a pessoa não sente nenhum tipo de dor. Mikael consegue detê-lo, mas como o jornalista fez umas cagadas com os policiais que atenderam o caso, acabou fazendo com que, indiretamente, Niedermann fugisse, já que ninguém ligou pro que ele dizia (dois oficiais não são suficientes para segurá-lo).

No hospital, Lisbeth encontra no dr. Anders Jonasson um amigo, pois é ele quem opera seu crânio, retirando 32 fragmentos de ossos (sendo o maior deles invisível a olho nu). O dr. Anders vai cuidar dela, sem se importar se ela é uma jovem vítima de abuso ou uma assassina sedenta por vingança. Ela está isolada, proibida de receber visitas. Novas investigações comprovam a inocência dela do triplo homicídio, mas ainda tem gente que quer interná-la num hospício.

E essa gente é a Seção. Um grupo secreto da Säpo (a polícia secreta sueca, que existe de verdade, como muitos detalhes que o autor coloca ao longo do texto) formado por policiais nacionalistas (e racistas, diga-se de passagem) que resolvem dar asilo político a um certo Alexander Zalachenko, dissidente da KGB, a polícia secreta soviética. Essa Seção tinha como objetivo cuidar para que Zala permanecesse no mais absoluto sigilo.
Netflix, meu amor, que dia que os filmes voltarão para seu catálogo?
Só que Zala se relacionava com uma certa Agneta Sofia Salander. Batia nela dia sim e dia também, tanto que acabou tendo graves lesões cerebrais. Ela teve as filhas Camilla e Lisbeth, e foi Lisbeth que tomou a drástica decisão que mudaria sua vida: fez um coquetel molotov e tacou fogo no pai, o que a levou imediatamente para a clínica Santk Stefan, dirigida por Peter Teleborian. O primeiro de muitos abusos sofridos por ela.

Deixando um pouco da Seção e da vida pregressa de Lisbeth, Erika Berger, editora-chefe e acionista da Millennium (e amante de Blomkvist, com o aval do marido) recebe uma irresistível proposta do jornal Svenska Morgon Posten (que não existe), e depois de muito pensar, acaba aceitando, deixando-lhe num carrossel de emoções. No SMP, ela é recebida por Morander, que está em vias de se aposentar. Só que, de repente, ele morre e ela precisa cuidar de tudo.

Ela tem o auxílio de Peter Fredriksson e a hostilidade de Lukas Holm, o editor de Atualidades. Ele é bom no que faz, mas adora passar por cima das decisões dela. Fredriksson é assistente de redação. Os primeiros dias foram bons, mas Erika começou a receber emails ofensivos, com conteúdo sexual. Como não sabia a quem recorrer, foi deixando isso de lado.

No hospital, Lisbeth está isolada, mas vai contar com o apoio e a defesa inestimáveis de Annika Giannini, advogada especialista em Direitos da Mulher - e irmã de Blomkvist. Finalmente Annika vai receber o merecido destaque como a brilhante advogada que é, mesmo sem dominar muito o Direito Criminal, e tampouco receber muitas respostas por parte de Lisbeth, ela vai driblando as adversidades que lhe aparecem e assim tentar mostrar a todos que Lisbeth Salander é inocente. E rápido, porque o julgamento dela está próximo.

Existem romances policiais, existem romances policiais escandinavos e existe Millennium. Amém. No volume derradeiro escrito por Larsson, as mulheres terão muito destaque. Além da Lisbeth, que dispensa comentários, tem Annika Giannini, que se destaca pela persistência, apesar de ainda ter um pé atrás com o comportamento de Salander (como defender uma jovem que mal abre a boca para responder as perguntas?), tem Erika Berger, que controla o SMP com pulso firme (e não de ferro), tendo que aguentar tipos como Lukas Holm e o cara que vai assediá-la. Tem Sonja Modig, a policial que não se intimida diante de um Zalachenko que, mesmo doente e com uma machadada na cara, ainda se acha o senhor da razão, uma certa Rosa Figuerola, da Säpo, que, junto com Blomkvist, vai descobrir os pormenores da Seção, e assim por diante...
A Cia. das Letras também publicou a biografia de Stieg, que conta a história dele, da Suécia e dos romances policiais.

Diferente do filme, que cortou mais da metade da história em nome da agilidade que o cinema permite (senão o filme ultrapassaria fácil as três horas de duração), o livro conta com uma riqueza de detalhes impressionante: o passado e o presente de Lisbeth, o dia-a-dia de Erika no SMP, os pormenores da política sueca, misturando personagens fictícios com reais, e como Mikael, mesmo sendo o fucking jornalista que é, não consegue controlar o pinto, pra ele, não importa quem molhou, ele vai passar o rodo. Gente como a gente (ou não).

O mais incrível é que o livro tem incontáveis personagens, e ainda assim o autor não se perdeu e escreve a trama de um modo que o leitor não vá se perder, mesmo que ele more no Terceiro Mundo. Como é sabido, Larsson era de esquerda, anti-nazista, antirracista, feminista, antissemita, defensor das minorias (não à toa vivia sob ameaça, por isso nunca se casou e a mulher que conviveu com ele 30 anos não recebeu um centavo dos royalties), e isso é visível em Blomkvist (um possível alter ego?), ele defende Lisbeth com unhas e dentes, como o amigo que ele é, além de ter uma moral que beira o impecável.

Voltando às mulheres do livro, conforme eu ia lendo, minha vontade era de entrar na história e abraçar a Lisbeth, a Erika e a Annika, cada uma envolvida com um escândalo particular, mas, por incrível que pareça, elas estarão unidas em algum momento. Lisbeth foi vítima de abusos por parte do estado sueco por anos, porque preferiram dar asilo a um dissidente de uma república que logo depois se desfragmentaria a ouvir uma menina vítima de maus tratos. Erika vivia às voltas com seu stalker que, não contente em mandar emails pornográficos, invadiu sua casa e roubou um dossiê importante e diversas fotos de caráter pessoal. Annika precisa lidar com a desconfiança da polícia em garantir que Lisbeth seria inocentada, dada sua inexperiência em casos desse tipo.

Guardadas as devidas proporções, são mulheres como nós, que precisamos provar dia a dia que somos tão (ou mais) capazes do que os homens para fazer qualquer coisa. Seja dirigir um jornal diário ou dominar a informática. Aliás, o cérebro de Lisbeth continua inteligente e sua memória fotográfica - que ela não gosta - continua funcionando perfeitamente, para a alegria geral dos fãs! Inclusive, o cérebro dela funciona mais que perfeitamente bem, porque não é possível ela fazer aquelas benditas contas para saber quantos passos a separavam do quarto do pai, no hospital.

Com muita dor no coração, termino de ler a palavra de Larsson. Claro que temos os filmes e a sequência do Lagercrantz (que espero ansiosamente, confesso), mas Stieg faz falta demais, mesmo tendo passado quase treze anos de sua morte, ainda não me conformo que ele tenha deixado sua obra incompleta - e uma legião de fãs. No último dia 15, todo mundo que curte literatura policial lembrou de seu aniversário - faria 63 anos - e eu, claro, escrevi um artigo em sua homenagem lá no site da revista Nova Millennium. Talvez esteja meio sem pé nem cabeça, mas foi porque escrevi de coração, sem roteiro e em 40 minutos. O texto é este aqui.

"No fim das contas, o tema principal desta história não são nem os espiões nem os organismos secretos dentro do Estado, e sim a violência de todos os dias cometida contra as mulheres, e os homens que tornam isso possível."



Olá!

Recebendo mais uma indicação, vamos de leitura nacional! Finalmente pude conhecer a escrita da Chris Melo - que tive o prazer de conhecer pessoalmente - e, apesar de não dar cinco estrelas, a história é muito bonita. Confira a resenha de Sob a Luz dos Seus Olhos.


SKOOB - Sob a luz dos seus olhos vai contar a história da Elisa, uma brasileira que viaja a Londres a trabalho. Ela trabalha numa editora e, graças a um programa da empresa, fará um intercâmbio de um ano na capital da Inglaterra. Mas, antes de chegar a Londres, ela passa em York, cidade fofinha e cheia de paisagens medievais. E é lá que ela vê pela primeira vez um belo rapaz de olhos azuis, que a deixa muito impressionada.

Agora sim, em Londres, ela vai morar na casa dos Hendson, onde é bem recebida e imediatamente se integra à família. E ela finalmente vai encontrar o dono do par de lindos olhos azuis. É o Paul, um dos filhos do casal Hendson. O sentimento nasce de maneira imediata, para desespero dos pais e encantamento dos jovens.

Mas, se a Chris Melo é considerada a "Nicholas Sparks de saia" (socorro), não é a toa. Paul e Elisa vão ficar juntos, claro, só que algo grave vai acontecer na vida da jovem, fazendo com que ela volte ao Brasil imediatamente, sem sequer se despedir direito do namorado. Seis anos se passam, Elisa tem 29 anos e Paul é um ator famoso. E finalmente ele vai reencontrá-la.

Como ela precisou largar tudo, Elisa precisou praticamente recomeçar do zero. Cadu é um doce de pessoa, seu vizinho, não sabe do passado da jovem, mas depois vemos seu lado machista e imbecil - e ainda estou indignada com o fato de que ele protagonizará o livro seguinte, Sob um milhão de Estrelas - e Carol, médica e melhor amiga de Elisa, que sabe tudo da moça, menos sobre Paul - amo e irei protegê-la.

Paul está muito mudado. Famoso, não namora mais do que dois meses, volta e meia está com uma mulher diferente, completamente irreconhecível para Elisa. Até pensamos que vai rolar um triângulo amoroso entre Paul, Elisa e Cadu, mas como eu já disse que Cadu é um imbecil, graças aos deuses da Literatura isso não acontece. Não à toa, o casal demora, mas fica junto.

Com o casal junto e feliz, vai passar mais um tempo e vai acontecer outra tragédia. E é aí que o amor do casal será posto à prova, isso porque, quando mais ninguém acreditou, Elisa foi até o fim. Com ela, só mesmo Philip e Rachel. Uma história de amor e superação, mas que não me encantou tanto assim.
Vamos lá, é um ótimo livro, mas não é tão encantador assim. Me irritei com o Cadu (e ainda não superei o fato de que ele ganha um livro só pra ele), fiquei triste com os fatos e amei o casal principal, mas não acho que a Chris seja um Nicholas Sparks feminino, tá mais pra Dani Atkins da América do Sul, isso porque a autora conduz os fatos de tal modo que nos faz acreditar que alegria infinita é uma coisa suspeita. Sob a Luz dos Seus Olhos é uma mistura de "A Escolha" (tio Nick, resenha aqui) com "A História de Nós Dois" (da Dani, resenha aqui). Aliás, essa história é bem parecida com as que citei.

Foi uma história bem escrita, detalhando bem as paisagens londrinas e americanas (onde o casal vai viver, em Santa Monica, Califórnia), mas o livro mais parecia bipolar: por um lado, felicidade em excesso, fiquei esperando acontecer coisas ruins. Aí elas aconteceram. E, olha, Chris pegou pesado, houve duas vezes que levei a mão à boca pra conter um grito (eu estava no ônibus), o que gostei muito, porque quebrou bem o doce da trama.

Um casal que amei demais, torci e shippei foi Philip, que é irmão de Paul, e Rachel, que vai aparecer no fim, então não direi nada sobre ela. FICO NO AGUARDO DE UM LIVRO SÓ DELES, OBRIGADA. Quem me recomendou o livro foi a Ana, do EC&M, que chorou com a obra (e ela raramente chora com livros). Não cheguei a chorar, mas gostei de ter conhecido a escrita da Chris. Como eu disse, não morri de amores pelo casal principal, mas não significa que não gostei, pelo contrário, amei bastante, apenas não me senti convencida por Paul e Elisa.

Cada capítulo começa com um nome de música, que vai de Elton John a One Direction, nenhuma faz meu gênero, mas a galera vai gostar bastante das sugestões. No Spotify tem a playlist que a autora montou com músicas que a inspiraram durante o processo da obra, a lista é diferente das canções que estão no livro, mas acredito que vocês vão gostar também. Li no Kindle, aproveitando um dia em que a Rocco disponibilizou a obra gratuitamente na Amazon. Não vi nenhum erro na obra, agora vou dar um tempinho para ler Sob Um Milhão de Estrelas - devidamente autografado, rs. Recomendo a leitura.




Olá!

Pela primeira vez no Resenha, vou resenhar um livro que não li em português! Já é sabido (inclusive tá no cabeçalho do blog, rs) que Isabel Allende é meu ídolo máximo da literatura, mas nunca tinha lido em espanhol - que é minha segunda língua. Aproveitando que estou usando o máximo de conhecimento deste idioma em meu trabalho, resolvi me arriscar numa leitura. Confiram a resenha de De Amor y de Sombra. No fim do post vou deixar o link de compra dessa versão, porque a brasileira infelizmente está esgotada - pelo menos na Amazon.
SKOOB - De Amor y de Sombra começa com três histórias, mas que em dado momento se afunilam. Primeiramente, conhecemos Irene Beltrán, uma jornalista que vive com sua mãe, Beatriz Alcántara, dona de um asilo. Irene e Beatriz vivem num mundo paralelo. De vida confortável, apesar de terem sido abandonadas pelo chefe da família, elas vivem tranquilamente, enquanto o país vive o terror da ditadura.

Em nenhum momento da obra, a autora diz qual a cidade que Irene mora, referindo-se apenas como "capital", mas dado o tratamento que o chefe de estado recebe (General) e o fato de que Isabel é sobrinha de quem é, imaginemos que a trama se passe em Santiago do Chile. Irene trabalha numa revista feminina, mas tem ímpetos maiores que seu escritório. Usa umas roupas espalhafatosas, cabelos ao vento e vários anéis.

Ainda em Santiago, a família Leal está reunida para o almoço. Hilda, seu marido, conhecido pela alcunha de Professor, e seus três filhos, Javier (o desiludido), José (o padre que trabalha contra os militares) e Francisco (o psicólogo/fotógrafo) discutindo sobre os rumos do país e o que fazer para passar despercebidos diante dos militares - eles tinham uma máquina de impressão, que o Professor fazia panfletos anti-Pinochet, talvez isso não os ajudasse. O casal Leal viera da Espanha durante a ditadura de Franco, mas acabaram caindo na de Pinochet.

Agora vamos ao interior para conhecer Digna Ranquileo. Ela não confiava em hospitais, temia que eles a atendessem mal e coisas que valha. E a única vez que ela iria a um hospital foi para ter mais um de seus filhos. Uma menina. E acabou que seu medo se realizou e sua filha foi trocada na maternidade por outra. Apesar dos apelos, acabou por ficar com a criança, que recebeu o nome de Evangelina. O marido trabalhava num circo e só ficava em casa certo período do ano.

Irene vai conhecer Francisco quando este vai pedir emprego na revista dela. E eles conhecerão Digna quando vão até a casa dela para ver um suposto milagre da menina Evangelina, que mais pareciam ataques de convulsão (ou epilepsia?). Porém, o exército também ficou sabendo dos "milagres" de Evangelina e mandou uma tropa verificar isso pessoalmente. E qual foi a surpresa quando Evangelina operou um "milagre" bem na cara do Tenente - e de todos os presentes?

Percorrendo o sentimento que floresce em Francisco - proibido, porque Irene tem namorado - os sucessivos acontecidos na família Ranquileo, as descobertas de Irene, o mundo paralelo de Beatriz e dos idosos que lá viviam, Isabel mostra um lado maravilhoso do ser humano, que nasce até mesmo durante as cinzas da ditadura militar. E mostra como era o Chile no tempo da ditadura, não nos esqueçamos do fundo político.
Por que eu amo dona Isabel? O jeito que ela escreve, a forma como narra a história, os personagens comuns, com os quais podemos nos identificar... De Amor y de Sombra foi seu segundo romance, não dá pra dizer que é a sua masterpiece, já que antes dele veio "só" A Casa dos Espíritos, mas mostra como a sociedade chilena vivia durante a ditadura do general Augusto Pinochet, entre 1974 e 1980.

Talvez o fato de ter sido diretamente afetada pelo golpe militar em seu país fez com que Isabel tivesse um ponto de vista muito interessante acerca da condução da trama, com riqueza de detalhes, descrevendo passo a passo como eram as coisas lá (pelo que notei, tanto neste como em outros dela, lá foi muito pior que aqui). Percebi que, em dado momento, ela contava sua própria história. Claro que notei isso porque, como a acompanho na mídia, então meio que sei pelo menos um pouco sobre ela.

A personagem mais engraçada (no sentido de absurdo) foi a mãe de Irene. Beatriz era tão alienada que foi bater panela pra comemorar a ascensão de Pinochet e, quando o povo percebeu que ditadura não presta foi bater panela também, e ela comemorou, achando que estavam agradecendo. Essa passagem mostrou, claramente, que, quando há interesse, todo mundo faz vista grossa. (Desculpa gente, não podia não dividir esse momento do livro com vocês, super identifiquei meu/seu/nosso país nele)

Apesar de parecer tragédia, o livro é lindo e, quando terminei de ler, senti meu coração aquecido, a esperança renovada... só não aplaudi o livro porque estava no ônibus lotado, sequer conseguia me segurar, rs

Amo Isabel e irei protegê-la e ficar contente porque, neste dia dois de agosto, ela está chegando ao seu aniversário de número 75, com livro recém-lançado e eu rezando pra que ela viva o máximo possível, para brindar seus fãs ao redor do mundo com suas histórias tocantes.

Ah, e minha primeira leitura em espanhol depois de mais de seis anos após a conclusão do curso que fiz foi muito bem, compreendi a história, claro, algumas palavras me eram desconhecidas e, sem um dicionário ou o tradutor por perto, tive que entender pelo contexto. Mas estou feliz por desvendar essa história. Desenferrujei muito do idioma e agora quero mais. A nota ruim é a capa horrorosa da Bertrand Brasil, que me parece ter desleixo em relação às obras de Isabel, porém tem exclusividade com a autora.

P.S.: em 1994, o livro virou filme, com Antonio Banderas no papel principal. Infelizmente não achei trailer legendado, mas vale a pena ver, dei uma olhada e as imagens parecem fieis ao livro.




Olá!

Amo a Itália, amo Milão, amo a Inter, mas nunca tinha lido nada do Umberto Eco. Até agora. Ainda não tenho coragem de ler O Nome da Rosa, sua masterpiece, mas tive uma prova de sua escrita ao ler Número Zero. E, sinceramente, esperava mais.
SKOOB - Número Zero se passa em Milão e começa com um homem que percebe que sua casa foi invadida. Ele sabe que tem um segredo que pode lhe custar a vida, mas ele precisa fugir. Este homem é Colonna, um jornalista de 50 anos, mas com uma vida de merda, trabalhando em empregos ruins e com uma carreira fracassada. Porém, um certo Simei o procura com uma proposta irrecusável: publicar um jornal amanhã com notícias de ontem. Nem preciso dizer que ele a aceitará.

Meio difícil de entender, mas vamos lá: é um jornal que vai publicar notícias velhas como se fossem novas, isso porque, mesmo a notícia sendo velha, a forma como ela é escrita pode deixá-la até mesmo atemporal. Estudei quatro fucking anos de jornalismo e ninguém me ensinou nada parecido, tampouco vi isso em algum lugar. Porém, se entendi certo, é um jornal que vai reescrever notícias velhas como se fossem novas porque estas vão ganhar um novo ponto de vista.

É um conceito interessante mas um pouco confuso, conforme você lê, vai entendendo. É pra entender aos poucos mesmo. Aliás, o jornal vai receber o super título original de... Amanhã. E nessa redação, Colonna vai conhecer uma equipe interessante, mas os destaques vão para Maya (a única mulher no recinto), o Bragadoccio (tem umas ideias doidas) e Lucidi (que diz ter uns contatinhos pesados), além dos estúpidos que fazem perguntas idiotas. Cada um deles vai cuidar de um setor: esportes, horóscopo, política, etc...
Ah, faltou dizer que esse jornal - como todo veículo de comunicação - tem um dono. E esse dono tem interesses. Porque o jornal pode se chamar Amanhã, mas o dono tem interesses hoje, então, nada de matérias que podem comprometê-lo. Só que, nesse meio tempo, o Bragadoccio vai encontrar um conteúdo muito interessante acerca do provável destino dos restos mortais de Benito Mussolini. Em cima desse conteúdo, o colega de Colonna vai criar uma teoria sobre o que aconteceu no dia da morte do ditador fascista. Mas como Bragadoccio tem fama de "engraçado", ninguém vai ligar pra história dele. Até que acontece uma certa situação, que vai fazer com que a história de Bragadoccio acabe sendo levada em consideração.

Quando alguém fala Umberto Eco, só vem à mente um único título: O Nome da Rosa. E diferente de sua masterpiece, o italiano vai trazer para um livro escrito em 2015 o universo de uma redação jornalística nos anos 90. Não muito diferente de hoje, o Amanhã poderia ser taxado, tranquilamente, de sensacionalista ou de veículo de entretenimento. A história se passa nos idos de 1992 e temos uma boa ideia do que se passava nas redações daquela época.
Pelo hype que o autor tem (ele morreu mas a obra ficou), eu esperava muito mais do livro. É uma boa história? Sim. Bem escrita? Também. E só. Apesar da construção extremamente difícil de um número zero de jornal (pelo menos pra quem é leigo), a história tem seus pontos engraçados, uns momentos de tensão e é isso aí, senti falta de algo mais forte, que me prendesse mais ainda e me instigasse. Por sorte, a escrita do Umberto é tão gostosa que dá pra ler super rápido.

Não li outras obras dele (pretendo) mas pude notar um estilo único, marcado por saber satirizar ao mesmo tempo em que se critica. Tem coisa melhor que ensinar e ainda dar umas risadas? Pelo menos é assim que eu aprendo (aprendia, nos tempos de escola). A leitura vale a pena também porque a gente pode conhecer umas ruas legais de Milão - não é todo dia que leio uma obra que se passa na Itália.

No mais, apesar de eu ter sentido falta de alguma coisa que realmente me marcasse, foi uma boa leitura, inclusive pra quem quer conhecer a escrita do Eco e tem medo das 574 páginas de O Nome da Rosa (eu), recomendo Número Zero. O trabalho de revisão da Record está bem feito e a capa é bem bonita, com cara (mesmo) de romance policial.



Olá!

Cumprindo o sétimo tópico do Desafio 12 Meses Literários, o escolhido para leitura e resenha deveria ser um livro não tão conhecido. E Suflê é tão desconhecido que nem eu conhecia, rs. E quando você joga no Google "livro Suflê", aparecem diversas opções... de livros de receitas. Porém é um livro muito delicado e tocante, escrito pela turca Asli E. Perker.
SKOOB - O livro conta três histórias em uma: da Ferda, que vive em Istambul e está cuidando da mãe doente (ou que se finge de). Marc mora em Paris e não sabe como vai seguir com a vida após a morte da esposa. A filipina Lilia vive em Nova York e só na velhice descobriu que foi sugada até a alma por sua família.

É um pouco complicado falar sobre o livro sem se alongar, pois três histórias em uma só praticamente não tem como esmiuçar. Pois bem, comecemos com Ferda, a turca, que sempre viveu aquilo que esperavam dela: por ser a mais velha, ficou com a (amarga) função de cuidar da família, ainda mais após a morte de seu pai, quando ainda era criança, e com as falsas dores de sua mãe. O povo turco é muito ligado à família, então a pobre Ferda ficou com esse fardo. Casou-se com o homem que amava, teve seus filhos e acreditou que, quando chegasse a velhice, poderia descansar. Que nada. A senhora Nesibe - a mãe - sofreu um acidente e acabou ficando aos cuidados da filha.

Assim como Ferda, Lilia também fez aquilo que esperavam dela: sempre colocou os outros à frente. Casou-se com Arnie, cujo relacionamento foi minando ao longo dos anos até que chegou o ponto em que a convivência ficou insuportável. O casal adotou duas crianças vietnamitas - algo em voga nos EUA à época - mas que se tornaram dois monstros. Cada dia era igual ao anterior, até que Arnie tem um derrame e vai parar no hospital. A monotonia silenciosa dele é interrompida quando Lilia, para ajudar nos custos do tratamento, resolve alugar os quatro quartos de sua casa para alunos estrangeiros de uma escola próxima.

Marc sempre viveu à sombra de sua esposa Clara. Ela fazia absolutamente tudo por ele. E ele se sentia bem assim, em sua zona de conforto. O casal vivia num bairro simpático de Paris, onde Clara era querida por toda a vizinhança. Ela vivia indo a vários mercados, sempre comprando ingredientes para testar novas receitas, que Marc comia com prazer. Mas, silenciosamente, Clara morre, deixando o marido numa dor profunda e intensa. Como a cozinha era o local favorito da esposa, o viúvo resolve fazer uma mudança drástica: remontar o ambiente e tudo que estivesse nele.
Esse é o básico de cada um dos três protagonistas. O ponto alto da história é quando sabemos como a cozinha é importante na vida de todos. Ferda cozinha desde que se conhece por gente, já que a mãe vivia "doente" e o pai morrera cedo, alguém precisava cozinhar. Marc comia absolutamente tudo o que a esposa preparava. Lilia adorava cozinhar e servir às pessoas. Mas o que eles não sabem é que, em certo momento, em três lugares totalmente diferentes, três pessoas comprarão o mesmo livro: Suflê.

A cozinha - e o livro que ensina a fazer a sobremesa mais difícil do mundo - salvarão esses três personagens da loucura. Nela, eles saberão como é se sentir dono e senhor de sua vontade e desejos, e assim, vão viver um pouquinho melhor, já que a realidade está ali, lado a lado.

Como é maravilhoso eu poder frequentar uma biblioteca! Gosto de me surpreender com obras vindas dos mais distantes lugares, então foi uma surpresa para mim poder conhecer essa maravilha made in Turquia. A autora usa o suflê (nunca comi, será que é bom?) como uma espécie de metáfora para a vida. Os protagonistas podem ser qualquer um de nós, vivendo vidas rotineiras e monótonas, caindo na mesmice, mas que em um ou outro momento pode acontecer algum milagre, ou, algum ponto sai da curva.

Infelizmente, o livro não teve o alcance que merecia. Pelo menos nunca vi pra vender em lugar algum. Por sorte, ainda podemos encontrar na Amazon. Além do pouco (pra não dizer nenhum) destaque, a editora falhou em seu trabalho de revisão. Diversos erros foram encontrados durante a leitura. Erros de revisão dos mais bobos, o que mostra como a editora precisa melhorar - e muito - se quiser continuar existindo.

No mais, sei que é difícil, mas espero que mais obras da autora cheguem no Brasil, porque ela tem uma escrita maravilhosa - sem falar que é humilde e responde os leitores nas redes sociais. Leitura mais que recomendada.

Leitura participante do:





Olá!

Na retomada da parceria do blog com a Oasys Cultural, recebi um lindo exemplar de No Reino das Girafas, que, apesar de suas poucas páginas, tem uma grande lição. Foi escrito pela Jacqueline Farid e publicado pela editora Jaguatirica.
SKOOB - No Reino das Girafas conta a história de uma mulher - cujo nome não é informado em nenhum momento da obra - que, em viagem pela Namíbia, além de estar numa busca por si mesma e conhecer o país, também procura um jeito de terminar seu relacionamento, que está tão estável e rotineiro que perdeu todo o brilho de outrora. O namorado está em seu país de origem (que também não nos é informado).

Passeando por diversos pontos turísticos do país, nossa narradora vai imaginando situações e relembrando momentos de sua vida. E a viagem tem seus pontos perigosos, agravados pelo fato de que é uma mulher que está viajando sozinha, de carro, por um país desconhecido, numa região que não é vista com bons olhos pelo resto do mundo - num mundo machista, isso pode ser fatal, infelizmente. Mas nem só de perigo vive a narradora. Ela também desfruta lindos passeios por aldeias e savanas, encontrando todo tipo de animal, incluindo as girafas que dão nome ao livro.

Junto com seus instrumentos de praxe, a narradora leva um caderno de capa vermelha, em que, de acordo com o que acontece na viagem, ela pensa numa frase que se encaixa naquele contexto e escreve nesse caderno. As frases aparecem constantemente durante a leitura, uma mais linda que a outra.
A única verdade absoluta que o leitor sabe é que Jacqueline Farid viajou para a Namíbia três vezes, em 2009, 2010 e 2011, sempre no mês de agosto. Será que a autora estava inspirada durante essas viagens? Será que os fatos retratados no livro realmente aconteceram com ela? Será que ela realmente se separou do namorado?

Apesar de serem perguntas interessantes, todas elas ficam em segundo plano quando lemos o livro, que tem uma delicadeza única. Não sei em que ela se inspirou para escrevê-lo - além do país, claro - mas essa jornada de autodescoberta por parte da narradora nos faz refletir sobre nós mesmos e o que fazemos de nossa vida. Mesmo só tendo 108 páginas, cada linha, cada palavra tem sua importância na história. Só me irritei no finalzinho, quando eu tô quase feliz, aí a situação acontece e eu me pergunto: por quê?? Você conseguiu, não reclama, mulher!!

O trabalho de edição/revisão/capa da Jaguatirica segue um pequeno padrão da editora, mas essa capa com tons de terracota (parece nome de batom) e amarelo, com as girafinhas correndo está tão linda!!! Não encontrei nenhum erro e a leitura flui muito rápido, não só pela quantidade de folhas, mas também pela escrita simples da autora. Leitura recomendada.

Morrer é engolir o grito.



Olá!

Só agora estou pegando o gosto por romances históricos. E A Paixão de Tiradentes, escrito pela dupla Assunção-Boisson me foi uma grata surpresa, até porque tem uma pegada de suspense. Vem conferir a resenha.


SKOOB - Misturando ficção com fatos reais (amo), A Paixão de Tiradentes vai começar com o jovem Philippe irredutível em seu desejo de estudar no Brasil. Ele é francês e decide estudar geologia em nosso país, especificamente em Ouro Preto. Ele não pensa em desistir, mas quando sua mãe morre (não é spoiler porque isso acontece nas primeiras páginas), mais do que nunca ele quer vir - contra a vontade do pai, claro.

Mas, antes de morrer, a mãe de Philippe o presenteia com uma imagem barroca. Uma santa. E não é uma imagem qualquer, é uma escultura feita por ninguém mais e ninguém menos que Aleijadinho, creio eu que é o maior escultor que esse país já viu. O jovem acha o presente uma bela bosta, mas acaba aceitando só pra deixar a mãe feliz. E qual não foi a surpresa quando, ao deixar cair acidentalmente a imagem, a mesma se abre e revela algumas coisas dentro dela!

E essas coisas são alguns - vários - diamantes e uns manuscritos escritos por Teresa de Carvalho, viúva de ninguém mais e ninguém menos que Tiradentes! Um dos primeiros mártires deste país teve parte de sua história registrada por sua segunda esposa, e esses papeis chegaram às mãos de Philippe, que, estupefato, resolve fazer uma cópia para levar ao Brasil, para que ele pudesse estudar com Véronique, tia de sua mãe.

Em Ouro Preto, Philippe conhece a jovem Gabi, por quem acaba tendo uma quedinha, pois nunca vira garota tão simpática em sua vida. Ele também revê Véronique, que vai se debruçar no conteúdo encontrado na santa. Conforme vão lendo, vão descobrindo mais e mais sobre o que foi a Inconfidência Mineira. Só que Philippe e Véronique não são os únicos interessados, mais alguém quer muito os diamantes e os manuscritos também...
Recebido em parceria pontual com a Livraria Francesa, A Paixão de Tiradentes é romance histórico misturado com suspense. Muito melhor que muita aula de História que tive na vida, o livro vai contar, com pitadas de ficção, o que aconteceu nos idos de 1789, quando Tiradentes (na narrativa é chamado de Xavier) e mais uma galera, revoltada com a possibilidade de uma derrama*, pensou em fazer uma revolta, afim de evitar o pagamento do imposto abusivo - olha o povo se fud**** desde o século XVIII...

* Para entender o que é a derrama, primeiro você precisa saber o que é o quinto. O quinto é um imposto que os cidadãos pagavam para a Coroa para cada quilo de ouro encontrado no país. Ou seja, se você encontrasse um quilo de ouro na colônia, 20% ia para Lisboa - que, por sua vez, repassava à Inglaterra para pagar dívidas. Como nem todo mundo pagava o quinto em dia, a dívida ia acumulando. A derrama é, basicamente, o confisco de bens e ouro para atingir as 100 arrobas anuais (ou uma tonelada e meia) de ouro que os mineradores deveriam pagar referente ao quinto.

Só que a Coroa nunca cobrou a bendita derrama. E descobriu a Inconfidência. Todo mundo foi preso, inclusive o maior judas do Brasil, Joaquim Silvério dos Reis, mas só o Tiradentes foi condenado à morte. Silvério foi perdoado e os demais envolvidos pagaram com trabalho forçado na África até morrer. Teresa conta como isso aconteceu com uma impressionante riqueza de detalhes. Detalhes esses que só quem viu pode contar.

E mesmo sendo ficção, os autores - separados por quilômetros de distância; Marc é francês e mora na Cidade do México. Stefânia mora no Brasil - conseguiram escrever uma história muito bem feita, rica em detalhes reais, sem ficar chato ou cansativo. A Paixão de Tiradentes é narrada em terceira pessoa, mas em dois tempos diferentes: em 2017, em Paris e Ouro Preto; e no século XVIII, através dos escritos que Teresa deixou.

Publicado originalmente em 2013, atualmente só pode ser encontrado no site ou nas unidades da Livraria Francesa, em uma edição exclusiva da LF Publicações (editora da marca Livraria Francesa). De início parece ser uma leitura mais adulta, mas a escrita é fluida e de fácil compreensão, sendo acessível para todas as idades. Devorei esse livro em um dia, tamanha era minha vontade de saber quem matou a mãe de Philippe e também dos pormenores da Inconfidência Mineira. Edição bem feita, sem erros de nenhuma ordem. Só não gostei das folhas brancas, mas a editora compensou usando uma fonte tipográfica um pouco maior - o que não fez as letras ficarem "sambando" na minha cara.

Enfim, A Paixão de Tiradentes foi uma grata surpresa para mim, agradeço à Livraria Francesa, representada pelo Vladimir, que foi quem me cedeu o exemplar. Espero que a editora publique mais obras da dupla, caso haja, porque gostei bastante da temática, ainda mais por saber que tem um estrangeiro que escreve tão bem (e sem preconceitos) sobre nosso país e nossa cultura.


Olá!

Hora de conferir mais uma sugestão de leitura bacana para você ler nesse inverno, rápida e engraçada. Confira a resenha de Naomi & Ely e a Lista do Não Beijo, escrito por David Levithan em parceria com Rachel Cohn.
SKOOB - Naomi e Ely são amigos inseparáveis. Naomi já namorou o Bruce, o Primeiro, e agora está com o Bruce, o Segundo, que ama Ely. E Ely é gay. Mas uma briga vai fazer com que ambos briguem. Uma briga feia, que não aconteceu nem mesmo quando o pai de Naomi teve um caso com uma das mães de Ely.

Além disso, tem a Robin (de Schenectady, uma cidade no interior dos EUA) que gosta do Robin (que sempre é visto no Starbucks próximo à faculdade). Tem o Gabriel, o porteiro gato (e hétero) do prédio onde a dupla mora, Kelly, irmã do Bruce, o Segundo, e a Lista do Não Beijo. Basicamente, é uma grande bagunça, mas o livro vai começar com Naomi contando como mente compulsivamente. Mente tanto que está até acostumada. Ela ama Ely, mas o sentimento mudou conforme os anos foram passando. E ele não percebeu. E depois dessa briga feia, os dois vão se separar, algo impensável para as pessoas que moram no prédio onde moram os amigos. Aliás, ambos são vizinhos de porta.

A Lista do Não Beijo™ é uma lista que, como o nome já diz, é uma lista em que os nomes nela escritos não devem, em hipótese alguma, ser beijados.

Como disse, o livro é uma bagunça, mas conforme você vai lendo, vai se organizando e entendendo a trama. Rodeados de Starbucks e festas LGBTQ, Naomi e Ely vão vivendo uma vida de universitários, cada um com seus problemas, como Ely e seus sentimentos acerca de Bruce, o Segundo, e Naomi, preocupada com sua mãe, que ainda não superou a traição de seu ex-marido.
Minha visão passa bem.
Por ser um livro para o público jovem, então está com uma linguagem bem atual. Todos os personagens que citei narram pelo menos um capítulo no livro - sempre em primeira pessoa - e, principalmente nos capítulos que a Naomi narra, aparecem vários emoticons, super legais, mas pra quem enxerga bem, o que não é meu caso - principalmente para ver os bonequinhos que diferenciam Robin (menina) de Robin (menino), tive que praticamente enfiar o livro na cara. A intenção foi boa, mas poderiam ter evitado essa fadiga.

Mas, pior que emoticons, só mesmo a tradução da editora para títulos de outra editora. Um dos Bruce (não direi qual, rs) é fã de Nicholas Sparks. Até aí tudo bem, mas a tradução resolveu dizer que o personagem citou os trechos de "Mensagem na Garrafa" e "O Caderno de Noah". Tá brincando, né? Tudo bem que Sparks saiu pela Novo Conceito (Arqueiro recomprou recentemente), mas são livros mundialmente conhecidos, pra que fazer a tradução literal, Galera Record? Será que tem a ver com royalties? Ainda mais porque nós que somos fãs sabemos que Message of a Bottle aqui é "Uma Carta de Amor" e "The Notebook" é "Diário de Uma Paixão". Pior do que isso, foi ver que escreveram certo mais um título que o personagem leu: "Um Amor para Recordar".

Voltando à minha opinião sobre o livro, apesar de eu não ser o público alvo, foi uma boa leitura. É uma obra de entretenimento, então ela vem pra te arrancar boas risadas. Claro que, em um momento ou outro o leitor se depara com uma frase mais profunda, principalmente quando os personagens falam sobre amizade. É um livro que pode ser lido tranquilamente, em dois dias ou menos, isso porque a dupla Levithan-Cohn tem uma escrita bem tranquila, leve e gostosa. A capa é linda (esse copo me lembra os do Starbucks) e tirando o detalhe do parágrafo acima, a tradução está ótima. Leitura recomendada.




Olá!

Cumprindo o sexto tópico do Desafio 12 Meses Literários, cujo desempenho você acompanha na sidebar, o resenhado de hoje me foi uma grata surpresa, além de uma aula de História. Neste mês, eu deveria ler um livro com mais de 300 páginas, e o escolhido foi Portões de Fogo, lançamento da Marco Polo, selo da Contexto - e que tem 431 páginas.
SKOOB - Portões de Fogo é o relato do cativo Xeones, que foi preso pelo rei Xerxes, da Pérsia. Xeones foi o único sobrevivente grego da Batalha de Termópilas, onde o rei Leônidas e seus 300 espartanos lutaram contra dois milhões de persas. Sim, isso mesmo, 300 contra dois milhões. Assim como naquele filme que tem o Rodrigo Santoro. Xeones vai narrar toda sua história para o rei da Pérsia.

Mas como Xeones tem muita coisa a contar, ele vai começar explicando que veio da cidade de Astakos, que foi saqueada, e sua família brutalmente assassinada, sobrando apenas ele, sua prima Diomache e um escravo. Os três passaram altos perrengues até se separaram, cada um indo para um lado. O cativo foi parar em Esparta, onde os homens já nascem predestinados a uma coisa: lutar até o fim.

O narrador, literalmente, comeu o pão que o diabo amassou em Esparta, porém, como vinha de outra polis, acabou por se tornar um criado. Com uma riqueza de detalhes que só quem viu pode contar, Xeones vai destrinchar toda sua vida, o paradeiro de sua prima, as pessoas que o ajudaram em sua jornada, e, o mais importante, dizer como foi possível 300 pararem dois milhões. Durou só sete dias, mas, só isso já é o suficiente para mostrar a grandeza do povo espartano.

Steven Pressfield, o autor dessa riqueza histórica, se baseou nos textos de Heródoto, principal historiador da época, para criar um personagem que viveu uma história real (até que se prove o contrário, tudo isso aconteceu). Com uma riqueza de detalhes que não me lembro de ter visto em outra obra do gênero - não que eu leia muitos históricos - o leitor vai adentrando a Grécia antiga, com todas as suas maravilhas, e suas guerras também, porque esse povo amava lutar...
Cada capítulo se inicia com esse elmo ilustrando o rodapé.
Como é uma aula de História, aprendi algumas palavras em grego, como andreia (coragem), katalepsis (possessão, no sentido de medo extremo) e a oudenos charion (terra de ninguém, aquele espaço vazio onde os guerreiros batalham), e relembrei outras, como as consagradas polis (cidade) e democratia (democracia). Além disso, a leitura é lenta, pois a narrativa de Xeones é viva, cheia de detalhes.

Só o que me confundiu foi a questão do nome do lugar: o conjunto de todas as polis é Grécia ou Hélade? Ou os dois servem? Isso, infelizmente não ficou muito claro pra mim. O que não significa que você não deve arriscar a leitura - aliás, se você souber o nome certo, me avisa nos comentários!

Depois de três décadas, a Marco Polo volta a investir em ficção, voltado para o gênero histórico. E, para mim, ela acertou em cheio ao escolher este livro como sua primeira publicação. Como Pressfield domina o assunto, ele não deixa nenhuma ponta solta, sua escrita flui, apesar dos diversos termos específicos da Grécia Antiga que, a princípio pode confundir, mas quando você compreende, a leitura fica mais tranquila.
Meus minions guerreiros...
Definitivamente, não é um livro para ser lido com pressa. Cada detalhe deve ser saboreado, vivido na pele, como se o leitor estivesse em Esparta, batendo e apanhando até não resistir mais. Aliás, Esparta era um lugar tenso, onde os homens viviam apenas para a guerra. Desde que nascem, os meninos são instruídos a golpear o inimigo e louvar aos deuses.

Agora, a Marco Polo vai precisar publicar um livro falando sobre o território grego hoje. Esparta ainda existe? E Astakos? Da Antiguidade, só sobrou Atenas? Infelizmente, não encontrei essas informações na internet. Porém, se você quer saber um pouco sobre a Grécia Antiga, vale muito a pena ler Portões de Fogo.

P.S.: o final é muito digno, principalmente quando o rei Leônidas revela porque escolheu os 300 espartanos em questão.