Páginas

3 de agosto de 2015

Resenha: Memórias de Uma Gueixa

Olá!

O resenhado de hoje é um romance biográfico. É romance porque o autor assim descreveu. E é biográfico porque está contando uma história real. Adianto logo que, infelizmente, o personagem não existiu, porém muitos relatos são reais. Estou falando do livro "Memórias de Uma Gueixa", do Mestre em História Japonesa pela Universidade de Columbia, Arthur Golden. Esse é o tipo de livro que devemos ler com a mente aberta, sem nenhum preconceito. Logo, tem muitas coisas no universo das gueixas que 1- você talvez não saiba e 2- você tem uma ideia distorcida sobre. Por isso, a leitura tem que ser livre de pré-conceitos, pois é uma história que surpreende.

O livro começa contando a história da pequena Chiyo, de apenas nove anos. Ela, seu pai, um humilde pescador, sua mãe, que está muito doente, e sua irmã mais velha Satsu vivem na aldeia de Yoroido, no Japão - uma aldeia distante das grandes metrópoles. Como eu disse, a mãe de Chiyo está muito doente e, em uma dessas questões do momento, ela conhece o sr. Tanaka Ichiru, dono da Companhia Japonesa de Frutos do Mar.



Então, o sr. Sakamoto, pai de Chiyo, simplesmente resolve vender as meninas como escravas - lembrando que essa história se inicia na década de 1920 - pois o velho não conseguiria suportar a perda da segunda esposa e tampouco criar duas filhas pequenas sozinho. O sr. Tanaka, por quem Chiyo tinha grande consideração, foi o intermediário dessa venda. As duas saíram de sua "casa bêbada" - como a pequena chamava sua casa - e foram parar em Kioto. Lá, elas foram separadas. Chiyo foi para o distrito de Gion e Satsu... bem, por ora não sabemos para onde foi a mais velha.

Nos áureos tempos antes da Segunda Guerra Mundial, Gion era um dos distritos de gueixas mais famosos do Japão. E foi para uma okiya (casa onde vivem as gueixas) que Chiyo foi morar. Uma característica marcante da menina eram os olhos. De um cinza-azulado incomum. Quem a visse, dizia que ela tinha água em sua personalidade. Isso significa que ela não era de ficar parada ("águas passadas não movem moinhos"), ela sempre está em constante transformação. Mas, por enquanto, ela sofreria nas mãos de Hatsumomo, uma das gueixas mais famosas de sua época. Extremamente bonita. E malvada.

Chiyo tinha tudo para se tornar uma criada e dar prejuízos à okiya onde morava, mas, ela decidiu ser uma gueixa de sucesso por causa de um homem. Um homem que fez algo simples por ela, mas que lhe marcou por toda a vida. Ela tentou fugir com sua irmã, levou várias surras (não merecia nenhuma) e foi relegada a servir Hatsumomo (que ódio dela!), mas, ela queria mais. Queria se sobressair. E assim, deixou de ser Sakamoto Chiyo para ser Nitta Sayuri, uma das mais famosas gueixas não só do distrito de Gion, mas de todo o Japão.

Poderia ficar aqui falando toda a história da menina, porém, agora vou me ater às várias coisas que aprendi lendo esse livro: como vestir um quimono, como uma gueixa se porta durante uma festa, como ela tem que se arrumar... e o mais importante: gueixas não são prostitutas. Sim, eu tinha essa noção que me foi corrigida com um simples parágrafo. O quimono é uma peça muito complicada de se vestir. É um traje para se vestir a quatro mãos. Mas aqui vou me ater ao obi, que é uma peça fundamental, pois é a faixa que segura o quimono no lugar. E é justamente o obi que diferencia a gueixa da prostituta: o obi da gueixa tem que ficar atrás. O da prostituta fica na frente, pelo simples motivo de que, em serviço, a prostituta não tem tempo nem habilidade para desmontar o obi à perfeição e, deixando à frente do corpo, facilita na hora de tirar. Achei incrível. 

Ainda sobre diferenças entre gueixa e prostituta é que a gueixa pode (e deve) ter um danna (amante), que pagará seus custos junto à okiya - sim, enquanto a gueixa estiver na okiya, ela é propriedade do local e sempre está em débitos - e seus luxos, como quimonos e acessórios. Falando em acessórios, vocês sabiam que as gueixas não lavam os cabelos diariamente? Sim, isso é nojento, mas tem uma explicação: os cabelos das gueixas têm que estar impecáveis, por isso vão aos salões para arrumar o cabelo de acordo com a ocasião. Por ser um procedimento caro, elas não vão sempre e fazem de tudo para manter o cabelo perfeito. Elas também não emprestam os enfeites de cabelo e pentes. Equiparando, é como se nós, brasileiras, tivéssemos o hábito de emprestar calcinhas (espero que ninguém empreste calcinhas às amigas hahahaha). Se a gueixa causar muitos problemas à okiya, ela pode ser expulsa e acabar se tornando prostituta, já que, se ela causou problemas em uma okiya, pode muito bem prejudicar outra, então, ela passa a ser mal vista.

Voltando à história, Chiyo, com muito esforço, conseguiu se tornar uma aprendiz de gueixa. Ela se tornou Sayuri, irmã mais nova de Mameha. Entre as gueixas há a política de adoção. Na casa onde Chiyo vivia, além dela tinha também a Abóbora, outra aprendiz de gueixa. No livro, a menina é citada apenas como Abóbora porque "ela vivia com a língua de fora enquanto fazia suas tarefas e sua cabeça lembrava a de uma abóbora". Pois bem, a gueixa mais rentável adotava uma das meninas para ser sua aprendiz: deveria ensinar a menina todos os segredos e tudo o que a gueixa deve saber. Na okiya Nitta, era Hatsumomo (a recalcada) que escolheria a sua irmã mais nova. Obviamente escolheu Abóbora, que era meio tonta, diga-se de passagem. Aí entra Mameha(!!!). Mameha era uma gueixa mais bem-sucedida que Hatsumomo, pois morava em um apartamento sozinha e ainda tinha uma criada para lhe servir. E isso era algo difícil de se conseguir no Japão daquela época.

E foi com a ajuda de Mameha que Chiyo se sobressaiu. Ela fez muito sucesso em Gion, passou a ganhar mais que Hatsumomo até. Mameha adotou Chiyo, lhe instruiu, ensinou vários segredos, apresentou vários homens importantes e deu um nome de gueixa: Sayuri. Vendo que a agora gueixa Sayuri dava mais lucro e ainda por cima conseguiu pagar seus débitos, a dona da okiya resolveu adotar a jovem. Lembrando que a okiya é a casa onde moravam as gueixas. Ela era gerenciada por Vovó (que morre quando Chiyo ainda era criada), Mamãe (que só pensa em dinheiro) e Titia. Os nomes das três não são revelados. Então, Sayuri passa a ser Nitta Sayuri. Nitta era o nome do local e Sayuri era seu nome de gueixa.

A única coisa que não gostei da história foi do mizuage. Isso significa, dado momento da vida da jovem gueixa, ela precisa se preparar para o mizuage, que nada mais é que o leilão da virgindade. Lembrando que, a gueixa pode ter um amante para lhe entreter, mas jamais deve transar com uns e outros, muito menos ter namorado/marido/rolo. Se tiver, automaticamente deixa de ser gueixa. Sei lá, a vida da Sayuri sempre foi comandada por terceiros, será que custava ela ter o direito de tomar essa decisão? Mas a vida de uma gueixa é cruel, por trás dos lindos quimonos de seda e das maquiagens impecáveis, havia jovens cujos destinos era comandados por terceiros, visando o lucro e algum prazer. Tudo muda quando vem a Segunda Guerra. Sayuri é obrigada a fugir e Gion muda completamente. Com a ajuda de seu danna (amante), ela consegue ir para Nova York abrir uma casa de chá. Já contei para vocês que as gueixas trabalham em casas de chá, cantando, dançando e entretendo os homens? Pois é, as casas de chá têm de tudo, menos chá. E foi esse danna que, mudou completamente a vida da gueixa.

Eu recebi o exemplar da Arqueiro, parceira do blog (que eu deveria ter postado mês passado, mas não deu) e está impecável, folhas amareladas, fonte confortável, não tem erros de digitação e revisão e todas as palavras em japonês tem seu significado (aprendi algumas hehehe). O autor escreveu esse livro com uma delicadeza única. Sayuri está conversando com o leitor, foi assim que me senti, conversando com uma gueixa, torcendo para ela sair das garras da Hatsumomo e absorvendo cada detalhe da vida dela. Sério, esse livro é tão incrível que me deu vontade de usar um quimono! Mas um quimono de verdade, não esses das lojas de varejo, que mais parecem um trapo surrado.

Sim, me alonguei e a resenha está enorme. Mas essa resenha não tem um décimo da mensagem que o livro transmite. E, vocês perceberam que, todos os citados nessa resenha tiveram o sobrenome escrito antes do nome? Lá no Japão é assim que escrevem o nome das pessoas: sobrenome + nome. Não à toa é Nitta Sayuri em vez de Sayuri Nitta. E pra terminar, Memórias de Uma Gueixa virou filme - de sucesso, aliás, ganhou 29 prêmios, incluindo três Oscars e um Globo de Ouro.




22 comentários:

  1. Oie,
    nossa li este livro faz tempo e gostei muito.
    Bem sofrido, mas lindo!

    bjs
    http://blog.vanessasueroz.com.br

    ResponderExcluir
  2. Estava pensando sobre esse livro esses dias, quero lê-lo.
    Nunca me preocupei antes em entender mais sobre Gueixas, mas depois de ler a sinopse do livro e de pesquisar sobre o filme, fiquei bem curiosa.

    Beijo
    O Outro Lado da Raposa

    ResponderExcluir
  3. Olá!

    Eu conheci esse por causa dos lançamentos da arqueiro. Mas eu não sou fã de biografias, não sei se mesmo sendo um romance biografico não conseguiria ler no momento.
    Sua resenha foi bem detalhada e deu para aprender um pouco.
    Achei mais interessante o filme do que o livro, mas é porque eu acho que vai ser mais facil de assimilar todos os códigos de postura e nomes.


    Beijinhos,
    www.entrechocolatesemusicas.com

    ResponderExcluir
  4. Oii!
    Tudo bem?
    Que resenha mais completa *-*
    Eu conheci o livro pelos lançamentos da Arqueiro e tinha me interessado bastante. Essa foi a primeira resenha que leio e só confirmou o que eu pensava sobre o livro.
    Adorei a parte sobre as coisas que você aprendeu com a leitura.
    Beijos
    mundoemcartas.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  5. Olá,
    Não interesse na leitura mas gostei da resenha, a capa é muito linda mesmo.
    Abraço!
    Leitura Fora De Série

    ResponderExcluir
  6. Olá, como estás?
    Adorei a resenha, mas não fiquei muito interessado em lê-lo, não gosto muito do tipo desse livro, mas a história é bem legal.
    Abraços!
    http://olivroemquehabito.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  7. Oi Kamila, nossa parabéns pela sua resenha que está muito bem construída! Eu sou louca para ler esse livro, acho a história que ele aborda muito interessante, até hoje eu só assisti ao filme e faz muitos anos, outra coisa que quero é assisti-lo novamente, mas só depois da leitura que com certeza irei atrás!

    Beijos

    http://www.oteoremadaleitura.com/

    ResponderExcluir
  8. Olá Kamila tudo bem?

    Ufa que resenha maravilhosa.

    Recentemente adquiri uma obra da literatura japonesa chamada Musashi, que em breve lerei, e lendo a sua resenha comprarei outro livro dessa cultura. Gosto muito de livros que tratam da cultura do país e pelo que me parece esse livro é recheado pela cultura japonesa. Confesso que sou um daqueles que tinha o preconceito em relação as gueixas, afinal, imaginava que elas eram prostitutas, o que não confere conforme você relatou. Os detalhes que diferenciam uma gueixa de uma prostituta é interessantíssimo. Obras assim nos faz pensar por dias. Adorei a resenha.

    Parabéns

    Wilson Brancaglioni
    http://www.estantedowilson.com.br/

    ResponderExcluir
  9. Nossa, que maravilha.
    pra falar a verdade, sempre vejo esse livro mas nunca dou moral pra ele mas sua resenha me encantou.
    bjs.

    @saymybook
    saymybook.blogspot.com

    seu blog tá lindo *-*

    ResponderExcluir
  10. Olha eu já vi esse livro tantas vezes que ele nunca me chamou atenção sabia?
    Eu li sua resenha e achei bastante interessante tudo que você contou sobre a história, mas eu não sei se pegaria esse livro para ler no momento. Acho que mais pra frente talvez. Mas mesmo assim achei interessante a abordagem e acho que a trama deve ser realmente de impressionar o leitor.

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/08/resenha-sugar.html

    ResponderExcluir
  11. Olá ...
    Ultimamente estou vendo muito esse livro ultimamente :)
    A sua resenha me motivou á ler esse livro , juro que tinha um certo receio com "Memorias de uma gueixa " mas , após ter lido alguns fatos fiquei muito interessada na leitura .
    Beijos ...

    http://coisasdediane.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  12. Quero tanto ler esse livro! Sou apaixonada pelo filme, e por falar em filme preciso assisti-lo novamente <3
    Sua resenha ficou bem grandinha, mas ficou ótima!! :D
    Beijos

    ResponderExcluir
  13. Ooi! :)
    Acredita que eu nunca vi o filme? Mas agora que você falou tanto do livro, me deu muita curiosidade e quero ler antes de assistir.
    Já esperei tanto, né? Esperar um pouco mais não tem problema, haha.
    Confesso que ri bastante quando você falou sobre emprestar calcinha, hahaha.
    Que queixas não eram prostitutas eu sabia, mas não o porquê ou as diferenças.
    Gostei.
    Vou procurar para mim um.

    Beijoooos

    www.casosacasoselivros.com

    ResponderExcluir
  14. OI Ka, já ouvi muito falar sobre este livro, mas ainda não li :(
    Eu tinha uma visão distorcida sobre as Gueixas, até o dia em que vi um documentário na Discovery e vi como temos um PRE conceito sem nem almenos conhecermos sobre o assunto. Adorei a resenha, é a primeira vez que vejo sobre este livro.

    Beijos e até mais.
    http://cabinedeleitura1.blogspot.com.br/2015/08/primeira-impressao-dez-coisas-que.html

    ResponderExcluir
  15. Oi! Eu nunca li o livro e nunca vi o filme :(~
    realmente parece ser uma historia incrível e só seu comentário sobre ler sem preconceito ja me deixa curiosa, adoro livros que quebram "barreiras" e nos faz sair da zona de conforto.

    ResponderExcluir
  16. Oii, já li algumas resenhas sobre esse livro e a sua e uma das mais completas haha. Esse livro não me interessou TANTO mais leria sim porque a historia e bem interessante.

    Abraços!
    http://lendocomobiel.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  17. Só vi um filme que tinha uma Gueixa, um da Xuxa, rs. Mas fora isso eu sempre tive vontade de saber mais sobre elas. Não conhecia esse filme, muito menos o livro. Quero ler ou ver, me interessei
    beijos

    ResponderExcluir
  18. Oie,

    Pelo que me lembro já vi esse livro há um tempão, nunca tinha lido resenha dele, fiquei bem curiosa primeiro que eu nunca li nada do universo japonês, e também não sabia que existia filme, vou atrás dele e ver se assisto! Gostei muito da aeua resenha e entendo que qua do gostamks muito de um livro a gente quer falar pra alguém sobre tudo e você resolveu escrever bastante na resenha hahahha.

    Mayla
    Meulivromeutudo.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  19. Oie, tudo bom?
    Apesar de ser uma história conhecida, eu não sabia muito desse livro e sua resenha foi bem esclarecedora. Conhecer uma nova cultura é algo muito válido e achei curioso algumas informações sobre as gueixas. Um livro que pretendo ler um dia.
    Beijos,
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  20. Gostei bastante da sua resenha, porém esse não é muito o tipo de livro que me agrada.

    ResponderExcluir
  21. Olá, tudo bem?

    Eu já tinha conhecimento sobre o filme, mas não conhecia o livro até então.
    Adorei a sua resenha, o livro não é do estilo que leio sempre, mas creio que iria gostar bastante da obra.

    Beijos

    ResponderExcluir
  22. Oii!

    Já li o livro e gostei muuuitoo! Ainda não vi o filme, mas pretendo ver em breve ^^
    Gosto muito da história desse livro e o que a história transmite :)
    Amei a resenha!

    Beijos, Kamila
    www.vicio-de-leitura.com

    ResponderExcluir

Olá!!

Fortaleça este humilde blog, deixe seu comentário e seu link para eu retribuir sua visita!

Se quiser, entre em contato através do email resenhaeoutrascoisas@gmail.com :)