Olá!

O nome dessa série passou na minha timeline do Facebook e, logo de cara me chamou a atenção por motivos de: romance policial escandinavo. O termo chave para me atrair para qualquer produção advinda dessa região. E o mais legal é que é uma produção islandesa, o que me é uma novidade, pois da Islândia só conheço a Björk e o escritor Arnaldur Indridason. Conheça Trapped.
Trapped nos apresenta o detetive Andri (Ólafur Darri Ólafsson), que depois de algum tempo morando em Reykjavik, capital da Islândia, volta para a cidade portuária onde vivia. Só que, devido a uma tempestade, a cidadezinha fica isolada. E nesse meio tempo, um tronco é encontrado no mar, ao mesmo tempo em que um balsa dinamarquesa ali aporta.

Porém, antes de começar a investigação do tronco, faz-se necessário voltar no tempo, em 2008, quando uma fábrica desativada é incendiada e a cunhada de Andri morre - era lá que a jovem se encontrava, às escondidas, com o namorado. Ele, inclusive, leva a culpa.

Tendo como ponto de partida o tronco, Andri e sua equipe policial de duas pessoas - é tudo o que ele tem disponível - os oficiais Ásgeir (é homem; Ingvar Eggert Sigurðsson) e Hinrika (Ilmur Kristjánsdóttir), terá que lidar com uma série de situações que acontecerão após esse tronco ser encontrado. Lembrando que a cidadezinha está isolada e não tem como o pessoal da capital mandar mais efetivo.
Em paralelo à investigação, Andri tem seus próprios problemas (como todo protagonista de romance policial deve ter): ele mora na casa dos sogros (confesso que demorei pra entender esse detalhe), junto com suas duas filhas. Sua ex-esposa está com outro, o que o deixa muito magoado, pois ele acreditava que poderiam reatar o relacionamento. Além disso, seu sogro não consegue entender como o namorado de sua filha caçula saiu da prisão, mesmo o jovem já tendo cumprido a pena.

Numa paisagem branca e imponente, Trapped mostra que até mesmo na Islândia ninguém está seguro. Não se pode perder nenhum detalhe, preste atenção em todos os nomes (mesmo sendo praticamente impronunciáveis), em todas as pessoas. Todos são suspeitos e Andri não tem muitas pessoas em quem confiar. Ele também tem seus segredos. Tem que encontrar o assassino ao mesmo tempo em que seu coração se parte mais e mais porque a ex está em outro relacionamento.

Diferente de outras produções, em Trapped não tem gente com padrão Hollywood de beleza (eu achei o Andri fofinho, confesso), o que pode ser um reflexo da população, os personagens são gente como a gente. Eu fiquei pensando como é viver num país que faz frio o ano todo e a neve, dependendo da tempestade, cobre o seu carro por inteiro. E aí não dá nem pra sair de casa. Como a série foi gravada toda no inverno, nem quero imaginar como deve ter sido difícil pro pessoal gravar as cenas externas, eu fiquei com frio por eles...
A série tem apenas 10 episódios e, até onde pesquisei, a segunda temporada vai ser gravada só ano que vem. Obviamente Andri é meu favorito, mas também criei afeição pela Hinrika (já virei fã da atriz), ainda mais porque sua personagem vai crescer ao longo da série, se tornando bem importante, assim como Ásgeir, que vai cometer umas burradas, mas vai se mostrar um policial bem correto. Enfim, uma pequena equipe que, unida, fará muitas descobertas.

Eu não sou a maior fã de maratonar séries, por isso demorei uns três finais de semana para ver tudo, porém, se você tem tempo livre/paciência, eu recomendo Trapped, provavelmente diferente de tudo que você já viu. A propósito, a fotografia é tão linda, fiquei com vontade de conhecer o país depois de conhecer Andri e sua história.

P.S.: fiquei sabendo que há um brasileiro no elenco.

Olá!

Talvez, só talvez, eu curta um scandi-crime (agora que descobri esse termo, quero usar pra sempre). E ler mais uma obra escrita pelo islandês Arnaldur Indridason é sempre um prazer. Confira a resenha de O Segredo do Lago.
SKOOB - O Segredo do Lago vai começar com uma hidrologista encontrando um corpo num espaço que outrora fora um lago. O mais curioso disso é que, junto ao corpo foi amarrado um dispositivo de origem russa. E só uma pessoa poderia cuidar desse caso (uma pessoa que ama investigar desaparecidos).

Nosso amado detetive Erlendur Sveinsson estava na santa paz de suas férias, remoendo seu passado, até que recebesse a ordem para cuidar do caso. E claro que não fará isso sozinho, vai contar com a ajuda de seus parceiros Elinborg, que acabou de lançar um livro de receitas que está sendo bem aceito pela crítica, ficando conhecida como "a detetive gourmet", e Sigurdur Oli, que tem um problema com um certo homem, que liga para ele para conversar com o investigador como se este fosse algum psicólogo.

Em paralelo a essa história, Tómas vai estudar em Leipzig, na então Alemanha Oriental, pois está deslumbrado com o socialismo. Ele conhece algumas pessoas, incluindo a húngara Ilona, com quem se apaixona. Lembrando que Tómas estudou lá nos anos 50, quando o socialismo e o comunismo estavam bombando. Claro que Tómas não conhece Erlendur (nem daria), mas as duas histórias, em certo momento, se tornarão uma só.
A grande sacada desse livro é conhecer o sistema prisional na Islândia. Me surpreendi quando descobri que roubo de carro e assalto são considerados "crimes de pequeno porte", não são tão relevantes assim, segundo consta na história, tem até policial que diz pra vítima que não precisa fazer B.O. Como assim???? Durante a história, conhecemos mais do território islandês (que é mais que um pedaço de gelo no oco da Escandinávia).

Já na vida pessoal, Erlendur conhece Valgerdur, uma mulher casada, mas que acaba se envolvendo com o detetive - inclusive shippo esse casal e espero que eles fiquem juntos em algum outro livro. Sua relação com os filhos continua ruim: Eva Lind continua se drogando e Sindri Snaer aparece do nada e resolve morar em Reyjkavik - lembrando que os filhos do Erlendur sofreram alienação parental na infância, agravados pelo fato de que o pai foi embora de casa cedo e cagou pra eles, praticamente.

O livro também mostra que o socialismo não é bom não, amiguinhos. Tanto que, quando Tómas descobriu do que se tratava, aí já era tarde, era socialista até a unha. O bom do romance policial é justamente isso: mostra o ruim e o péssimo de cada país. A Islândia tem lindas paisagens, mas que também tem seus problemas. Aliás, bem que poderiam chegar no Brasil mais autores deste país, tirando a Suécia, quase não conhecemos autores policiais escandinavos...
Aproveitem e anotem o código Dewey deste livro!
Para sair da zona de conforto, vale a pena sim ler O Segredo do Lago, que, mesmo traduzido da versão americana (não é todo mundo que fala islandês...), ganhou uma excelente versão da Cia. das Letras. A leitura flui muito bem e não tem como não gostar do Erlendur, mesmo ele sendo rabugento às vezes!

Aleatório: não é querendo elogiar, mas se um dia algum livro dessa série virar filme, pode chamar o próprio Arnaldur pra interpretar o Erlendur. Eu olho pro autor e vejo Erlendur, e não Arnaldur!




Olá!

Mais uma vez trago um romance policial. Oficialmente, enjoei momentaneamente deles, porque li tantos nesse início de ano que não aguento mais ver um policial/investigador/escritor ou coisa que o valha - vou retomar o gênero com Millennium, no fim do ano, rs. Mas, antes de qualquer enjoo, é hora de conferir como foi minha experiência ao ler O Silêncio do Túmulo, do islandês Arnaldur Indridason (não me perguntem como se pronuncia).
A trama começa numa festa de aniversário que está rolando num bairro rico de Reykjavík, capital da Islândia (que me faz lembrar da Björk, rs). Até aí tudo bem, mas algumas das crianças encontram uns ossos, que depois descobriu-se que fazia parte de uma ossada humana. Esses ossos foram encontrados no "Bairro do Milênio", um canteiro de obras de uma região da cidade que está se expandindo rapidamente, graças à especulação imobiliária.

As investigações preliminares revelaram que a ossada estava lá há pouco mais (ou menos) de 70 anos, ou seja, desde o tempo da Segunda Guerra. E é aí que entra nosso protagonista, o detetive Erlendur (pra quem não gosta de nomes nórdicos, tá liberado reclamar). O policial está às voltas com um grave problema pessoal: sua filha, Eva Lind, viciada e grávida, está em coma, por causa de uma overdose. Ele e a filha não se dão bem, por causa da maldita alienação parental.

Erlendur briga com a filha, não fala com o filho e volta e meia toma uns gritos de Hálldora, sua ex-mulher. Paralelo a vida desse pobre policial, temos uma mulher. Ela vive no tempo da Segunda Guerra. É mãe solteira, com uma filha que sobreviveu a meningite infantil e ficou com uns traumas. Essa mulher - cujo nome não é revelado em grande parte da história - conheceu um cara e acabou casando com ele, assim, do nada. E passou a bater nela, dia sim e dia também. A mulher, que já era mãe da Mikelina, teve mais dois filhos desse homem, cujo nome também não é citado, mas ganhou o apelido de Grímur de um de seus filhos. 

Com a ajuda de seus colegas inspetores Sigurdur Óli (que tem uma namorada que beira a ninfomania e ele não quer casar com ela) e Elínborg (que é formada em Geologia e ama romances, além de ser uma das poucas policiais na Islândia, à época que o livro foi escrito). Além de toda a merda envolvendo a filha e o caso policial, uma situação do passado está atormentando nosso Erlendur. E agora, ele precisa desvendar o que aconteceu há 70 anos, com grande probabilidade de não resultar em nada porque muitos já morreram, vai saber.
Bem, apesar de ter enjoado momentaneamente de romances policiais, eles sempre terão um cantinho no meu coração. Eu o encontrei na biblioteca que frequento, perdido na seção de... romances policiais (ah vá). Preciso dizer que comecei a ler o gênero com James Patterson e sua maravilhosa série do Alex Cross e passei a gostar de vez por causa do mito/gênio/deus/fora de série/homão da porra Stieg Larsson. Então, não tenho como não dizer que me surpreendi com a escrita do Arnaldur.

Intrinsecado e bem escrito, ao longo da trama, vários personagens entrarão ao longo da mesma, e eles nos surpreendem, pois não sabemos se têm a ver ou não com o crime. A escrita dele te prende mesmo, a ponto de você não querer parar pra nada. E ainda dá tempo de conhecer mais sobre a Islândia, que é um país minúsculo na Escandinávia, onde, no verão, não existe noite e sua população total é de cerca 300 mil pessoas - e o presidente gostaria de poder proibir por lei o abacaxi na pizza

Com uma premissa original e autêntica, Indridason colocou a Islândia no topo, pois, com este livro, ele ganhou diversos prêmios, merecidos, graças a sua habilidade em fazer com que um investigador tenha que driblar sentimentos pessoais, ao mesmo tempo que tem uma dívida pendente com sua família e saber de quem diabos é a bendita ossada, além de sofrer com a mulher vítima da violência doméstica - uma triste realidade. É narrado em terceira pessoa, sob os pontos de vista de Erlendur e da mulher.
No começo do livro, tem um mapa que mostra a Islândia e outro que mostra a parte da cidade em que a ossada foi encontrada. E eu esqueci de tirar foto, mas garanto a vocês que o mapa do país cabe em uma folha. Sério. Pior que os nomes dos personagens são os nomes dos locais. Perceberam que só escrevi Reykjavík e Bairro do Milênio? Pois é, mesmo com o esforço hercúleo da editora em acentuar as palavras e facilitar a pronúncia, não dá, tentar pronunciar todos esses nomes dá um nó no cérebro.

Uma excelente edição da Companhia, sem erros de nenhuma ordem e o único ponto negativo é que não há travessões nas falas, e sim aspas, no modo americano (ou francês?). Não o façam, por favor, é chato de acompanhar a leitura. Mas isso não é motivo pra desistir da obra, até porque o final te deixa com uma cara de "como assim, Brasil?". Aliás, pesquisando aqui, descobri que O Silêncio do Túmulo é o quarto livro da série do detetive Erlendur (o primeiro é o A Cidade dos Vidros, publicado pela Record), que já fazia sucesso fora da Escandinávia no fim dos anos 90 (muito antes de Millennium).

O que é surpreendente vindo de Arnaldur é que a Islândia é um país com baixíssima taxa de homicídios, então, haja criatividade pra inventar crimes! Aproveitem que esse simpático autor passou a morar no meu coração e confere essa entrevista aqui que ele deu pro site d'O Globo, em 2011, mas que é bem legal. Só tomem cuidado com os spoilers, rs.

Vida longa à Escandinávia, celeiro de grandes romancistas policiais :)